Três décadas dedicadas ao estudo em Educação. Em 2024, o Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa (PPGE-UEPG) celebra trinta anos de atuação na produção de conhecimentos científicos na área do Ensino. Mais que uma conquista para o Programa, a data marca o início do mestrado na UEPG e a forma que são compreendidas a pesquisa e a formação profissional na instituição. Para celebrar o trigésimo aniversário do primeiro programa de pós-graduação stricto sensu da Universidade, professores, estudantes e egressos reuniram-se para o 1º Simpósio do PPGE, que ocorreu entre 09 e 10 de abril, no Centro Integrar do Campus Uvaranas da UEPG.
O PPGE-UEPG foi responsável por criar o primeiro Mestrado da Universidade. Até sua criação, a UEPG não contava com programas de mestrado e doutorado e a pós-graduação era reduzida a poucos cursos de especialização, sendo boa parte na área de Educação. O índice de docentes pós-graduados também era baixo e a maioria detinha apenas título de graduação. Na década de 1990, aumentou a demanda por pós-graduação no Brasil, sobretudo pela exigência para realização de concursos em universidades públicas, inclusive em cursos da UEPG. Esta política de incentivo à pós-graduação, aliada à promoção de cursos de especialização do curso de Pedagogia, desde 1981, foi o pontapé para a criação do PPGE.
Na virada da década, formou-se comissão especial, composta por seis professores vinculados aos cursos de Licenciatura da UEPG, para analisar a viabilidade de implementação do PPGE e elaborar sua primeira grade curricular. A professora Graciete Tozetto Góes, atual diretora administrativa da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) foi uma das fundadoras do Programa. Ela explica que a iniciativa foi possível pois os professores fundadores haviam retornado, há pouco tempo, de suas experiências pessoais em Mestrado e Doutorado em outras universidades e trouxeram a expertise adquirida para a formulação do programa. “O PPGE é importante pelo pioneirismo. A partir do momento que foi instituído, ele estimulou e tornou-se ponto de referência para a implementação de outros programas na UEPG. Não tenho dúvida que o impacto do Programa mudou a forma que a Universidade e seus cursos enxergavam a pesquisa, que até então era limitada”, explica.
A UEPG segue a tradição de outras universidades mundo afora, que iniciaram os investimentos em pós-graduação pela área de Educação. Quem faz esta observação curiosa é o primeiro coordenador do PPGE, professor Ivo José Both, para explicar a demanda que havia na época para a criação do Programa. “Quando pensamos em formação profissional, de qualquer tipo, temos que pensar primeiramente na formação de professores para as demais áreas”, explica. O ex-coordenador abre um sorriso para falar como foram os primeiros anos de funcionamento do PPGE: “não foi fácil, mas trabalhávamos com muita alegria. Não tinha preço ver se concretizar a ideia que construímos para um programa de Mestrado em nossa universidade. A grande chave para sua realização foi o conhecimento que já havíamos adquirido anteriormente, em outras instituições, e na própria UEPG”.
No início dos trabalhos, o Programa contou com apoio de docentes de outras instituições, como a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A professora da UFPR, Maria do Rosário Knechtel, participou da criação do PPGE, a convite da comissão de elaboração do Programa. Aos 92 anos, a docente recorda os desafios enfrentados nos anos iniciais do Mestrado em Educação. “No início nós tínhamos dificuldade, sobretudo para encontrar referências bibliográficas para as aulas teóricas e as pesquisas. O diálogo entre a UEPG e a UFPR foi fundamental, neste começo, e apesar dos desafios, foi muito satisfatório colaborar com este intercâmbio entre as duas universidades”. Ao reencontrar colegas e ex-alunos do PPGE no Simpósio em comemoração ao Programa, a professora observa que o resultado deste trabalho é um Programa de Pós-graduação de qualidade em pleno funcionamento, com alto nível produção de conhecimentos.
A criação do PPGE trouxe mudanças significativas que puderam ser sentidas em toda Universidade e também na região. Para o vice-reitor da UEPG, professor Ivo Mottin Demiate, o início da Pós-graduação stricto sensu foi uma virada de chave para a instituição, que pode observar com seus próprios olhos. “Enquanto o PPGE estava sendo implantado, eu me mudava para São Paulo para fazer meu Mestrado, assim como muitos outros alunos da UEPG. Sou testemunha, enquanto ex-estudante, da transformação promovida pela pesquisa e a pós-graduação, que permitiu a continuidade da formação dos nossos alunos em nossa Universidade e garante a permanência de profissionais especializados em nossa cidade e região”, celebra o vice-reitor.
Números que impressionam
Em seu trigésimo ano de atuação, o PPGE-UEPG atingiu resultados impressionantes: formou 398 mestres e 117 doutores. Os 456 egressos atuam em diferentes segmentos da área de Ensino, sendo que muitos regressaram à instituição como docentes. Dos 29 professores que compõem o quadro do Programa, nove são suas egressas. O PPGE é composto por vinte Grupos de Pesquisa, norteados pelas linhas de formação “Ensino e Aprendizagem” e “História e Políticas Educacionais”. O Programa detém excelentes pontuações na Avaliação Capes de Pós-graduação, com Conceito 5, desde 2013, e em sua revista científica, Práxis Educativa, considerada Nível A1 (nota máxima). Pela revista são publicados mais de cem artigos científicos anualmente, produzidos pelos pesquisadores do PPGE e de universidades de todo o mundo, fruto da alta internacionalização promovida pelo Programa.
“O perfil da produção científica no PPGE é ampla e muda constantemente. Isso é reflexo da diversidade de pesquisadores em nosso Programa. Temos alunos de diferentes faixas etárias e experiências profissionais. Também contamos com vários alunos internacionais. As pesquisas se ajustam ao tempo e às novas tecnologias e se adaptam à novas temáticas, como questões de gênero, etnia, questões éticas e tantas outras”, destaca o professor e ex-coordenador do PPGE, Jefferson Mainardes. Ele reforça que os índices positivos que o PPGE apresenta são possíveis graças à trajetória do conhecimento, que inicia antes da fundação do Programa.
1º Simpósio do PPGE
Professores, estudantes e egressos do Programa de Pós-graduação da Universidade Estadual de Ponta Grossa (PPGE UEPG) participaram, entre 9 e 10 de abril, do primeiro Simpósio para celebrar o marco de trinta anos do Programa. O evento contou com lançamento de livros, mesas de debates e palestras com a temática da Educação e promoveu o reencontro de diferentes gerações de professores e estudantes que marcaram a trajetória do Programa que mudou completamente o funcionamento da Universidade.
Mais do que celebrar o aniversário e a trajetória do PPGE, o objetivo do evento foi pensar estratégias para o futuro do Programa e dar visibilidade ao trabalho de pesquisa desenvolvido por ele. “Pelo encontro de vivências dos alunos e egressos, com a participação de convidados que são referência na área, buscamos criar um espaço amplo de debate sobre o que o PPGE representa. Identificamos que este é um caminho para continuar crescendo e estimulando todos a se sentirem pertencentes a este Programa”, explica a coordenadora do PPGE e uma das organizadoras do evento, professora Simone Regina Cartaxo. Ela ressalta que o Programa busca estimular a mobilização constante daqueles que passaram pelo curso, para auxiliar em sua construção coletiva.
Na cerimônia de abertura do Simpósio, os presentes ressaltaram a importância histórica do Programa e seu legado para a Universidade. Para o reitor da UEPG, professor Miguel Sanches Neto, o trabalho do Programa foi a “sementeira” para outros programas de pós-graduação stricto senso da universidade surgissem. “O PPGE ao mesmo tempo mostrou a necessidade e foi a solução para a demanda por qualificação dos nossos professores. O Programa fez a UEPG crescer num período muito curto, afinal 30 anos é recente quando se fala em educação e as transformações que ela promove”. O reitor ainda destaca a evolução do PPGE, que começou com a proposta de interiorizar a produção científica e hoje é internacionalmente referenciado.
Prova deste alto investimento em internacionalização é a presença de alunos de outros países, como é o caso da moçambicana Felismina João Baptista Vantitia. Ela discursou na abertura do Simpósio, em nome dos alunos e agradeceu a todos que participaram da criação e desenvolvimento do Programa e proporcionam, ao longo de 30 anos, conhecimento político com visões para interpretar a sociedade e o Mundo. “Obrigada a todos que tornam essa troca de conhecimentos possível. Há um provérbio que diz: se quer chegar rápido, vá sozinho. Se quer chegar longe vá em grupo”, relata a estudante em meio à emoção.
“Precisamos de gente que promova justiça, e, com certeza, o PPGE proporciona isso. Todos que optam por esse caminho tem o respeito da instituição, pois são faróis que guiam a sociedade”, exalta o pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação da UEPG, professor Renê Francisco Hellman. Ele destaca que a realização deste evento é significativa porque marca o início do desenvolvimento da pesquisa na Universidade. “Vida longa à pesquisa de qualidade”.
Para a professora do PPGE e uma das organizadoras do Simpósio, Daiana Camargo, o reencontro promovido pelo evento também atuou como um espaço para a divulgação das pesquisas realizadas no Programa. Ela ressalta a importância de dar visibilidade às diferentes temáticas e grupos de pesquisa, com estudos importantes na área da Educação. “Ainda estou emocionada com o encontro. Vejo a riqueza de estar com pessoas que contribuíram em diferentes fases de constituição do PPGE. O brilho nos olhos de quem esteve presente desde a construção desta ideia, como a professora Maria do Rosário, nos encoraja a seguir”, relata a professora em alegria.
Texto: Gabriel Miguel | Fotos: Gabriel Miguel e Arquivo pessoal