Sebisa-UEPG completa 50 anos de história

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Corredores labirínticos, laboratórios multiusuários, clínicas, banners em todas as paredes e muita aula prática, ciência e pesquisa. Assim o Setor de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) entra para mais uma etapa da sua história. Nesta quinta-feira (14), o Sebisa comemorou 50 anos de existência. Dentre mudanças de local para aulas, vinda de novos cursos de graduação e pós-graduação, o sentimento permanece o mesmo, desde o início, em 1973: a vocação por formar profissionais aptos a atender toda a comunidade.

O Sebisa herdou uma história de sucesso quando a UEPG surgiu, em 1969. Os primeiros cursos do setor eram fruto das Faculdades Estaduais de Farmácia e Odontologia; Farmácia e Bioquímica; e Odontologia, fundadas na década de 1940 – as primeiras a serem formadas no interior do Paraná. Todos as graduações aconteciam no Campus Centro, casa das Faculdades Isoladas antes da UEPG nascer. Hoje com dois locais próprios no Campus Uvaranas (Blocos M e G), o Sebisa fornece uma experiência única para quem passa pelos corredores: banners de artigos e pesquisas produzidas por alunos com um grande círculo escrito “publicado”; há os laboratórios específicos, como os de zoologia e os de anatomia; diversas salas recheadas de microscópios e exemplares botânicos; uma coleção de entradas e saídas, nas quais sempre é possível encontrar um grupo de alunos de jaleco ou máscara, outros carregando frascos de vidro etiquetados, livros, resumos e anotações, como se fossem verdadeiras preciosidades – e de fato são.

Segundo o diretor do Sebisa, professor Julio Miné, o reconhecimento do setor se dá por uma série de fatores: o alicerce construído por seus 9 departamentos, o sucesso dos cursos voltados para as áreas de Ciências Biológicas e da Saúde, o retorno para a comunidade proporcionado pelos projetos desenvolvidos ali e pela gestão, ao longo dos anos, de todos os diretores e responsáveis que vieram antes dele. “Acredito que cada uma dessas pessoas deixou a sua característica as suas contribuições para o setor, isso não pode ser esquecido”.

Nascido com o reconhecimento do Conselho Federal de Educação, em 07 de novembro de 1973, o Sebisa iniciou ao lado de outros dois setores de conhecimento da UEPG: Letras e Ciências Humanas; e Ciências Exatas e Naturais. À época, o Sebisa tinha os departamentos de Ciências Morfológicas, Biologia Geral, Ciências Fisiológicas, Ciências Patológicas, Ciências Odontológicas, Ciências Farmacêuticas e Análises Clínicas. Atualmente, são 284 professores efetivos e colaboradores, 1598 acadêmicos matriculados nos cursos de graduação presencial, 190 discentes dos programas de pós-graduação e mais de 50 servidores técnicos e administrativos.

Um setor e dois blocos

O professor Gonçalo Cassins Moreira, diretor adjunto do Sebisa, explica que muitas pessoas acabam conhecendo a UEPG por meio dessas ações que acontecem não só dentro do Campus, mas também fora dele. “A gente sempre procura desenvolver ações, seja nos terminais, nos locais de grande circulação, para mostrar um pouco do que os cursos fazem, do que é desenvolvido aqui, para que o público em geral entenda a importância que a Universidade tem na comunidade. Por incrível que pareça, ainda existem pessoas que acham que a UEPG é paga”.

Já consolidado como o maior setor da UEPG, ele é formado por 10 cursos de graduação nas modalidades presencial e a distância, 7 de pós-graduação (Mestrado e Doutorado), além dos órgãos suplementares que desenvolvem atividades importantes de prestação de serviços junto à comunidade acadêmica e a comunidade externa: a Farmácia Escola Professor Horácio Droppa, o Laboratório de Análises Clínicas (Luac), o Laboratório de Produção de Medicamentos (Lapmed), e o Núcleo Avançado de Estudos da Vida (Naevi). Do outro lado do campus, no Bloco G, há uma coleção de ginásios e aparelhos, pista de atletismo, salas de dança e ambulatórios de recuperação – estrutura que não está somente à disposição dos alunos, mas sempre recheada de visitantes que participam das diversas atividades oferecidas para a comunidade externa.

Não são só os estudantes que caminham pelos corredores com os olhos brilhantes. Da mesma maneira, do alto de seus 50 anos de vida, o Sebisa abriga funcionários que estão presentes desde os primeiros dias do setor e que também olham com admiração e orgulho para o campus Uvaranas.

Ligação íntima com a história

De março de 1976 até hoje, não houve um dia em que os corredores do Sebisa não receberam João Carlos Gomes. O filho prodígio da UEPG contribuiu para a evolução da instituição, desde a sua época de aluno, nos corredores do Campus Centro. Na década de 1970, o Setor de Saúde, como ainda era conhecido, tinha apenas os cursos de Odontologia, Farmácia e Ciências Biológicas. O Bloco A recebia os alunos desses cursos, mais os de Licenciatura, Direito e Engenharias – todos conciliavam o mesmo espaço para as aulas.

“A primeira clínica de Odontologia era logo na entrada e a outra no lado direito. Do lado esquerdo, eram as salas de Biologia e Farmácia. Tudo ali no Campus Centro. No segundo e terceiro pavimentos aconteciam as aulas teóricas”, relembra João Carlos. Dividir o mesmo espaço com colegas de outros cursos foi um momento ímpar na vida do docente. “Por ser uma uma estrutura menor, nós tínhamos muito convívio entre os alunos. As salas ainda tinham que comportar três ou quatro turmas, quando uma saía, outra entrava para uma nova aula. Era uma união muito grande por sempre habitarmos o mesmo corredor” , recorda.

As turmas grandes, com cerca de 70 alunos cada, demandavam mais espaço para aprendizado. Foi em dezembro de 1989, quando João Carlos já era professor e diretor do Setor, que a expansão aconteceu e a novidade chegou: era o momento de mudança dos cursos do Sebisa para um novo prédio. Seria uma nova vida, do Centro para Uvaranas, onde hoje é o Bloco M. “Quando mudamos, faltava muita coisa ainda, algumas salas ainda não tinham sido concluídas e faltava piso em alguns espaços”, conta. “Era natural que houvesse uma resistência por parte do corpo docente. Na época, só tinham os blocos de Agronomia, Engenharia, a pista de atletismo e a piscina. Aqui era muito distante da cidade, com pouca estrutura, e eu acho que os professores não acreditavam de fato que iríamos nos mudar, porque no Bloco M ainda não estava todo terminado”, explica.

Mas a mudança teve que acontecer. João Carlos contou com a ajuda de caminhões do exército, mais 30 soldados cedidos pelo 13º Batalhão e ligou para cada um dos professores, pedindo que todos esvaziassem seus armários para a mudança. “Só assim eles acreditaram que nós iríamos nos mudar. Foi uma força tarefa, cada um levando caixas e montando as coisas, contamos muito com a ajuda de professores, alunos e funcionários”. A cada ano, o Bloco M, que no início só tinha um terço de suas obras concluídas, foi ficando completo. A obra, que iniciou em 1987, ficou pronta rapidamente, porque toda a gestão dos recursos e de pessoal foi feita pela Prefeitura do Campus. Cerca de 430 pessoas contratadas trabalharam na construção do prédio – destas, a maioria permaneceu na instituição, após um concurso público realizado em 1992. “Por causa desta obra, o Sebisa contribuiu para que triplicássemos o número de funcionários”.

A mudança para um novo prédio foi apenas um dos vários momentos marcantes do setor. O professor consegue enumerar outros momentos: a vinda do curso de Educação Física; a implantação do curso de Enfermagem, em 2006; e a aguardada chegada do curso de Medicina à UEPG, em 2009. “Diria que o fato do curso de Medicina ser implantado se deu pelo acontecimento da construção de um Hospital no nosso Campus. Isso foi muito importante para a Saúde, pois havia discussões sobre onde ele seria construído”, conta João.

Depois de negociações, desde 2002, quando o curso havia sido interrompido, João foi até Curitiba com uma comitiva da UEPG para conversar com o então Governador Roberto Requião. “Me reuni com ele e disse ‘nós estamos construindo um Hospital dentro do nosso Campus, por que o senhor agora não autoriza a abertura do curso de Medicina?'”, sugeriu.

A vocação pela extensão

Extensão anda de mãos dadas com eles. Desde as primeiras atividades no Centro Rural de Treinamento e Ação Comunitária (Crutac), em Itaiacoca, até os dias de hoje, os cursos do setor são ativos no atendimento à comunidade. João Carlos sabe bem disso. “Em dezembro, fim de ano, estamos aqui nas clínicas de Odonto atendendo as pessoas. Então eu vejo que a característica que mais se sobressai no Sebisa é essa ligação com a comunidade”, completa. A vocação pela extensão se reflete em números. No último ano, foram 156 propostas extensionistas: 2 programas, 7 cursos de extensão, 29 prestações de serviço, 51 eventos e 69 projetos de extensão, que envolveram 116 docentes, 1649 discentes e atingiram cerca de 52160 pessoas da comunidade de Ponta Grossa e de outros municípios.

A mesma característica é ressaltada por Fabiana Postiglione Mansani, primeira diretora mulher do Setor, entre 2014 e 2022. Fabiana destaca a importância do modelo de prestação de serviços na área da saúde. “Quando tivemos uma mudança no município na área da saúde, aliada à expansão dos cursos na instituição, foi muito mais fácil realizar projetos com a comunidade, o que nos fortaleceu”, conta. Atualmente, os alunos dos cursos do Sebisa não atendem somente no Crutac – eles estão em projetos contínuos em Unidades de Saúde, Hospital Universitário, além de iniciativas com a população no Terminal Central, Calçadão e praças. “Eu tenho certeza do potencial enorme dos cursos da área da saúde”, ressalta Mansani.

Ser diretora de Setor faz com que os professores tivessem contato mais próximo com a área administrativa. “Foi um divisor de águas na minha vida, porque apesar de eu transitar por todos os cursos, acabamos conhecendo como a Universidade funciona, com uma proposta de integração”, conta ela. Unir os cursos fez com que surgissem novas tradições, como a cerimônia do jaleco, Fórum Sebisa e outros momentos de integração. “Nós tínhamos como missão fazer com que os professores, alunos e servidores entendessem que eles tinham um setor inteiro para que pudessem trabalhar juntos”. Ter uma mulher à frente pela primeira vez trouxe um olhar mais atencioso aos estudantes, segundo Fabiana. “Nos voltamos para a questão da saúde mental dos estudantes, promovendo acolhidas aos calouros, então acho que o protagonismo da mulher está crescendo cada vez mais, junto com os professores”.

Professor decano

Outra presença marcante nos corredores do M é Ricardo Almeida – o professor mais antigo da UEPG ainda em atividade. Os olhos observadores de Ricardo encontraram a instituição pela primeira vez ainda nos anos 1970 e seguem sendo carinhosos com o seu crescimento e consolidação. Formado em Ciências Biológicas pela UEPG em 1974, o docente tem em seu currículo, além da paixão pelos invertebrados, um amor profundo por aquilo que ele diz ter o dom desde que nasceu: a docência.

“Comecei a ministrar minhas aulas da Biologia lá no Centro”, conta. A rotina no início envolvia chegar na UEPG de ônibus, com uma caixa cheia. “Trazia todos os meus bichinhos dentro desses vidros, né? Foi bem trabalhoso”, recorda. As aulas envolviam explicações por meio do retroprojetor. “A gente fazia aulas práticas em campo mesmo, saíamos para fazer coletas de insetos, até mesmo dentro aqui do Campus Uvaranas, quando nos mudamos pra cá”. Com a chegada da tecnologia, os hábitos antigos foram ficando para trás, com aulas mais centradas nos laboratórios e salas de aula.

Ricardo se diz feliz com o que exerce. Mas a modéstia acaba quando perguntado sobre o que ama fazer: “eu amo ser professor, amo estar em sala de aula, gosto muito de brincar com os alunos, sempre tento deixar o ensino mais leve, com muita risada e rock’n’roll“. Ele recorda quando teve a mudança do Campus Centro para o de Uvaranas. “Eu lembro da gente vir cheio de caixas e olhar pra todo o espaço. A gente não chamava aqui de Campus, mas de Matos, né?”, gargalha.

Hoje a vida na UEPG é uma “coisa maravilhosa”, nas palavras do decano. “Eu vejo os laboratórios e lembro que não havia estrutura para o curso. Toda a melhoria feita foi pensando nos alunos e realmente é algo que eu só posso agradecer. É uma fortuna, uma honra participar disso. Nossa, é muito legal ser professor, show de bola”, sorri. Ao mostrar orgulhoso a coleção de invertebrados do Laboratório 73 do Bloco M, Ricardo lembra que muitos foram colhidos por ele próprio, outros, com ajuda de alunos. “Tá vendo essa estufa aqui? Não usamos em Biologia, mas é que no início nós dividíamos o Bloco com o curso de Química, que é da área de Exatas”, informa.

A informação dada por Ricardo rememora o que representa a Universidade, um espaço multiusuário. O M foi casa de cursos que mais tarde teriam seus próprios blocos e laboratórios. “É bem perceptível o nosso crescimento e a valorização dos cursos de graduação e pós-graduação, e eu vejo que isso tende a crescer cada vez mais, dentro e fora da nossa instituição”. Não existia uma pergunta em que Ricardo ficasse sem ressaltar o amor por ser professor. Questionado sobre a sua rotina, ele enche de brilho nos olhos: “a principal hora do meu dia, que me enche de amor, é ir lá na sala 73 e lecionar a zoologia dos invertebrados, porque eu sempre olho e dá um orgulho de ter ajudado a construir tudo isso”, finaliza.

: Bloco M em 1990

: Bloco M em 1992

: Primeiras medições da pista de atletismo

Direção por oito anos

Flávio Kalinowski é uma daquelas figuras do Sebisa que viveu tudo o que a Universidade oferece, desde a docência até a cargos de chefia. Professor com mais tempo na direção do setor (de 1998 a 2014), seja como principal ou adjunto, uma das lembranças mais felizes que tem é de quando ainda era aluno de Licenciatura em Educação Física. Na época de calouro, em 1973, ele convivia com seus contemporâneos, João Carlos e Ricardo, e os encontrava nos corredores. O curso à época pertencia ao setor de Letras e Ciências Humanas, com aulas teóricas no Bloco B e práticas e vários locais da cidade. Somente em 1977, a graduação passou a fazer parte do Sebisa. “O curso ainda não tinha magnitude que nós temos hoje, nós estudávamos todos na área Central e nos deslocávamos para as várias atividades práticas pela cidade, a gente se desdobrava como podia”, conta.

Com a chegada da piscina e pista de atletismo em Uvaranas, no início dos anos 1980, o curso aproveitou a oportunidade para estabelecer seu departamento e algumas aulas na parte térrea do prédio da piscina. Pela carga extensa de atividades práticas, muitos alunos se formavam e já entravam na área de docência – caso que aconteceu com Kalinowski. Em 1977, ele já era professor da UEPG. “Nós éramos aproveitados como instrutores, e depois desse cargo eu logo fui contratado como efetivo e vi o Bloco G nascer”. A área em que acontecem as aulas de educação física, em Uvaranas, foi construída em paralelo com o Bloco M, com a mesma verba. “O reitor da época destinou uma porcentagem para a construção do G, então foi uma grande vitória”.

Para Flávio, o sentimento que fica é de gratidão por testemunhar o crescimento do setor e o senso de responsabilidade e ética cada vez mais aflorado entre a comunidade universitária. “Vejo que hoje existe uma gestão e um senso de coletividade muito justos, que sabem como investir seus esforços, então sem dúvidas o Sebisa e toda a instituição têm muito a crescer ainda por este caminho”.

Futuro

Para o futuro do setor, o professor Gonçalo projeta ainda mais sucesso. “Eu espero que a gente cresça, que tenhamos mais cursos, continuando sempre com a qualidade que a gente tem e de forma gratuita”. Fabiana Mansani deseja que o Setor avance nas conquistas e que as mulheres estejam sempre presentes nelas. “O protagonismo da mulher está crescendo cada vez mais e não pode parar. E há professoras que fazem ciência e que são fantásticas“. Para a atual dupla da direção do Sebisa, este é um momento para agradecer e vislumbrar ainda mais sucesso. “O Sebisa tem muitas pessoas que fizeram parte da história, que construíram este alicerce. Cada um que esteve aqui não pode se esquecido”, diz Julio Miné, que complementa: “é preciso continuar a pensar no setor, mas não deixar de considerar a universidade como um todo”. O professor Gonçalo prevê cada vez mais responsabilidades. “Se não fosse o trabalho de tantos outros que estiveram aqui ao longo do tempo, o setor não seria o mesmo. Espero que os que vierem depois de nós possam fazer ainda mais”, completa.