São necessários entre 14 a 21 dias, em média, após a segunda dose da vacina contra Covid-19 para que uma resposta imune adequada seja obtida. Este é o alerta da professora, especialista em Microbiologia e Imunologia, Elisângela Gueiber Montes, doutora em Ciências Farmacêuticas.
Nesta entrevista, a professora e porta-voz da Universidade Estadual de Ponta Grossa na campanha #TodosPelaVacina, que reúne instituições de ensino superior do Paraná, Fundação Araucária e Superintendência de Ensino Superior, Ciência e Tecnologia, aborda dúvidas mais recorrentes sobre a segunda dose do imunizante.
Por que não perder a segunda dose importante no processo de imunização?
Está claro entre a comunidade científica que o caminho para o controle da pandemia de Covid-19 depende da vacinação. Além dos problemas de disponibilidade de vacinas e pertinentes a campanha de imunização, ainda temos outros desafios para atingirmos o objetivo final. Recentemente observou-se que um deles é abandono da aplicação da segunda dose, sendo que essa ausência pode ter relação com eventuais dúvidas quanto ao intervalo entre as doses dos diferentes imunizantes administrados no país, bem como incerteza da real necessidade deste reforço.
Para evitar problemas referentes aos intervalos entre as doses, é muito importante que a população fique atenção às informações prescritas pelos fabricantes e as datas agendadas na carteira de vacinação, anunciadas pelos órgãos de saúde pública de cada município. Desta forma, vale ressaltar que a vacina Coronavac pode ser administrada com o intervalo entre as duas doses de 14 a 28 dias, sendo que um estudo recente aponta maior eficácia com intervalo superior a 21 dias. Da mesma forma, a segunda dose das vacinas produzidas em parceria entre a Universidade de Oxford e a AstraZeneca, bem como a vacina das empresas Pfizer/ Biontech tem um intervalo recomendado entre as doses, que pode ser de até 12 semanas.
O que ocorre com o não recebimento da segunda dose?
Caso o indivíduo deixe de receber a segunda dose da vacina, pode não adquirir imunidade contra a Covid-19 e consequentemente, vir a desenvolver a doença. Isso se deve ao fato de que o esquema dos imunizantes contra a Covid-19, que já foram aprovados e estão sendo desenvolvidos no Brasil, é de duas doses. Dessa forma, de acordo com os estudos divulgados, a eficácia só será refletida após as pessoas tomarem a segunda dose da vacina.
Para chegar às conclusões de como deverá ser realizado o esquema vacinal, é estabelecida durante o estudo, durante o desenvolvimento da vacina, a definição da utilização de uma ou mais doses. Além disso, é avaliado cuidadosamente pelos cientistas, qual o melhor tempo de espera entre cada aplicação e qual será o período necessário para a imunização adequada.
É, portanto, necessário levar em conta que para chegar ao melhor resultado, os protocolos vão sendo testados com as doses, avaliando diferentes intervalos entre ela, para chegar ao melhor resultado, tanto na produção de anticorpos, como de células, necessários para combater a possível infecção. Desta forma, se a pessoa não receber a segunda dose, é possível que a quantidade de anticorpos venha a diminuir de forma significativa e ele venha a desenvolver futuramente a forma grave da doença, correndo até mesmo e risco de morte.
Outro erro grave é pensar que, após receber a vacina ou mesmo após completar todo o esquema com as duas doses, imunização aconteça de forma imediata. Um exemplo negativo, quanto à essa questão, é o relaxamento dos indivíduos dos grupos já vacinados em relação às medidas restritivas, após a aplicação da primeira dose. Tal desrespeito pode levar a um aumento no número de internações e de óbitos.
Quem já teve Covid precisa tomar a vacina?
Sim. Mesmo quem já foi infectado deve tomar a vacina contra o coronavírus, mas existe um tempo certo.
Neste caso, quando então se deve tomar a vacina?
Nas situações de pessoas que tiveram Covid antes da primeira dose ou no intervalo entre as doses, é recomendado aguardar 30 dias para receber o imunizante. Este prazo deve ser contado após o primeiro dia de sintoma, segundo indicação do Ministério da Saúde e também da bula das vacinas. Essa precaução se faz necessária por se tratar de um vírus novo, pois nesse caso, se o indivíduo acabar vacinando-se antes desse período e vier a ter alguma reação, haverá dificuldade em diferenciar se a causa seria pela doença ou pela vacina.
O fato de ter desenvolvido a doença não garante imunidade?
Um indivíduo pode desenvolver imunidade após ser infectado por um vírus ou por receber uma vacina, mas esta proteção nem sempre é igual. A intensidade da resposta imune e a persistência deste efeito, podem ser muito diferentes entre as pessoas. Outro ponto importante é a diferença entre a imunidade à vacina e a imunidade natural pelo Sars-CoV-2. Baseado em vários estudos científicos, sabe-se que as vacinas contra Covid-19 oferecem imunidade mais segura e confiável do que a infecção natural.
Esta afirmação, da necessidade de indivíduos que já tiveram Covid receberem a vacina contra a doença, tem se mostrado cada vez mais evidente no cenário atual da pandemia, onde podemos ver inúmeros casos de reinfecção (quando alguém se infecta mais de uma vez) pelo SARS-CoV-2, principalmente pelas novas variantes em circulação.
Sendo assim, é muito importante que todos que todos os indivíduos que estão entre os grupos prioritários da vacinação sigam corretamente as orientações de datas e prazos entre as doses, tanto os que já tiveram, quanto os que não tiveram a doença.
Enquanto isso e até que tenhamos uma grande parcela da população vacinada, continuam valendo as medidas de prevenção para vacinados e não vacinados: uso de máscaras, distanciamento social e lavagem das mãos.
Esta entrevista faz parte de uma campanha de conscientização sobre a vacinação contra a Covid-19, idealizada pela Fundação Araucária. A UEPG integra a campanha junto com a Superintendência de Ensino Superior, Ciência e Tecnologia, a Universidade Estadual de Maringá, a Universidade Estadual de Londrina, a Universidade Estadual do Centro-Oeste, a Universidade Estadual do Norte do Paraná, a Universidade Estadual do Paraná, a Universidade Federal do Paraná, a Universidade Tecnológica Federal do Paraná, a Universidade Federal da Fronteira Sul, a Universidade da Integração Latino-Americana, o Instituto Federal do Paraná, a Fundação de Apoio da Universidade Federal do Paraná e a Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
Montes é doutora em Ciências Farmacêuticas, mestre em Ciências Biológicas, especialista em Microbiologia e Imunologia e graduada em Farmácia-bioquímica pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). É professora na instituição desde 2010, onde leciona, entre outras, as disciplinas de Imunologia, Imunologia Clínica e Microbiologia Clínica.
Foto da capa: Luciane Navarro