O Laboratório Universitário de Análises Clínicas da Universidade Estadual de Ponta Grossa (Luac-UEPG) identificou transmissão comunitária da variante Delta em Ponta Grossa. O dado faz parte da pesquisa sobre variantes da Sars-CoV-2 em pacientes do Hospital Universitário (HU-UEPG). No total, o Laboratório pretende analisar 300 amostras de indivíduos positivados para Covid-19, para identificar quais pacientes se infectaram com a variante Gama (P1 brasileira) e Delta (Índia), como estratégia de controle da pandemia.
A equipe iniciou os testes em julho para identificar a variante Gama (P1) e, a partir da última quarta-feira (22), recebeu os kits para identificação da variante Delta, que testou as amostras coletadas entre os dias 3 e 31 de agosto. O resultado mostrou que, de 42 amostras testadas, 34 foram Delta e 8 Gama. “Isso demonstra uma transmissão comunitária na cidade. Para as amostras coletadas até dia 13 de agosto, ainda tínhamos a predominância da variante Gama, mas nas amostras coletadas a partir de 13 de agosto, apenas duas foram Gama e 29 foram a Delta”, explica o coordenador da pesquisa, Marcelo Vicari.
Nas próximas semanas, a equipe irá testar amostras coletadas antes de 3 de agosto, para identificar os primeiros casos com a variante Delta em circulação na cidade. Para realizar o inquérito molecular das variantes, a equipe emprega a estratégia chamada ‘PCR em tempo real – diagnóstico de polimorfismo de um único nucleotídeo’, em que são utilizadas sondas com componentes fluorescentes e específicos para mutações presentes em cada variante. A reação amplifica em tempo real e detecta a presença da variante, assim a fluorescência produzida na amostra é detectada pelo sistema. O material é específico para identificar mutações presentes em cada linhagem.
“A variante Delta possui mutações no gene da espícula (Gene S), que são diferentes daquelas presentes na variante Gama”, explica Marcelo. A pesquisa identifica duas mutações da variante Delta, que são denominadas L452R e P681R. Para a variante Gama, a equipe identifica a mutação E484K. “A Delta é mais transmissível e deve estar relacionada com esse aumento recente no número de casos na cidade, como já foi registrado em outros grandes centros do Brasil”, finaliza Marcelo.
Transmissibilidade
Gabriela Margraf Gehring, médica infectologista do Hospital Universitário, explica que o monitoramento das variantes possibilita o controle epidemiológico da região. “Conseguimos saber se essas variantes estão causando reinfecção ou se estão conseguindo driblar a imunidade pós-vacina, então saber qual variante está predominante é essencial para o controle do estudo da doença”, salienta. A médica ainda enfatiza que a Delta não será passageira, mas que será a variante predominante. O boletim de ocupação do Hospital, divulgado ontem (28), aponta que a maioria dos leitos destinados ao tratamento da Covid estão ocupados – 73% na Clínica Covid e 64% na UTI Covid. “A Delta é mais transmissível, então podemos associar o novo aumento de casos à nova variante”, completa.
A pesquisa do Luac acontece de acordo com o divulgado no último Boletim Genômico do Coronavírus, que já havia apontado a presença da variante Delta em Ponta Grossa. Para o secretário municipal de saúde, Rodrigo Manjabosco, saber qual é a variante circulante é indispensável para planejar como será o enfrentamento do vírus. “A P1 traz uma preocupação em relação a leitos, então é importante verificar se os pacientes estão adoecendo de forma grave e planejar a disponibilidade de leitos que nós temos na região”. Segundo o secretário, a variante Delta contamina muito rapidamente. “Temos que tomar cuidado e observar a porta dos serviços de urgência e emergência, então o mapeamento das variantes nos dá o indício sobre as medidas de controle tomadas”, explica.
Equipe
A pesquisa é financiada pelo Poder Judiciário e Ministério Público de Ponta Grossa, que colaborou com R$ 15 mil, além de mais R$ 15 mil investidos pela própria UEPG. O projeto tem aprovação do comitê científico do HU e da Comissão de Ética em Pesquisa da UEPG. Giovani Marino Fávero, pró-reitor de pesquisa e pós-graduação da UEPG, ressalta que a investigação das variantes pode ampliar a segurança epidemiológica e direcionar ações do sistema de Saúde Público. “Identificando as linhagens do novo Coronavírus com mais rapidez, poderemos dar suporte de informações a instâncias de controle pandêmico”, destaca. Giovani ainda salienta o caráter científico do projeto, com formação de recursos humanos e trabalhos publicados. “O que justifica todo o investimento da Reitoria da UEPG na construção de um laboratório moderno e de alta capacidade diagnóstica em Biologia Molecular voltada a Análises Clínicas”, finaliza.
Estão envolvidos no projeto, além de Marcelo Ricardo Vicari, Giovani Marino Fávero (pesquisador); Marcos Pileggi (pesquisador); Bruno Ribeiro Cruz (pesquisador); Mackelly Simionato (pesquisadora); Larissa Glugoski (bolsista); Laís Karas (bolsista); Fernanda Miléo (bolsista), Lourdes Zeballos Lopez (bolsista), Ana Luiza Augustinho (residente de clínica médica); além de técnicos e funcionários do Laboratório Universitário de Análises Clínicas da UEPG.
Texto e foto: Jéssica Natal