O Centro Acadêmico Indígena (CAI) e o Coletivo de Estudos e Ações Indígenas (CEAI), em parceria com a Pró-reitoria de Assuntos Estudantis da Universidade Estadual de Ponta Grossa (Prae-UEPG), criaram cartilhas bilíngues de conscientização sobre saúde. O evento de lançamento celebrou o Dia dos Povos Indígenas, comemorado ontem (19).
Para a pró-reitora de Assuntos Estudantis, Ione Jovino, o evento simboliza a inserção dos acadêmicos indígenas na Universidade. “O evento foi pensado por eles e isso é fruto do que eles têm feito”, reflete. “Tudo isso também faz parte de uma política linguística que a Prae ajuda a estabelecer, de inserir as línguas kaingang e guarani na linguagem institucional”, completa.
O material das cartilhas é resultado de trabalhos de conclusão de curso, projetos de extensão e pesquisas de iniciação científica das áreas de saúde e têm como objetivo a prevenção de doenças. Os textos estão em português e kaingang. “Posteriormente, as cartilhas serão impressas e distribuídas nas comunidades indígenas”, detalha a professora Letícia Fraga, membro do CEAI e da Comissão Universidade para o Índio (CUIA).
No lançamento, os acadêmicos também comemoraram o Dia dos Povos Indígenas ao rebatizar o “Espaço do Acadêmico Indígena” para “Centro Acadêmico Indígena”. Os estudantes redecoraram uma das paredes do espaço.
As cartilhas
Como projeto de extensão e parte do seu trabalho de conclusão de curso em Medicina, Bruna Paliano desenvolveu uma cartilha direcionada para crianças, com as medidas básicas de prevenção de enteroparasitoses de grande incidência nas comunidades indígenas. “É uma forma de contribuir com as comunidades indígenas, a população em geral e a comunidade acadêmica entender qual o real objetivo da presença indígena na universidade, sempre valorizando cada vez mais a linguagem e cultura kaingang”, pensa.
A cartilha possui textos em kaingang e português. Partes das traduções foram feitas pela professora de kaingang Rosângela Vankam Inácio, mãe de Bruna Paliano. “Colaboro com estudantes indígenas da UEPG em traduções, nos TCCs. […] E como eles aprendem comigo, eu também aprendo com eles”, pontua Rosângela.
Em seu TCC, Fátima Lucas, formada em Enfermagem, desenvolveu uma cartilha que aborda a prevenção de doenças crônicas não-transmissíveis, como diabetes, hipertensão e colesterol alto, entre idosos. “Alguns dos mais velhos não sabem ler, nem português nem kaingang. Com as duas línguas, os netos poderiam ler e explicar para os familiares na língua que for melhor”, explica Fátima.
Já a cartilha desenvolvida por Renato Pereira, formado em Odontologia, orienta crianças sobre a importância do acompanhamento odontológico e do cuidado bucal. “Foi um projeto de iniciação científica, em que fizemos estudos focados nas doenças bucais mais comuns entre a população indígena”, explica. Também bilíngue, a cartilha utiliza de histórias em quadrinhos para orientar o público. “A ideia é distribuir a cartilha em escolas indígenas”, complementa.
Texto: William Clarindo | Fotos: Fabio Ansolin