Um grupo de oito estudantes e dois professores da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) viajou até o município de Calçoene, no estado do Amapá, região norte do país, para uma experiência transformadora. Esta edição do Projeto Rondon, nomeada Operação Amapá, foi uma imersão singular em uma comunidade carente do Brasil, a fim de contribuir com lideranças comunitárias e com a população local para o desenvolvimento sustentável, a educação popular e promoção da cidadania.
Na volta para a casa, o grupo trouxe na bagagem novas percepções de mundo que vão enriquecer a vida pessoal e profissional. O Rondon é um importante e tradicional projeto de extensão universitária, coordenado pelo Ministério da Defesa, e que foi retomado após dois anos de restrições devido à pandemia de Covid-19.
A expedição da UEPG teve a coordenação da professora Marilisa do Rocio Oliveira, do Departamento de Administração, e do professor Silvio Luiz Rutz da Silva, do Departamento de Física. Dos 200 inscritos, participaram os estudantes Ana Paula Gonçalves de Meira (Geografia), Bianca Dornelles Mello (Letras), Bruna Suelen de Camargo de Souza (Serviço Social), Leonardo Ribeiro Duarte (Jornalismo), Mariana Lacerda Marques (Turismo), Matheus Gelinski (Agronomia), Nayara Darabas Basegio (Direito) e Thais Borges (Administração).
“O Rondon é um elemento muito importante para valorizar o currículo acadêmico. A UEPG consegue formar profissionais nas mais distintas áreas com uma competência técnica elevada e essa formação permitiu aos estudantes adaptar-se a situações e desafios que surgiram”, explica o professor Silvio.
O professor conta que, durante a viagem de 15 dias, o grupo teve contato com acadêmicos de diferentes áreas, vindos de Universidades de todos os cantos do país. A prática interdisciplinar possibilitou o intercâmbio cultural e a troca de conhecimentos. Na rotina nos alojamentos, na divisão de tarefas e na realização de oficinas, novas e fortes amizades surgiram.
Para ela, participar do Projeto Rondon gera um processo de transformação. “É perceptível ver a evolução desses jovens. Muda muito a forma como encaram a vida e a profissão e para nós, enquanto professores, também, quando percebemos uma nova forma de trabalhar os conteúdos, além da sala de aula. Os projetos de extensão nos transformam também como docentes, ao sair do tradicional e poder compartilhar esses conhecimentos com alunos de diversas áreas”, complementa Marilisa.
“Foi uma grande experiência pessoal e profissional, mas também uma imersão social, conhecendo a população do norte do Brasil e sua cultura. Todo momento estivemos em contato com os costumes locais, a culinária, as músicas e as histórias que a comunidade nos contava, uma grande experiência que vou levar para toda vida”, relata a estudante de geografia Ana Paula Gonçalves de Meira.
A futura geógrafa ministrou uma oficina com temática ambiental, fez uma gincana sobre o lixo e atividades educativas com as crianças. “Durante a oficina, construímos um jardim, a partir do reaproveitamento de garrafas-pet, para criar vasos de plantas e flores. As próprias crianças trouxeram as mudas. Com isso, deixamos uma marca da passagem do Rondon para elas cuidarem e lembrarem”, conta a rondonista.
Já a estudante de Direito Nayara Basegio usou seu conhecimento acadêmico para abordar temas ligados à vulnerabilidade social e a fake news. Para ela, a missão mudou sua forma de ver o mundo. “Depois de uma experiência como o Projeto Rondon, posso dizer que não voltei a mesma para casa. Questionei meus projetos de vida e reformulei todos eles. Da mesma forma como eu contribui, também recebi muito. Na vila, ao redor do garimpo, constatei o modo de vida e a dificuldade das pessoas. No âmbito jurídico, dentro do contexto acadêmico, pude entender um pouco sobre as questões trabalhistas e as indenizações devidas aos trabalhadores. Sem dúvida, a Nayara de hoje é uma acadêmica e uma pessoa muito melhor após essa experiência”, diz ela.
A sensação é compartilhada por Thais Borges, aluna de Administração da UEPG. “O conhecimento acadêmico não pode ficar preso dentro da Universidade, o projeto é uma possibilidade de levar isso a outras partes do país, que não têm o privilégio de ter acesso ao ensino superior como nós. Como futura administradora, foi uma experiência significativa”.
Thais conta que planejou várias oficinas que foram adaptadas para a necessidade local. “Com os artesãos, trabalhamos noções de marketing, custo e preço de venda dos produtos. Os participantes ficaram bem atentos e satisfeitos em receber essas informações que vão fazer diferença para eles”.
Aluno do último ano, Leonardo Ribeiro Duarte aproveitou a oportunidade para exercitar o jornalismo na prática. Atuou com comunicação na rádio local e produziu textos para o portal da cidade, além de registrar a expedição em fotos. “Participar do Rondon foi a melhor experiência que eu tive na vida, com toda a certeza. Conhecer a cultura, o povo e o que é realmente o Brasil. Lembro que num dos últimos dias, durante a pintura de uma parede, uma das crianças me escreveu uma carta que me marcou muito. Dizia: ‘Seja forte de gratidão’. Todo o carinho das pessoas me tocou e me emocionou muito”, relembra.
A proposta do Rondon é gerar benefícios permanentes para as comunidades da região, diretamente relacionados à melhoria do bem-estar social e à capacitação da gestão pública. Os rondonistas recebem todo o suporte necessário durante a participação, como orientação e acompanhamento, estadia, alimentação, uniforme e deslocamento.
“É um trânsito de mão dupla que a extensão universitária permite. Para que possamos transformar a sociedade, precisamos primeiro ser transformados por ela. O Projeto Rondon permite justamente esse processo. Sentimos muito orgulho da UEPG estar participando e pelo trabalho desenvolvido por professores e alunos neste projeto que já é uma tradição dentro da Universidade Estadual de Ponta Grossa”, conclui Miguel Sanches Neto, reitor da UEPG.
Texto: Sandrah Souza Guimarães. Fotos: Silvio Luiz Rutz da Silva