UEPG forma migrantes e refugiados em curso de português

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Um país diferente é um mundo diferente. Para quem deixa para trás seu país, seja buscando oportunidades de estudo ou trabalho, seja fugindo de conflitos e da fome, a adaptação à nova cultura pode ser difícil. Na terça-feira (13), os formandos da primeira turma do Curso de Português para Migrantes e Refugiados do projeto de extensão da Universidade Estadual de Ponta Grossa, “Processos Migratórios e Intercâmbio: inclusão social e diversidade cultural” (Promigra), receberam seus certificados de conclusão de curso. São cerca de 50 alunos que participaram, desde outubro de 2022, das aulas de língua portuguesa.

Zainab Kamil não escondia o orgulho. Para a iraquiana, que mora no Brasil há 27 anos, mas que só agora teve a oportunidade de aprender o português, poder se comunicar com facilidade e fazer novas amizades é motivo de realização. “Cada terça-feira, acordava com muita alegria por causa do curso. Para mim, foi uma forma de estudar mais”, conta. Em cada papel que encontra com palavras escritas em português, como os folhetos de mercado, aproveita para treinar a língua: “Esse aqui é pretérito, esse é particípio. Aqui é SS, tem que pronunciar C. Esse S, tem que pronunciar Z. Minha cabeça abre. Parece que eu fico mais inteligente”.

Do país de origem, Zainab lembra com carinho, mas também com olhar crítico. “Iraque ensinou o mundo a ler e escrever, foi o primeiro lugar do mundo a ter leis. O que destruiu nosso país foram as guerras”. Agora, ela aprende a ler e escrever em outra língua, aqui no Brasil, e aproveita para destacar a resiliência da mulher migrante, que sofre com perdas, lutas, preconceitos. “Elas ainda querem melhorar a vida, têm esperança. Eu tenho esperança. Eu olho para o lado bom da vida, não para o passado ruim. Esse passou, graças a Deus”, diz, com o olhar brilhante de fé.

Além do certificado, Zainab recebeu do filho Reshad Tawfeiq, que é professor de Direito na UEPG, algo ainda mais relevante, para ela: o sorriso orgulhoso. “Aluna inteligente e dedicada, obteve conceito 10 e 100% de frequência! Parabéns, mãe!”, desejou. Para Reshad, o projeto atende a um papel fundamental da Universidade, de promover a solidariedade, cidadania e direitos humanos. “Que projeto fantástico e importante para acolher e integrar pessoas de todas as partes do mundo. Viva, mãe Zainab! Viva, mãe UEPG!”.

Para os migrantes, as aulas também são um espaço de socialização. “A gente tem que conhecer a cultura do país também, comida, cultura, danças, fazer amigos”, conta Zainab. Além do curso de português, o Promigra realiza atividades de integração, assistência social, oficinas de inclusão, projetos de qualificação, mostras culturais e visitas técnicas, em parceria com o projeto de extensão “Internacionalização, Cidadania e Direitos Humanos” (Intermig).

A professora Lenir Mainardes, coordenadora do Promigra, enfatiza a importância do acolhimento para essas pessoas. “Essa acolhida e essa integração que eles passam a ter com o espaço universitário e com os colegas que passam pela mesma situação deles é muito importante, porque eles começam a criar uma identidade, também, aqui no Brasil, e se reconhecer em alguém que vivenciou processos semelhantes de deslocamento, de chegada”, pontua. O curso teve participantes do mundo inteiro: venezuelanos, haitianos, tunisianos, iraquianos, marroquinos, colombianos, cubanos e outras nacionalidades.

“Graças a este projeto, formamos laços de amizade”, celebrou a oradora da noite em nome dos demais alunos, Yaiddy Paola Martínez Rodríguez. Ela agradeceu o amor com que foram tratados cada um dos alunos e o carinho de compartilhar com eles a língua portuguesa e a cultura brasileira. “Aprendemos uma palavra: gratidão. Gratidão por todas as coisas que vocês fizeram por nós, por esse empenho de cada dia, por dar o melhor de vocês para nós, por todo esse amor. Hoje, cada um de nós tem mais segurança”.

Nova vida

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), um número recorde de refugiados e migrantes cruzam as fronteiras internacionais fugindo de conflitos, perseguições e da pobreza, ou em busca de melhores oportunidades de vida. Fortalecer a cooperação para facilitar a migração segura, ordenada e regular faz parte dos pactos da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável.

O Fluxo migratório de haitianos para o Brasil iniciou após do terremoto que atingiu o país em 12 de janeiro de 2010. Por enquanto eu entrei no Brasil em 2008, após de passar num concurso no Haiti para estudar Agronomia num Programa de Formação de Líderes pelo Ministério Visão Global do Haiti (MVGH).

Após 10 anos no Brasil, Geslin Mars conhece bem os desafios de estar em um país diferente. Ele veio para o país em 2008, antes mesmo do fluxo migratório de haitianos para o Brasil por conta do terremoto de janeiro de 2010, após passar em um concurso para estudar Agronomia no Programa de Formação de Líderes pelo Ministério Visão Global do Haiti (MVGH). Ele é doutorando em Agronomia na UEPG e trouxe a esposa Erline do Haiti há cerca de um ano e meio. O pequeno Caleb é brasileiro, ponta-grossense.

Amigos de infância, Geslin e Erline se reencontraram quando ele retornou ao Haiti em 2017, após fazer a graduação e mestrado no Brasil, em Minas Gerais. “Como a gente já era noivo e eu recebi bolsa de doutorado da Organização dos Estados Americanos (OEA) e Grupo de Cooperação Internacional de Universidades Brasileiras (CGUB), a gente casou e voltou para o Brasil”, conta Geslin. Indagada se teve medo de largar o país natal, Erline ri e é enfática: “Não!”

Para o próximo ano, a haitiana, que é enfermeira, já tem a perspectiva de cursar o mestrado em Ciências da Saúde na UEPG, com a aprovação no mesmo programa de bolsas que o marido. Superando a barreira da linguagem, fica mais fácil.

Texto: Aline Jasper | Fotos: Aline Jasper e Maurício Bollete


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