As atividades, organizadas em parceria entre MCG e DAC-Proex, buscaram contemplar a diversidade de temas e formatos na arte de Orlando. Em sua trajetória de mais de cinco décadas como artista e agitador cultural, ele transitou entre a música, fotografia e poesia. No Museu, uma mostra fotográfica, “Marinhas – Arqueologia da Morte”, faz dialogar a beleza da produção fotográfica em estúdio com a poética de animais mortos e objetos em deterioração. Ainda sobre fotografia, a oficina organizada pela DAC mesclou teoria e prática na temática da “Fotografia em Transe”. Na noite de terça-feira (03), aconteceu um bate-papo sobre a cena cultural e musical paranaense e brasileira dos anos 1960-1970.
O fotógrafo
“O que me perturba no olhar é o que me instiga a fotografar”. A inspiração para uma fotografia genial pode vir a cada momento – e por isso, o fotógrafo renomado, autor de mais de 20 livros fotográficos e dezenas de exposições, com obras em acervos importantes, em Nova Iorque, Paris, Lisboa e São Paulo, hoje fotografa somente com o celular: não quer perder nenhuma oportunidade. E quem participou da oficina “Fotografia em Transe”, organizada pela DAC nas tardes de terça (03) e quarta-feira (04), saiu inspirado a fotografar cada momento do cotidiano que perturba o olhar.
Na noite de terça (03), o público pôde assistir “Todo roqueiro é gente fina” (2014), documentário dirigido por Yuri Vasselai que conta a história d’A Chave, banda que marcou época no cenário musical curitibano e foi considerada precursora do rock paranaense. “Era coisa de doido”, brinca Orlando. “A gente ia até 5h da manhã ensaiando e fazendo música”.
Ana Julia Prandel de Oliveira, estagiária da Proex, já conhecia o trabalho fotográfico de Orlando. “Eu não sabia da carreira dele como músico e ouvir as histórias dele sobre a banda e a sua proximidade com Leminski e Rita Lee foi muito legal”, pensa. “Ele é um músico e fotógrafo incrível e mostra seu olhar através disso”.
“Juntar o documentário com um de seus entrevistados: são raros momentos em que podemos fazer isso. É uma chance de complementar o audiovisual com o depoimento de uma testemunha privilegiada da cena cultural curitibana, paranaense e brasileira dos anos 70”, avalia Schoenherr. “A cultura do rock também tem espaço nos museus históricos e contemporâneos, porque ela revela uma sociedade, um modo de ser, o acesso a informação e a bens tecnológicos”.
Até o fim de 2024, visitantes do Museu Campos Gerais podem conferir a estética irretocável e a poética de “Marinhas – A Arqueologia da Morte”. A mostra reúne fotografias de animais e objetos coletados por Orlando Azevedo ao longo de mais de duas décadas na beira do mar. Nítidas e, ao mesmo tempo, poéticas, as fotografias remontam a emoções, revelações e à finitude da vida. Os materiais foram fotografados em estúdio, com câmeras analógicas de grande formato e chapas de filme rígido, e depois impressas em papel Canson.
“Também vim aprender aqui. Todo mundo tem que aprender, assimilar e ampliar”, avalia Orlando, ao final da maratona de três dias em Ponta Grossa. E “é isso”, como resume o fotógrafo, de poucas palavras, ao final da conversa na noite de quarta-feira. Quem esteve com ele, também aprendeu sobre o olhar de Orlando Azevedo.
Cheio de vitalidade e intenso: é assim que Niltonci Batista Chaves, diretor do MCG, resume a personalidade e a presença marcante de Orlando no Museu durante as três atividades da semana. “O último meio século da cultura Paranaense é muito marcado pela presença do Orlando, seja na música, seja na fotografia. A presença dele aqui nos qualifica muito. Recebê-lo é um orgulho para nossa Universidade”.
Texto: Aline Jasper, com colaboração de William Clarindo | Fotos: Aline Jasper e William Clarindo