Editora-UEPG lança coleção escrita por professores e pesquisadores negros

Compartilhe

O conhecimento de pesquisadores negros em destaque. A Editora da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) lançou, em setembro, a coletânea Reexistências, que traz intelectuais negros e negras no debate sobre ensino, história e culturas afro-brasileira, africana e indígena. As obras O Pertencimento Negro no Ensino Superior: uma investigação das aprendizagens sociais na trajetória escolar e As vozes das Améfricas: percursos de intelectualidades negras já estão disponíveis no site da Editora.

A professora Ione Jovino é a organizadora da coleção. Segundo ela, “o Brasil tem importantes legislações educacionais que tratam da obrigatoriedade do ensino histórico cultura afro-brasileira africana indígena e é muito necessário que a gente traga a produção do conhecimento de pesquisadores negros e negras para contribuir com essa temática”. A coletânea tem uma função, além de científica, também social muito importante, do reconhecimento de negros e negras como pesquisadores e como produtores de conhecimento, segundo ela.

Juntamente com a Editora UEPG, existe o planejamento de divulgar uma nova chamada para que outros pesquisadores negros também publiquem suas pesquisas e ensaios. O foco são produções advindas de pesquisa e de projetos de extensão sobre a temática negra, sobretudo o que é produzido polos pesquisadores negros. “A Editora está avaliando outras propostas que já passaram pela minha curadoria como coordenadora da coleção. Em seguida, iremos lançar uma chamada pra receber outros projetos para a publicações no próximo ano”.

Dois livros

Em ‘As vozes das Améfricas: percursos de intelectualidades negras’, Denilson Santos convida os leitores para a compreensão das produções negras na América Latina. Segundo o pesquisador, a obra traz apontamentos que servirão de análise de um momento histórico-cultural dos negros na Diáspora. “Estudar autores como Abdias do Nascimento, Manuel Zapata de Olivella e Gerardo Maloney é fundamental para compreender as conquistas que os negros ladino-amefricanos conseguiram no campo da artes, da economia e da política”. O livro traz análises, a partir dos estudos da antropóloga Lélia González, sobre como as Américas se forjaram como Améfricas. “Isto é, como os povos africanos, ainda que sob o signo da escravização, construíram um estrado fundamental para que nos reconhecêssemos como negros e nos posicionássemos contra o racismo”.

O pesquisador destaca que o pensamento ladino-amefricano se instaura e elabora relevantes reflexões sobre nossas sociedades. “Tenho consciência de que o livro é o início de um estudo que precisa se aprofundar mais. Não devemos nos contentar com o silenciamento da herança africana. A crítica literária destes trópicos insistiu em nos calar, mas os nossos corpos e ritos estiveram o tempo todo gritando: Nós estamos aqui! Agora, como pesquisador, me proponho a dialogar para compreender a profundidade de nossa Amefricanidade”, complementa Denilson.

No livro ‘O Pertencimento Negro no Ensino Superior: uma investigação das aprendizagens sociais na trajetória escolar’, Jefferson Olivatto da Silva apresenta uma análise aprofundada e crítica da trajetória da negritude no processo de aprendizagem, com especial atenção à realidade educacional paranaense. “Integrando disciplinas como Antropologia da Educação, Psicologia Social e Historiografia Africana, o texto introduz uma nova lente analítico-interpretativa, denominada ‘Constelações de Aprendizagem'”, informa o pesquisador. A obra traz uma compreensão mais rica de como as identidades comunitárias e as experiências históricas influenciam a vida escolar de estudantes negros.

“A pesquisa revela as barreiras enfrentadas por estudantes que professam afro-religiosidade no ambiente escolar, evidenciando a urgência de políticas educacionais mais inclusivas”, ressalta o autor. A obra ilustra como a hostilidade e o racismo institucional podem impactar negativamente a trajetória acadêmica desses indivíduos, “Ao integrar saberes ancestrais e comunitários ao currículo formal, a obra fomenta um diálogo intercultural que enriquece a formação acadêmica e contribui para a construção de um ambiente escolar mais justo e equitativo”, explica Jefferson. O autor destaca que a publicação é relevante para um público amplo, incluindo pesquisadores, educadores, gestores educacionais, movimentos sociais e todos aqueles interessados em promover a igualdade racial e a justiça social. “Ao apresentar uma análise aprofundada e inovadora da experiência de estudantes negros(as) e umbandistas, a pesquisa contribui para o debate sobre a importância da educação como ferramenta de transformação social e para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa”.

Interessados podem acessar o site editora.uepg.br.

Texto e foto: Jéssica Natal


Compartilhe

 

Skip to content