Caic realiza Coil em parceria com escola norte-americana

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Com abraços, uma lousa colorida e um grande “Welcome!”, os alunos da turma Macaco, conduzidos pela professora Vanessa Josieini Sequinel Hrenechen, do Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (Caic), da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), receberam a professora Letícia de Oliveira Tenório, da Southwest Montessori Academy (SMA), de Fort Wayne, Indiana, nos Estados Unidos. 

O dia seria especial: depois de realizarem uma atividade online toda semana durante três meses, conhecendo colegas somente por videochamada, os estudantes de cinco anos receberam Letícia pessoalmente. Egressa dos cursos de Engenharia Civil e Engenharia de Segurança do Trabalho da UEPG, ela também não conteve a ansiedade. “Eu não via a hora de encontrar esses rostinhos pessoalmente!”, disse.

Os encontros semanais das turmas fizeram parte de um projeto piloto desenvolvido em parceria com a escola montessoriana americana – uma iniciativa de internacionalização em casa do Caic, que também tem em pauta um termo de cooperação estabelecido com a Universidade de Rovuma, em Moçambique. A atividade de Aprendizagem Online Internacional Colaborativa (Collaborative Online International Learning Coil) iniciou no começo do mês de abril e se estendeu até o final de junho. Durante duas vezes por semana, as crianças das duas escolas, de realidades diferentes, puderam conviver – ainda que distantes – de maneira intensa e inesquecível. “Não é uma simples atividade, tem uma dimensão muito grande. São as relações afetivas, a amizade, a diferença, a diversidade, é saber que existem outras formas de comunicação, de idiomas”, reforça a diretora do Caic, Rosiane Machado da Silva.

Rosiane comenta que a SMA, montessoriana, e o Caic, freinetiano, têm muito em comum. Dentro de cada projeto pedagógico, o olhar para o ensino coletivo se destaca. “Maria Montessori traz muitas atividades e propostas em que a criança tem autonomia para escolher o que quer fazer e ao mesmo tempo a responsabilidade de concluir as tarefas, com o professor orientando o circuito”, explica. “ O aluno participa e, com isso, ele se envolve na proposta, nesse projeto de trabalho”. 

Para a equipe do Caic, o ensino é um processo. A interação entre professor e aluno deve acontecer de forma natural e progressiva. “Ao mesmo tempo em que o professor ensina, ele aprende. O aluno traz seus conhecimentos e a escola tem a obrigação de transformá-los em saber sistematizado. Nós respeitamos as origens das crianças e, a partir disso, começamos a dialogar com o conhecimento” ressalta a diretora.

Independência, interculturalidade e empatia

“No início de cada ano letivo, as turmas do Caic escolhem o símbolo que será o representativo do grupo”, conta Rosiane. ”A professora mostra muitas coisas, é realizada uma eleição e o símbolo mais votado vence. Este ano, a turma que participou da atividade com a escola estadunidense montessoriana tem o símbolo do macaco”. Ou Monkey, como eles mesmos fazem questão de frisar.

Para os alunos, a visita da professora Letícia foi o auge de um trabalho inesquecível. Juntos, eles cantaram músicas, compartilharam experiências e lembraram um pouco dos meses em que encontravam os colegas pelo meet. A professora Vanessa observava, orgulhosa, a turma se divertindo com a visitante internacional. “Raise your hands, please”, pedia Leticia, carinhosamente, quando a alegria era tamanha que quase não cabia dentro das crianças e elas falavam juntas. “Now, it’s your turn” – agora é a sua vez. 

Um a um, os alunos encheram os pulmões para falar algumas palavras em Inglês, resultado da interação com os colegas americanos: contaram até 5, cantaram músicas, disseram nomes de cores, perguntam qual era o nome da cidade da professora, e por que a escola montessoriana se chama ‘Academy’ se não é uma academia. “Quando as crianças são expostas a diferentes culturas, idiomas e formas de pensar desde cedo, elas desenvolvem uma mentalidade aberta, empática e respeitosa em relação à diversidade. Isso contribui para a formação de cidadãos globais, capazes de atuar em um mundo cada vez mais interconectado e multicultural”, comenta Vanessa.

Para ela, entre os inúmeros aspectos positivos proporcionados pelo contato com outro idioma, além de estimular o desenvolvimento cognitivo, impactando em outras áreas do aprendizado, a internacionalização na educação infantil promove uma visão de mundo ampliada. “As crianças que têm contato com diferentes culturas e perspectivas desde cedo são mais propensas a desenvolver uma compreensão mais profunda e crítica do mundo ao seu redor. Isso prepara os jovens não apenas para a vida acadêmica e profissional futura, mas também para serem agentes transformadores em suas comunidades”.

Para Letícia, muito mais do que um desafio linguístico que ao mesmo tempo era um jeito de matar as saudades de casa, ouvindo o idioma do seu país de origem, a experiência ampliou a visão de mundo das crianças estadunidenses. “Eu acho que elas descobriram que o mundo é maior do que o que elas conhecem; é diferente. Elas passaram a se interessar pelo mapa, queriam saber onde estava o Brasil, entenderam que não era só eu que falava uma língua diferente”, relembra. “Eles se abriram para o novo, para o conhecimento, em função da nossa cultura. Nós temos muito a oferecer”, enfatiza Letícia.

Fortalecer as bases para uma educação que valoriza não apenas o conhecimento acadêmico, mas também o desenvolvimento social e emocional das crianças é um traço forte desses 30 anos de tradição do Caic. “Em um mundo onde a cooperação internacional é cada vez mais necessária para enfrentar desafios globais, formar indivíduos com uma mentalidade internacional desde cedo é um investimento no futuro”, finaliza Vanessa. 

A parceria

Tudo começou com um encontro inusitado em um café. Rosiane e Letícia trocaram algumas palavras e plantaram a sementinha da parceria. “Ela veio me visitar no final do ano passado e eu falei ‘vamos fazer um intercâmbio’”, recorda Rosiane.

Egressa da UEPG de dois cursos que nada têm a ver com Pedagogia, Letícia acabou se apaixonando pelo ofício entre uma visita técnica e outra em escolas. Atualmente, reside nos Estados Unidos e está se especializando na pedagogia montessoriana no Centro de Educação Montessoriana da Trine University.

Foi ela a ponte entre as duas escolas – a tradução e o laço que possibilitou a parceria. Vanessa e Letícia realizaram o planejamento dos encontros e das atividades que seriam desenvolvidas pelas turmas. Dentro das propostas, havia as técnicas montessorianas e também as freinetianas, como a ‘aula passeio’. “Nós mostramos a nossa escola pelo meet e eles também mostraram a escola deles. Íamos chamando um por um para interagir com as crianças. Cada estudante ficou amiguinho do outro”, relata Rosiane.

O planejamento foi cuidadoso e por etapas. “Quando eles foram para o meet, não eram desconhecidos”, comentou Rosiane. A diretora da Southwest Montessori Academy também foi muito parceira, segundo Letícia. Antes mesmo de se encontrarem por videochamadas, os alunos trocaram desenhos, cartas, e viram fotos dos colegas. “E eles não queriam conversar com qualquer um, queriam conversar com o amigo de cada um”, conta Letícia. 

Para as crianças, um encontro especial. Para os pais, uma oportunidade de também ampliar seu olhar sensível para o mundo. Segundo Letícia e Vanessa, o retorno das famílias foi extremamente positivo. Um comentário em comum entre as duas equipes foi como os estudantes do Caic ajudaram a desinibir os alunos da SMA. Vanessa afirma que “mesmo sem experiência anterior, as crianças mostraram uma grande capacidade de adaptação e uma vontade de aprender e se conectar com outras culturas”.

30 anos construindo futuros

Em junho de 2023, o Caic completou 30 anos. Para os próximos 30, a escola vislumbra novos horizontes. O projeto piloto realizado em parceria com a Southwest Montessorian Academy será protocolado em breve, e a intenção é seguir proporcionando para as turmas ações de internacionalização que levem os estudantes e a escola para outros países, mesmo sem sair do Brasil.

O recém-assinado termo de cooperação entre a UEPG e a pós-graduação em Educação da Universidade de Rovuma é prova disso. “Esse termo foi assinado para que possamos levar as nossas experiências para as escolas primárias de lá. O Caic, então, seria uma escola modelo”, conta Rosiane.

A diretora do Caic, que já era co-orientadora da pós-graduação em Educação da universidade moçambicana, comenta a sua ligação com o tema e relata que o trabalho com essa parceria será muito sério. “Eu tenho uma dívida com Moçambique. Eu sou afrodescendente, tenho uma aproximação acadêmica com a questão da educação negra. Existe um cenário lá que é o seguinte: muitas escolas não têm luz, . Em algumas regiões, inclusive, os estudantes têm aula a céu aberto, embaixo de árvores”.

A próxima etapa inclui reuniões entre equipes para definir as ações de formação que irão beneficiar tanto as escolas moçambicanas quanto o Caic. “A gente sempre tem que melhorar. O Caic é um projeto contínuo, de vida”, finaliza Rosiane. 

Participaram do projeto os estudantes do Caic: Anne Gabrielly Pereira Prestes, Aquiles De Lara Pereira, Ariella Cartes Farias, Arthur Augusto Justos, Arthur Vinícius Erdeman Martins, Artur Pereira Levandovski, Davi Lucas Cozovski Da Silva, Emanuelly Calixto De Paula, Gabriel Henrique Dos Santos, Gustavo Hàas Machado De Souza, Isabela Ferreira, Isadora Xavier Gonçalvez, Kézia Odilia Strechar De Andrade, Lauryn Gabrielly Dos Santos, Luiza Cavalli Pereira, Luiza Silva Antunes De Oliveira, Miguel Henrique Da Silva, Nicolas Eduardo Da Silva Xavier, Pyerre Kaique De Oliveira Rocha, e Samuel Hionaski Martins.

Texto e fotos: Domitila Gonzalez.


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