“Nunca imaginei que iria viver isso depois dessa minha idade”. Aos 84 anos, Maria Nanci dos Santos esperava a família chegar para sua tão aguardada festa. Assim como a maioria das debutantes da noite, ela não teve um baile de 15 anos. “Ganhei um vestido simples e minha madrasta fez uma língua recheada, isso eu me lembro bem, mas não teve baile chique”, conta. Mas na noite da última semana, ela teve mesa com lugares reservados, penteado bem alinhado e um sorriso de quem recebia um presente esperado há tempos. Todas puderam se arrumar no local, com direito a arrumação do cabelo, maquiagem e até massagem. “Estou emocionada, me sinto linda, é uma alegria muito grande celebrar com a minha família agora”, conta.
Protagonizar uma noite de gala, como Maria vivenciou, era o objetivo da Uati. Como conta a coordenadora Rita de Cássia da Silva Oliveira, o Baile é uma festa para mulheres que nunca tiveram uma experiência semelhante. “Muitas aqui nem tiveram festa de casamento ou de aniversário, então sorteamos entre 150 alunos da Uati esta oportunidade, com tudo pago, desde salão de beleza, vestidos, até o jantar”. A festa é uma das iniciativas que a Uati promove para a valorização da pessoa idosa. Os alunos também contam com aulas de inglês, canto, teatro e artesanato; realizam atividades físicas; e participam de palestras orientativas.
Para Rita, nada paga o sorriso de cada uma. “A gente vê a felicidade no rosto delas, a família fica encantada de ver a matriarca alegre, e nós ficamos contentes por tabela, porque tentamos trazer as alegrias que eles não puderam ter na época da juventude. Queremos que eles cada vez se sintam mais felizes e integrados, esse é o propósito da Uati”.
Leni Kuhl de Souza veio morar em Ponta Grossa há 40 anos, com a família. A pedagoga pôde ver seus filhos serem formados pela UEPG e há um ano iniciou sua história com a instituição. “Resolvi entrar como aluna na Uati e estou gostando muito, fazendo muitas atividades que me tiram da rotina”. Sempre tem algo diferente para fazer durante a semana, segundo Leni. “É um respiro, depois que meu marido faleceu. Eu faço aulas de francês, participo das palestras, saio um pouco de casa. É uma renovação que eu precisava”.
Resgate é a palavra que Geni Mariano Dias usa para descrever a Uati. Vinda de Foz do Iguaçu, ela celebrou a noite com a filha, que veio para Ponta Grossa especialmente para vê-la com vestido de baile. “Participar desta festa e da Uati é um resgate de coisas que eu não tive quando jovem”. E não é apenas sobre festa que Geni se referia. Órfã dos pais, ela não teve documentos de identificação aos 15 anos, quiçá festa. “Minha vida foi começar aos 17, quando fiz minha identidade, nem festa de casamento eu tive”. Ao lado dos amigos e da família, depois de fotos em grupo e muitos abraços, o Baile de Debutantes foi a noite de ser paparicada. “Me senti minha mimada como nunca me senti antes aqui, então é muito especial, é a celebração de uma vida inteira”, finaliza.
Texto e fotos: Jéssica Natal