Alunos de Medicina da UEPG desenvolvem pesquisas inéditas na Penitenciária de Ponta Grossa

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Saúde é direito universal. A partir dessa premissa, estudantes de Medicina da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) desenvolvem pesquisas inéditas sobre a saúde dos detentos da Penitenciária Estadual de Ponta Grossa (PEPG). Os projetos já rendem dados que estão sendo publicados em revistas científicas e que serão utilizados pela gestão carcerária para melhoria dos serviços.

Um dos projetos foi realizado pelo acadêmico Thiago Martins Figueiredo, que analisou a existência de doenças crônicas não-transmissíveis, como a diabetes, hipertensão arterial sistêmica e dislipidemia, além da prevalência do uso de drogas ilícitas. Outro foi desenvolvido por Maria Clara Rivas, com o rastreamento de sintomas de depressão dentre os detentos. Ambos resultaram em Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs), apresentados durante o mês de novembro e aprovados com nota máxima. “Pelo menos mais dois projetos já estão sendo elaborados, sob a orientação da professora Fabiana Postiglione Mansani, e pretendemos dar continuidade nessa parceria entre a Penitenciária e a Universidade”, diz Thiago.

O primeiro passo dos projetos foi uma visita cidadã, para conhecer a Penitenciária, seu funcionamento e formar um vínculo com a enfermaria. “Após autorização do Comitê de Ética e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido por parte dos apenados, nós passamos a realizar uma coleta de dados de todos os prontuários lá presentes. Além disso, foi aplicado um questionário a todos os detentos que era composto pelo Inventário de Depressão de Beck, um roteiro aprovado internacionalmente para rastreamento de depressão”, explica o aluno. A partir desses dados, foi possível desenvolver análises quantitativas e inferências qualitativas. Até a forma de aplicar os questionários teve que ser adaptada. Maria Clara conta que as perguntas precisaram ser impressas e os papeis unidos com cola. “Eles preencheram meus questionários no mesmo momento em que iam escrever as cartas para as famílias”, conta.

O diretor da Penitenciária Estadual de Ponta Grossa – Unidade de Segurança, Bruno José Propst, comemora a parceria. “A Universidade desempenha um papel fundamental ao se inserir no sistema penal”, avalia. Para ele, a atuação conjunta das instituições pode ajudar a construir caminhos mais eficazes para a reintegração social e a segurança pública, por meio do diálogo entre o sistema prisional e a sociedade, promovendo uma visão mais humanizada e estratégica da execução penal. “A produção de dados e a realização de pesquisas acadêmicas trazem informações valiosas que nos permitem tomar decisões mais embasadas e eficientes na gestão da penitenciária”, destaca. “Compreender melhor o perfil da população carcerária, as dinâmicas internas e os fatores que impactam a ressocialização é essencial para aperfeiçoar nossas políticas e práticas”.

Para Maria Clara, foi uma oportunidade ímpar de conhecer outra realidade e outras formas de atuar na Medicina. “A gente tem uma visão diferente de como é lá dentro”, diz. Conhecer o funcionamento da unidade prisional e a realidade dos apenados foi, para ela, uma experiência transformadora. “Foi muito legal. A penitenciária é um modelo, porque tem muitas oportunidades para os próprios encarcerados de aprender, de fazer um curso online, trabalhar, aprender a cozinhar, fazer curso de cozinha. Eu achei muito legal essa parte, porque realmente é focada na ressocialização, e não apenas na punição”, conta. Para o futuro, ela antecipa: virão novos projetos e estudos em parceria.

Texto: Aline Jasper | Fotos ilustrativas da Penitenciária: Aline Jasper | Fotos das bancas de TCC: Arquivo Pessoal

 


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