A passagem de Monteiro Lobato por Ponta Grossa

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Foi em busca de cobre e não exatamente de petróleo que o escritor e empreendedor Monteiro Lobato veio ao Paraná em 1938. Em Ponta Grossa, no dia 20 de outubro, concedeu entrevista ao jornalista Wilson Martins, então repórter do jornal Diário dos Campos. O episódio foi recuperado em texto especial do escritor e reitor da UEPG, Miguel Sanches Neto, a convite da exposição Lobatiando, que estreia nesta segunda-feira (14), no Museu Campos Gerais.

O episódio fervilha em referências ao momento do país e suas respectivas polêmicas nacionais – várias mal resolvidas até hoje. Mas a passagem também remete a fato pouco explorado, ainda, por pesquisas sobre o jornalismo e a história da imprensa em Ponta Grossa – desenvolvimento esse atrelado à ferrovia, ao que parece, até mesmo em suas então nascentes rotinas de cobertura e entrevistas.

“Depois de ter sido demitido do jornal curitibano onde trabalhava (Gazeta do Povo), Wilson Martins (1921-2010) recebeu um convite para secretariar o Diário dos Campos. Deixando a capital, transferiu seus estudos para o Regente Feijó, onde fez o último ano do colegial. Sempre contava que, entre seus feitos na cidade, o que mais o orgulhava era ter entrevistado o escritor Monteiro Lobato, de passagem em suas aventuras de dublê de minerador”, registra Sanches Neto.

O Diário dos Campos ocupava, na década de 1930, papel relevante na imprensa escrita paranaense, sendo o principal e mais tradicional jornal do interior do estado naquela década. Nesse cenário, Ponta Grossa cumpria função preponderante no processo de integração estadual e era o principal núcleo urbano paranaense depois de Curitiba. Isso é o que explica a passagem de Lobato pela Estação Roxo de Rodrigues, naqueles dias era praticamente impossível transitar pelo Paraná sem passar por Ponta Grossa.

Cabe assinalar que é das entranhas de uma certa geografia da prática jornalística – o deslocamento de um escritor e jornalista da capital para o interior e seu posicionamento junto à estação ferroviária – que surge um fragmento emblemático do senso de oportunidade e produção de informação local no período. A passagem de Lobato pela cidade ganha, por assim dizer, uma documentação. A efêmera publicação em jornal é, mais tarde, recuperada em livro pelo próprio Wilson Martins, que replica a entrevista no sétimo volume do clássico História da Inteligência Brasileira.

No livro, o encontro de Martins com Lobato aparece no capítulo intitulado “A sociedade e seus problemas; os problemas e as soluções”. Entre os assuntos, o interesse do escritor por cobre, petróleo, e também a situação das estradas do país. “Há doze horas que amasso barro”, revela Lobato sobre o trajeto desde Laranjeiras. “Os lugares não são longe na quilometragem: são longe por falta de vias de comunicação”, completa. “A partir de Ponta Grossa, via trem, ele [Monteiro Lobato] se ligava ao mundo contemporâneo, mas ansiava pelo futuro”, contextualiza Sanches Neto.

Em tempos de entrega desmedida do pré-sal e de inflado nacionalismo, continua a ser pertinente retomar e colocar em debate a postura de Monteiro Lobato frente as ‘questões’ nacionais de sua época, recobertas de incômoda atualidade. Se desde então era preciso abrir estradas nesse país, continua uma incógnita para onde elas nos levam. A partir de segunda-feira (14), esse encontro dos escritores Wilson Martins e Monteiro Lobato volta a acontecer, de certa forma, mais de 80 anos depois, no Museu Campos Gerais, da UEPG.

 

Rafael Schoenherr e Niltonci Batista Chaves*

* Rafael Schoenherr é professor do Departamento de Jornalismo da UEPG e diretor de acervo do Museu Campos Gerais. Niltonci Batista Chaves é professor do Departamento de História da UEPG e diretor do Museu Campos Gerais.


 


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