No Dia dos Pais, UEPG homenageia Álvaro Augusto Cunha Rocha

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Ele estava lá quando a Universidade Estadual de Ponta Grossa nasceu. Era 06 de novembro de 1969. Os olhos marcantes, acompanhados pelos icônicos óculos de aviador, viram sua filha surgir. Foi assim que o primeiro reitor da UEPG, Álvaro Augusto Cunha Rocha, marcou a história da instituição: como um pai presente, que testemunhou o nascimento, crescimento e vida adulta de umas das universidades mais influentes do Brasil e do mundo.

Dizem que quando nasce um filho, também surge um pai. Quando a UEPG foi registrada, em 28 de janeiro de 1970 pelo Decreto Estadual nº 18.111, bastaram mais 105 dias para que Álvaro marcasse a história como o primeiro reitor da instituição. A concepção da Universidade aconteceu quando as Faculdades Estaduais de Filosofia, Ciências e Letras; Farmácia e Odontologia; Farmácia e Bioquímica; Odontologia; Direito; e Ciências Econômicas e Administração se fundiram. A UEPG foi a filha caçula e única menina de Álvaro, já que ele também teve quatro filhos homens, nascidos entre 1956 e 1962: Cláudio, Carlos, Sérgio e Jairo.

Como toda menina mimada pelo pai, a UEPG ganhou muitos presentes, como o Festival Nacional de Teatro (Fenata), em 07 de novembro de 1973. Foi um presente pela luta do reconhecimento oficial da Universidade pelo Conselho Federal de Educação. Na noite de inauguração do evento, Álvaro discursou emocionado: “A UEPG nasce sob o signo do teatro”. O professor Odeni Villaca Mongruel, primeiro vice-reitor e segundo reitor da UEPG, lembra bem daquela data. “Estávamos no Fenata, no Auditório da Reitoria, quando Álvaro noticiou o reconhecimento da instituição como Universidade. Foi emocionante”, recorda.

Os primeiros anos de vida vêm acompanhados de desafios. A preexistência das faculdades que fundaram a UEPG é apontada por Mongruel como um ponto positivo, mas também um desafio. “Já tínhamos um ensino superior robusto para a época. Fomos responsáveis pela reorganização de uma estrutura preexistente. O desafio foi desfazer e depois refazer as Faculdades, fundindo-as numa Fundação. Nesse processo contamos muito com os diretores”, explica.

Mongruel acredita que Álvaro foi uma das figuras importantes que interiorizou o ensino superior no Paraná. “Ele foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento das cidades que as receberam. A UEPG teve, e ainda tem, papel importante no desenvolvimento de Ponta Grossa. Certamente, sem a universidade a cidade não seria tão promissora, não chegaríamos onde estamos”, avalia.

O irmão da UEPG

O pai da UEPG se afastou da advocacia para assumir o cargo de reitor. Jairo Rocha, filho homem mais novo lembra do impacto de conviver com um pai reitor. “De certo modo, até mesmo as correspondências que chegavam pelo correio causavam um certo impacto pela alcunha inscrita nos envelopes: Magnífico Reitor. Para mim, isso era uma grande novidade e acredito que, para um menino, isso causa um certo impacto”, recorda.

O amor pela cultura e artes influenciava o modo de Álvaro se comportar diante da vida. Em casa não era diferente. “Pelo cuidado amoroso e não puramente instrumental pela leitura, por exemplo; pelo seu gosto pelas artes em geral, o que se observava pela quantidade de livros e discos vários que nós tínhamos em casa”, exemplifica o filho. O pai de cinco filhos (quatro homens e uma instituição) tinha a formação humana como verdadeira missão – um dos fatos que levaram a ser escolhido como primeiro reitor. Para Jairo, a escolha dele se deu pelo fato do Governador da época ter optado pelo nome menos diretamente implicado na relação de forças do momento político da época. “Como professor da faculdade, advogado e com boa reputação, meu pai era o mais ‘independente’ naquela ocasião”, conta.

O menino caçula tinha cerca de 9 anos quando a UEPG chegou na vida da família Rocha. “O momento mais interessante e rico foi aquele em que eu assisti ao anúncio verbal de reconhecimento legal da Universidade, feito no Auditório da Reitoria”. O auditório estava repleto. “Lembro também de meu pai ter recebido em nossa casa por algumas vezes Paula Lima (crítico e professor de teatro de Belo Horizonte) e João Apolinário (poeta português participante da queda de Salazar)”, recorda.

A UEPG foi lugar de crescimento profissional para os filhos de Álvaro. O mais velho, Cláudio, formou-se em Farmácia e Bioquímica e em Odontologia. “Eu, de minha parte, o caçula da família, fiz meu exame de admissão para o Colégio de Aplicação, que pertencia à Universidade, e que naquele mesmo ano seria transferido para o prédio e incorporado ao Instituto de Educação. Muitos de meus professores eram também professores da Universidade”, conta Jairo.

Como um homem de letras e humanista, Álvaro foi marcado pelas influências da sua geração. “Ele acreditava na educação pública como fonte e espaço existencial voltada para o exercício de um ‘espírito crítico’ sobre a vida, o que é muito diferente do pensamento e das práticas de formação hegemônicas de hoje”, finaliza Jairo.

Legado

Como pai experiente, os obstáculos foram contornados de letra – Álvaro era graduado em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o que o fez ser professor no curso de Direito da UEPG. Foi sob os cuidados dele que surgiu o curso de Serviço Social e os primeiros projetos de extensão universitária. O professor Miguel Sanches Neto, atual reitor da UEPG, comenta que a escolha de Álvaro como primeiro reitor foi fundamental para representar a ideia de Universidade, sem isolamentos. “Ele foi realmente o pai da UEPG, responsável pela sua criação e representação universal que marca a instituição”, comenta. Para Miguel, mesmo com a formação em Direito, Álvaro tinha influências muito fortes na literatura e teatro.  “Álvaro é figura mais emblemática da UEPG”, adiciona.

Uma filha que tem o pai entusiasta de cultura acaba por viver novas experiências, como a criação da Coordenadoria de Assuntos Comunitários, atualmente Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Culturais (Proex). A pró-reitora Maria Salete Vaz comenta que Álvaro tinha uma visão ampla da extensão, o que fez da Proex ferramenta crucial na capacitação dos alunos. “Ele entendia que a extensão incentivava a retroalimentação do sistema universitário, enfatizando o papel central da Universidade como um ponto de convergência para a massa crítica e como agente de transformação cultural”, enfatiza.

A importância do reitor marca até os dias atuais, tanto que na entrada do Museu Campos Gerais (MCG), as vestes talares de Álvaro são as primeiras na exposição de 200 anos da cidade. O historiador e diretor MCG, Niltonci Bastista Chaves, afirma que, simbolicamente, o professor Álvaro Rocha é a personificação humana da criação da Universidade. “Coube a ele, na condição de primeiro reitor, reunir administrativa e pedagogicamente as quatro faculdades isoladas que deram origem a UEPG”, reforça. Na condição de reitor, segundo Niltonci, coube ao professor Álvaro fazer a UEPG existir de fato. “Ele atuou como gestor da instituição e também estabeleceu as políticas e linhas de ação sobre as quais se estruturou a Universidade”.

Álvaro era reconhecido como um intelectual que transitava entre o saber erudito e a cultura popular brasileira. “É possível dizer que ele investiu muito nas práticas extensionistas como uma das marcas da Universidade desde suas origens. A criação do Centro Rural de Treinamento e Ação Comunitária (Crutac) e a participação da UEPG no projeto Rondon estão indissociavelmente ligadas à ele”, enfatiza Niltonci.

Mesmo quando a UEPG atingiu a maioridade, sempre pôde contar com o olhar atento e amoroso do pai, que testemunhou a implantação de novos cursos, a construção do Campus Uvaranas e a formação de milhares de alunos ao longo dos anos. Quando a Escola Reitor Álvaro Augusto Cunha Rocha – que integra o Centro de Atenção Integral a Criança e ao Adolescente (Caic) – surgiu, não poderia deixar o nome do primeiro pai da UEPG de lado. O nome do órgão homenageia e reforça o compromisso com a educação, segundo a diretora do Caic, professora Rosiane Machado da Silva, “a homenagem foi feita pelo impacto da contribuição do professor Álvaro para a educação pública, principalmente na Universidade”, conta.

Ao longo dos pouco mais de 50 anos, mais presentes chegaram: com a existência do Fenata, a UEPG precisava de uma casa para o teatro. Em 2006, a instituição recebeu da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa o prédio do Cine Teatro Pax, construído pela Capelania dos Ferroviários da Rede Viação Paraná-Santa Catarina (RVPSC), liderada pelo Frei Elias Zulian nas décadas de 1960 e 1970. O presente fez questão de homenagear o pai que viu nascer o teatro. Não tinha outro nome a não ser Álvaro Augusto Cunha Rocha.

Membro da Academia de Letras dos Campos Gerais e patrono da cadeira nº4, publicou em 1992 o livro de poesias “O espírito do tempo”, onde retratou em poemas as experiências do período em que foi reitor, entre 1970 e 1974. Em 2023, a Editora UEPG relançou o livro com selo comemorativo em homenagem ao Aniversário de 200 anos de Ponta Grossa. No mesmo ano em que lançou a obra, Álvaro Augusto Cunha Rocha faleceu, aos 68 anos. Seu legado, como pai de uma das mais importantes universidades públicas do Brasil, está presente na qualidade de ensino, no desenvolvimento científico, no bem-estar social, na valorização da cultura e no cuidado com a comunidade que a Universidade representa. A UEPG nasceu no mesmo dia que o professor Álvaro assumiu a missão de conduzi-la para um futuro brilhante.

Texto: Jéssica Natal e Amanda Santos | Fotos: Arquivo de Fotos da UEPG e Aline Jasper / Pesquisa: Amanda Santos e Luciane Navarro

Homenagem do Departamento de Educação ao reitor, em 1974.

Construção do bloco A do Campus Central

Registro de empregados de Álvaro Augusto Cunha Rocha

Veste talar de Álvaro na exposição de 200 anos de Ponta Grossa.


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