Lar. A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) representa mais do que um conjunto de prédios para a família Folmer Ribeiro. Pai, mãe e filha são o exemplo de que a instituição não forma apenas profissionais, ela também constitui famílias. E as abriga. Por 14 anos, a UEPG foi literalmente a casa dos três, no imóvel localizado no bairro Nova Rússia. A filha Angelita Folmer, a mãe Julia Folmer de Andrade Ribeiro e o pai José Airton de Andrade Ribeiro também foram servidores da Universidade ao longo dos anos.
A história começa em 1982, quando Julia foi trabalhar nos serviços gerais da UEPG. Sozinha, ela passou pelo Centro de Criatividade e a Coordenadoria de Desportos e Recreação (CDR), até 1984. Aí veio o marido e Angelita e, junto com eles, a mudança de casa. “Fui cuidar dos ratos”, lembra Julia. O espaço abrigava o Biotério da UEPG, cursos de Engenharia, Biologia e o Centro Astronômico. Lá, a mãe era de tudo um pouco – zeladora, laboratorista, jardineira, vigia e atendente. A função não permitia férias, nem ausências. Mesmo com o trabalho incessante, Julia não se arrepende. “Pude acompanhar o crescimento da minha filha. Ela era pequena, e eu cuidava da minha filha e do local. Para minha sorte, a escola ficava ao lado, então ela sempre ficava próxima a mim”, relembra.
Crescer em uma casa da UEPG era mágico para Angelita. A infância era diferente comparada a uma criança da época. Desde 1985, ano em que chegou com os pais na casa, Angelita teve contato com o Biotério, conhecia os telescópios, sentia as amostras de rochas e até assistia a algumas aulas. “Tinha um quadro enorme de sala de aula e um terreno grande. Eu tinha muito espaço para brincar”. A casa era pequena – sala e copa juntas, uma cozinha, um quarto e um banheiro. “Mas deu para viver tranquilo, com amor a gente vive em qualquer lugar”, explica a mãe.
“Eu amava aquela casa! Tenho ótimas lembranças. Muitos colegas de escola faziam questão de me visitar por lá ser diferente”. Angelita podia desfrutar do privilégio de ser UEPG até nas feiras de ciência da escola. Quando normalmente os alunos levam maquetes, ela podia levar ratinhos e telescópios. “Nós fazíamos ofício, a Universidade liberava e eu levava as coisas da UEPG para apresentar aos meus colegas”.
A rotina também era incomum. O único telefone do local ficava dentro da casa da família, onde todos os professores entravam para telefonar. Angelita, aos 3 anos, já era atendente e fazia das paredes o caderno de anotações. “A Angelita anotava os recados na parede e esquecia de me avisar, porque eu estava trabalhando naquele momento. Ela lembrava no meio da madrugada e me chamava. Eu ia ver e ela tinha anotado na parede”, relembra, aos risos, Julia. Depois da ligação que os professores faziam, a casa também servia de lazer. “Os professores chegavam, viam a televisão no meu quarto e sentavam na cama para assistir jogo, queriam ver final de campeonato”, conta a mãe. A família saiu de lá em 1999, depois de adquirir a casa própria.
Em 2017, depois do incentivo dos pais, Angelita retornou à UEPG para trabalhar. Na época, ela atuava em banco, mas fez concurso e passou na segunda tentativa. Atualmente, é servidora na divisão de carreiras da Pró-Reitoria de Recursos Humanos.
Carreira
Em visita ao Bloco M, na última terça-feira (11), a família sente como se nunca tivesse ido embora. Os três olham para o mural com fotos dos formandos em Medicina e comentam: “Esse era o palhaço da turma”; “Esse não é o que está trabalhando no Hospital Universitário agora?”. A memória afetiva tão viva é porque a história do casal não termina com a saída da Nova Rússia. Ambos permaneceram atuantes na UEPG. Em 99, Julia foi atuar no Biotério, que hoje fica no bloco M. Depois de três anos, foi transferida para o Laboratório de Química Farmacêutica. E lá ficou até se aposentar.
O pai, José Airton, embarcou no corpo de funcionários da UEPG em 1991, para auxiliar na construção do Bloco M. “Fui ajudar como pintor. Em 92 saiu o concurso e eu passei direto”. José trabalhou na pintura por 23 anos. Nos anos 90, a UEPG tinha parcerias com outros órgãos municipais e lá ia José conhecer outros lugares e fazer novas amizades. “A gente fazia serviços em toda a parte da cidade, onde a kombi levasse. Para mim foi divertido, porque cada dia eu estava em um lugar, então conheci praticamente todos os funcionários da UEPG”. Depois de um emprego agitado, José foi transferido para o Laboratório de Medicina, em 2015, até se aposentar, quatro anos depois.
A visita ao Bloco M o fez retornar ao local de trabalho. A sala estava fechada. José apoiou as mãos no vidro e apontou. “Tá vendo aquela cadeira ali? Era onde eu sentava, aquele era o meu lugar”. A sintonia do casal transpareceu até nas datas. Eles se aposentaram no mesmo ano, em 2019, com um mês de diferença. E entraram em junho, mesma data, mas em anos diferentes. “A mãe aposentou em maio e eu entrei em maio. Maio e junho são meses bem marcantes para nós”, explica Angelita.
A experiência de trabalhar na UEPG também é gratificante para a filha. “Tive a grande oportunidade de trabalhar com o professor Carlos Zaremba, que foi um ótimo chefe, tive contato com a organização dos Jogos da Primavera, Jogos Universitários e pude ver o esporte de uma maneira diferente”. Antes de trabalhar na ProRH, ela atuava no Departamento de Educação Física.
Os três não deixam de estar juntos, mesmo agora após a aposentadoria dos pais. Quando todos ainda trabalhavam na UEPG, aproveitavam para almoçar juntos. “Mas agora a gente mantém esse vínculo, meus pais me buscam e sempre almoçamos juntos, nunca nos separamos”, comemora a filha.
Lar
“Morar na UEPG foi gratificante. Agradeço aos professores que me deram a oportunidade de poder trabalhar e ficar junto com minha filha”, conta Julia. A filha tinha 1 ano quando a família se mudou e saiu quando ela tinha 15. “As festas de aniversário aconteciam nessa casa. Conheci muitas pessoas, muitos professores, criei uma grande amizade e foi muito gratificante. Tive ótimos amigos e colegas de trabalho. Aprendi muito”, relembra a servidora aposentada.
“Eu vi esse lugar crescer, o Campus Uvaranas era um descampado e nós vimos tudo isso se transformar no que é. Posso dizer de boca cheia que tudo o que tenho e pude dar para minha filha foi com o trabalho daqui. Ficamos muito agradecidos”, destaca o pai.
Para Angelita, é como se ela trabalhasse na UEPG a vida inteira: “Eu tenho um amor muito grande pela UEPG, porque ela é a minha casa. Não é uma segunda casa, ela é a MINHA casa. Minha segunda casa é onde eu vou depois do trabalho. Eu nasci aqui dentro, eu cresci aqui dentro e eu trabalho aqui. A UEPG é tudo para mim, é um amor que não tem como explicar”.
Texto e fotos: Jéssica Natal e Arquivo Pessoal dos Entrevistados