Reencontro da extensão com a comunidade: UEPG retoma atividades presenciais no Crutac, em Itaiacoca

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Na estrada de chão, se vê ao longe o casal Maria e João. Os passos lentos da caminhada acontecem pela idade, já avançada, dos dois. Mas o tempo não é problema para eles – é sábado, dia de ir ao Crutac. O Centro Rural de Treinamento e Ação Comunitária (Crutac), primeiro projeto de extensão da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), retornou às atividades com a comunidade em outubro, após o tempo de afastamento devido à pandemia. Assim como acontece com Maria e João, o Crutac atende toda a comunidade rural do entorno, com orientações em saúde de forma multidisciplinar.

Maria Maciel de Lara e João Giardino de Lara estão casados há 60 anos e, desde que se conhecem por gente, moram em Itaiacoca, distrito a 27 quilômetros de Ponta Grossa. Ambos com 80 anos, o casal é amigo de longa data do projeto da UEPG. “Lembro de vir consultar com uma dentista da Universidade, quando o projeto começou, e sempre que posso venho visitar aqui”, conta Maria. João lembra que saiu com alguns dentes restaurados nas primeiras vezes que frequentou o Crutac. “Quando a gente sabe que tem atividade aqui, vamos contando para os vizinhos, convidando todo mundo, porque a Universidade sempre cuidou muito bem da gente”, ressalta João.

A manhã do último sábado (20) foi um acontecimento para o casal. Depois de um tempo sem visitar o Crutac, eles foram atendidos pelo grupo de acadêmicos do curso de medicina, que mediram a pressão, altura e o peso da comunidade que compareceu. A atividade fez parte do Dia Mundial do Diabetes, comemorado em 14 de novembro, que busca conscientizar a população sobre a doença. Durante o atendimento com uma das alunas, Maria não conseguiu conter as lágrimas pelo recente falecimento do seu irmão mais velho, vítima de pneumonia. O desabafo perante a acadêmica Ana Carla Dlugosz ressaltou a importância do contato direto entre profissional da saúde e paciente. “Cada paciente é uma surpresa, a gente nunca sabe o que pode vir dali, então quanto mais contato a gente puder ter, melhor o atendimento, por isso essa interação é tão importante para a nossa formação acadêmica”, destaca Ana.

Maria e João não foram os únicos a serem atendidos na atividade. Enquanto o casal era o primeiro a ser avaliado pelo grupo, o estudante Luiz Roberto Ribas parava os carros na estrada para oferecer o atendimento gratuito. Alguns aceitavam a abordagem e entravam na casa do Crutac. “Achei importante expandir esse conhecimento para além da Universidade. Conseguir aplicar tudo o que a gente está aprendendo é uma forma de todos se ajudarem, a gente desenvolve a prática e eles têm atendimento médico profissional”, ressalta Luiz.

Apesar da manhã com o céu cinza, aos poucos a cor azul foi aparecendo para contrastar com o verde que rodeia a região do Crutac. Maria e João, após o atendimento, encontraram os amigos que aceitaram o convite para comparecer aos atendimentos. Lavradores aposentados, o casal celebra a vida construída do jeito simples do interior, com o saldo de três filhos, quatro netos e sete bisnetos. “É muito bom viver aqui e ver o pessoal viver aqui. Moramos a 9km do Crutac e agora sabemos que podemos vir aqui sempre, pois voltaram as atividades”, comemora Maria.

Ensino

O desenvolvimento das habilidades técnicas essenciais foi objetivo da atividade com os acadêmicos, segundo o professor do curso de Medicina, Mario Cláudio Sturrzeneker. “O que os alunos realizaram é a base da medicina, que é fazer uma boa entrevista para conhecer o paciente.  A partir daí, fazer o perfil do individuo no contexto de doenças em geral. Eles treinam habilidade e ajudam automaticamente a população”, frisa.

“A atividade desenvolvida acontece no sentido de prevenir diabetes e doenças cardiovasculares”, enfatiza a professora Gianna Alberti, que estava coordenando os estudantes durante os atendimentos. A professora destaca que os alunos realizaram o atendimento em uma população que não está, necessariamente, doente. “Isso é muito importante para eles, pois é isso também do que se trata a medicina: a prevenção. Eles não vão lidar somente com doenças, mas também trabalhar para preveni-las”.

O atendimento no Crutac, em outubro, acontece também com a coordenação dos professores Sinvaldo Baglie e Margarete Maciel. Do Departamento de Ciências Farmacêuticas, o professor Sinvaldo coordena o projeto Assistência Farmacêutica e Médica no Crutac que, juntamente com os alunos de Farmácia, realiza orientação do uso de medicamentos para a comunidade. A professora Margarete, do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas, coordena o projeto Avaliação Laboratorial na Assistência à saúde e Prevenção de Doenças. “A população é atendida por médicos da Prefeitura de Ponta Grossa e nós complementamos esse trabalho realizando os exames laboratoriais solicitados”, explica. A professora ressalta que o retorno das atividades de extensão representa a ação do poder público junto à uma comunidade distante, que durante a pandemia teve restrição para atendimentos. “Agora é hora da gente retornar com esse cuidado e assistência integral ao paciente, de maneira presencial, sempre mantendo todos os cuidados, pois a pandemia ainda não acabou”, destaca.

Ponte com a extensão 

A história da UEPG se confunde com a história da extensão. O Crutac surgiu na instituição em 1972, por iniciativa do então  professor e ex-reitor Álvaro Augusto da Cunha Rocha, num conceito multidisciplinar de trabalho, com os cursos de Serviço Social, Odontologia, Farmácia Bioquímica e Educação atendendo à comunidade. “O trabalho no Crutac é uma referência para a extensão e tem uma importância fundamental no contexto da relação da Universidade e a comunidade”, evidencia a pró-reitora de Extensão e Assuntos Culturais, Edina Schimanski. O Crutac tem um significado especial, pois representa a história da extensão em conjunto com história da Universidade, conforme explica a pró-reitora. “A atividade que foi realizada no último sábado, e as que estão acontecendo neste mês, têm uma importância ímpar para a comunidade, porque levam até a população políticas públicas de cuidado”, finaliza.

Texto e Fotos: Jéssica Natal


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