UEPG realiza bancas para candidatos autodeclarados negros no Vestibular e PSS

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A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) finalizou, nesta segunda-feira (06) as Bancas de Avaliação Complementar à Autodeclaração Racial para os aprovados no Vestibular 2022 e PSS 3, pelas cotas de alunos pretos. As ações iniciaram em 03 de fevereiro, com organização da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae).

Nesta edição do Vestibular, foram aprovados, em primeira chamada, 138 candidatos ingressantes em cotas de alunos negros. Uma das novidades das provas foi a separação de cotas e criação de novas modalidades. Anteriormente, as cotas para alunos negros representavam 10% das vagas destinadas para alunos oriundos de escola pública (50% das vagas). Atualmente, os candidatos negros contam com duas cotas próprias: uma para oriundos de escola pública e outra em que independe o percurso escolar.

A banca é realizada pela Comissão de Avaliação Complementar à Autodeclaração Racial de Candidatos Cotistas da UEPG, responsável por realizar o procedimento de heteroidentificação, complementar à autoidentificação declarada pelo candidato. O objetivo da heteroidentificação consiste em analisar visualmente os candidatos e observar seu fenótipo.

“As bancas funcionam de forma simples, porém eficiente. Parabenizo o esforço de todos e todas neste processo, pois a avaliação é necessária para que as políticas públicas cheguem a quem precise”, comenta Cristiane Zelenski, presidente do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial, que compôs a banca de avaliação. 

A presidente observa que é preciso avançar nas políticas afirmativas e sugere tratar o tema das cotas com alunos pretos em idade escolar, sobretudo da escola pública. “Eles precisam compreender que o direito deles às cotas é uma forma de reparação histórica e utilizá-lo para entrar na universidade não é nenhum demérito”.   

A pró-reitora de Assuntos Estudantis da UEPG, Ione da Silva Jovino, comenta que as cotas visam aumentar o número de alunos negros na Universidade. “Elas são uma política de entrada, porém, é necessário pensar em políticas que garantam a permanência e o êxito profissional do aluno”, ressalta.

A egressa da UEPG Merylin Ricieli dos Santos também participou das bancas complementares. Ela cursou Licenciatura em História pela UEPG, entre 2010 e 2013, e ingressou na UEPG através das cotas para estudantes de escola pública. Quando ela prestou o vestibular, não havia a possibilidade de se inscrever pela cota de alunos negros, que não abriu naquele ano por falta de candidatos. Ela acredita que alterações nas regras, como esta, permitem a ampliação de alunos negros na instituição. “Uma das mudanças positivas que observo é que não é mais necessário haver um número mínimo de candidatos para abrir essas modalidades de cotas. A UEPG praticamente  dobrou o número de alunos negros em seus cursos”, aponta a ex-aluna. A egressa declara se sentir feliz em poder participar das bancas de heteroidentificação, pois, mostra que a questão racial, a inclusão e o apoio ao estudante são tratados com seriedade pela Universidade.  

Ações afirmativas na UEPG

Ione explica que tão importante quanto as políticas de entrada dos estudantes negros na universidade são as políticas de permanência, impactada por motivos diversos, como o preconceito, questões de pertencimento e de saúde mental. A pró-reitora destaca que, para que a permanência se concretize, é preciso fornecer instrumentos de apoio, emocional e material, ao estudante.

Entre as ações de permanência desenvolvidas pela Prae, a professora cita ações como rodas de conversa, grupos para alunos cotistas, seminários e eventos voltados à questão racial, entre outras atividades. “Todas as políticas afirmativas que desenvolvemos buscam impactar na saúde mental do estudante, de forma que ele se sinta acolhido e pertencente ao ambiente universitário”, complementa. No site da Prae, estão listadas as ações afirmativas desenvolvidas pela UEPG para seus estudantes, e o público-alvo de cada uma. 

Bolsa permanência para estudantes negros

Oito estudantes negros da UEPG serão selecionados para receber bolsas-permanência captadas por recursos de um programa de financiamento estudantil da rede de supermercados Carrefour, oriundo de acordo judicial a ser cumprido pela empresa. A UEPG é uma das vencedoras do processo que selecionou Universidades para receber verba do projeto. 

Além da UEPG, outras Instituições de Ensino Superior, públicas e particulares, participam do projeto. Todas foram selecionadas por já contar com ações afirmativas voltadas aos alunos negros. O objetivo do financiamento é fortalecer ações afirmativas já existentes nas instituições, como as cotas voltadas para acadêmicos negros em vestibulares. 

Na graduação, foram contemplados com uma bolsa os cursos de Ciências Biológicas, Administração, Engenharia de Alimentos e duas bolsas para o curso de Medicina. Para a pós-graduação, os cursos de Mestrado em Estudos da Linguagem, Jornalismo e Educação receberão uma bolsa cada.    

O financiamento ocorrerá durante todo o período de cursos dos alunos contemplados, a partir de 2023, em pagamentos mensais. Para os estudantes de graduação, a bolsa paga será no valor de R$ 1.000 e para os mestrandos, o valor pago será de R$ 3.500. Informações sobre inscrição e regras do financiamento constam no edital do projeto

“A recompensa está na possibilidade de prover a permanência e a qualidade de vida dos alunos e alunas que serão selecionados para o recebimento da bolsa”, afirma Ione. Para ela, o principal impacto é social, pois “proporciona segurança através de uma bolsa com valor acima do praticado por agências de fomento e que podem vir a contribuir para o sucesso acadêmico de alunas e alunos negros”.

Texto: Gabriel Miguel | Foto: Aline Jasper


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