Na manhã desta quarta-feira (11), Dia do Estudante, a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), por meio da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae), lançou o Canal de Escuta Gênero e Diversidades. O projeto é pioneiro no Paraná e visa combater a prática de ações preconceituosas e discriminatórias que atentem contra a dignidade humana, liberdades individuais e direitos dos acadêmicos. O evento aconteceu de maneira híbrida, com transmissão ao vivo pelo Facebook da UEPG.
A ideia do Canal nasceu de demandas da própria comunidade universitária, segundo a pró-reitora de Assuntos Estudantis Ione Jovino. “Nos chamou a atenção a necessidade de haver uma instância específica para acolhimento em questões de assédio, discriminações e preconceitos, porque um dos primeiros atendimentos da Prae foi justamente de escuta”, explica. Segundo Ione, muitas vezes faltava o acesso necessário para que denúncias fossem feitas, sobretudo de alunas. “Alunas que queriam saber até que ponto um orientador poderia determinar escolhas a serem feitas na sua vida pessoal ou profissional; alunas que tinham sua capacidade intelectual posta em dúvida publicamente, em virtude do seu pertencimento étnico ou racial; alunas que entravam na Prae e diziam ‘professora, eu só queria conversar, a senhora pode me escutar?'”, conta.
O professor Miguel Sanches Neto, reitor da UEPG, enfatiza que a criação de um canal que combatesse formas de preconceito era um compromisso da gestão. “A UEPG sempre se destacou por pesquisas e projetos nessas áreas, e agora temos dentro da nossa estrutura um canal específico para acolhida de pessoas que venham a sofrer discriminação”, destaca. Para o reitor, o canal irá aliar pesquisas e projetos à uma estrutura que será porta de entrada de demandas dos alunos. “A partir desse portal, nós poderemos fazer uma Universidade mais inclusiva e mais respeitosa com todos”.
“Esse trabalho representa a formulação de condições necessárias para que a formação aconteça de modo desejável”, frisa o pró-reitor de graduação Carlos Willians Morais. O professor destaca que o canal demonstra a valorização da pessoa, para que a política de ensino na graduação e pós-graduação possa acontecer. “Nós vivemos em um contexto político social de pouco reconhecimento de direitos sociais e das políticas de gênero. A UEPG se coloca na contramão e na vanguarda, porque reconhece esses diferentes grupos”.
O representante do Coletivo de Estudos e Ações Indígenas (Ceai), Alexandre Kauaray de Quadros, enfatizou o trabalho do grupo na elaboração de trabalho na visibilidade da cultura e do conhecimento indígena. “Temos muito a agradecer sobre a criação desse Canal, pois será muito importante para nós, não apenas para indígenas, mas também todos os acadêmicos da UEPG”. Para Maria Cristina Rauch, representando o Núcleo Maria da Penha (Numape), o canal atende demandas antigas da Universidade. “Ter esse canal de escuta é muito importante para o cotidiano de trabalho e estudos”. A professora conta que o Numape acabou sendo um canal de escuta de alunos, em alguns momentos. “Isso demonstra a necessidade que tínhamos desse canal. É muito importante para que a gente possa combater todas as formas de violência e preconceito ligadas a gênero e diversidade”, salienta.
Marcio Ornat, coordenador do Grupo de Estudos Territoriais (Gete), explica que durante as pesquisas realizadas pelo grupo, os espaços educacionais eram constituídos por ações LGBTFóbicas. “Nós temos um longo caminho pela frente, mas esse caminho se faz na caminhada, no assumir responsabilidades, algo que está sendo realizado pela UEPG. Que possamos criar uma Universidade cada vez mais diversa e plural”, comemora. A professora Ângela Ribeiro Ferreira, representante do Laboratório de Estudos de Gênero, Diversidade, Infância e Subjetividades (Lajedis), ressaltou a importância do canal. “Já escutamos denúncias de assédio e preconceito contra alunos indígenas e, na maioria das vezes, não tínhamos um canal para que as denúncias fossem além”. Para ela, Canal de Escuta tem o potencial de reunir ações realizadas na instituição. “O canal pode ser um veículo de institucionalização das ações. Isso tem um potencial educativo muito maior do que ações isoladas nos cursos”.
“É um trabalho histórico e fundamental para colocar a UEPG no século 21”, enfatiza Nei Alberto Salles Filho, do Núcleo de Estudos para a Paz. “Precisamos buscar a qualidade no atendimento aos alunos. Temos condicionantes históricos e sociais, onde é o homem branco hétero que manda”, explica. Para Nei, a Universidade deve agir para incentivar o diálogo. “Estamos vivendo um momento onde a UEPG trabalha na valorização do estudante”.
Lenir Mainardes, do Núcleo de Questão Ambiental, Gênero e Condição de Pobrezas, ressaltou a importância do canal de escuta nas questões de gênero. “Na medida que se cria esse canal, a UEPG reconhece que a questão de gênero é uma parte que compõe a instituição. Os estudantes saberão que terão um ponto de apoio e escuta”. Além das questões de gênero, a importância do Canal também leva em consideração reivindicações LGBTQIA+, de acordo com Susana Maria Bartmeyer, representante da Parada LGBT+ de Ponta Grossa. “Eu acredito que a Universidade deve ser um ambiente de respeito, a identidade de cada um deve ser respeitada. Como estudante, fico muito emocionada por poder celebrar este momento. Acredito que também é uma grande felicidade para todos os acadêmicos”, finaliza.
O Canal de Escuta Gênero e Diversidade receberá demandas por canal digital ou pelos contatos (42) 3220-3227; praeescuta@uepg.br
Texto: Jéssica Natal | Fotos: Aline Jasper