A Central Estadual de Abastecimento do Paraná do Tatuquara, em Curitiba, tem um dos menores índices de contaminação por coronavírus se comparada às demais unidades do Brasil. Eder Eduardo Bublitz, diretor-presidente da Ceasa, credita este índice ao trabalho realizado por 16 bolsistas do Programa de Apoio Institucional para Ações Extensionistas de Prevenção, Cuidados e Combate à Pandemia do Coronavírus, realizado em parceria pela Fundação Araucária, Secretaria da Saúde (SESA), Superintendência da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI) e Itaipu. A iniciativa foi criada para atender a demanda da chamada pública 09/2020.
A partir de um trabalho também coordenado pela Secretaria de Abastecimento (Seab), a Central foi escolhida logo no início da pandemia como um dos pontos de Atenção às Divisas do Estado. O fluxo de cerca de 27 mil pessoas, 8 mil trabalhadores diretos e aproximadamente 19 mil indiretos, foi a motivação principal para a atuação preventiva dos bolsistas em um ambiente com alto risco de transmissão de doenças.
Com o início dos trabalhos em abril, a Central passou a ser a única entre as 74 unidades do Brasil que realiza um trabalho de atenção à saúde durante a pandemia. A cada noite, em média, 700 pessoas são abordadas, sendo que cada bolsista consegue realizar 80 atendimentos.
Na 2ª Regional de Saúde, à qual pertence a Ceasa, a atuação dos bolsistas é conduzida pelas Universidades Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e Federal do Paraná (UFPR). Rafael Gomes Ditterich, professor da UFPR, vice-coordenador do polo de ação em Curitiba e região metropolitana, detalha que duas equipes, formadas por estudantes e profissionais da área da saúde, revezam os dias de trabalho.
O professor explica que, quando estão na Ceasa, a primeira série de abordagens acontece às 22h. “Nesse momento, inicia-se o trabalho com os caminhoneiros que chegam trazendo frutas e hortaliças. As equipes aferem a temperatura e orientam sobre sintomas da Covid-19”. Ditterich complementa que das 4h às 9h da manhã, acontece a segunda parte do trabalho, em que são abordados produtores e os carrinheiros na área dos boxes. O trabalho é concluído ao fim da manhã no Mercado do Produtor.
A comerciante Angélica Paviliki diz gostar muito das orientações e cuidados. “Eu estou vendo uma coisa boa porque estão orientando muito os produtores. Tinha muito senhor vindo sem máscara, sem luva, e agora está sendo orientado. Então, eles estão se prevenindo mais”. Ela relata que percebeu a diferença: “estão lavando as mãos e passando álcool em gel”. Angélica confessa também que mudou alguns hábitos na sua banca. “Eu tinha costume de molhar o dedo na boca para abrir a sacolinha. Então, agora temos que nos cuidar um pouquinho mais”, diz.
A bolsista Thabata Schossler, formada em odontologia, observa que a população da Ceasa tem uma rotina pouco saudável e necessidade de acompanhamento de saúde, em especial os caminhoneiros. “Posso falar como dentista. Tenho muita dificuldade de atender os meus pacientes que são caminhoneiros pela dificuldade de horário. Vejo na prática que são pessoas que têm pouco cuidado com a saúde, no geral. Eles não vão ao médico nem ao dentista regularmente porque não têm tempo”.
O impacto da ação na Central de Abastecimento é positiva, de acordo com o coordenador das equipes de saúde que atuam nas Divisas do Estado, Osvaldo Tchaikovski Junior. Ele destaca que a atuação dos bolsistas na Ceasa é de suma importância porque, além dos comerciantes e carrinheiros, caminhoneiros de todas as regiões do Paraná, inclusive de Estados vizinhos, geram um fluxo intenso de pessoas na Central.
O professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa e coordenador do polo Curitiba, Giovani Fávero, avalia positivamente a atividade junto a um público vulnerável, que trabalha intensamente por várias horas. Para ele, a Ceasa, por, inevitavelmente, gerar aglomeração, é um local abundante para aprendizado. “Os acadêmicos atuam nas principais frentes universitárias: a extensão, colocando em prática os conhecimentos adquiridos na academia, com um relacionamento direto com a população; a dupla via ensino-aprendizagem; e a pesquisa, pois toda a ação é coletada e avaliada quantitativa e qualitativamente”.
Texto e fotos 1 e 2: Luciane Navarro Fotos 3 e 4: Aline Jasper
Confira o vídeo que registra o trabalho das equipes na Ceasa