UEPG homenageia mães com histórias de alunas, pesquisadoras, professoras, servidoras e pacientes

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Sonhar, enfrentar, superar, acolher, amar. A experiência de ser mãe é diferente para cada uma, mas igualmente transformadora. Neste Dia das Mães, a Universidade Estadual de Ponta Grossa reuniu histórias de mães que fazem parte da instituição, como alunas, pesquisadoras, professoras, servidoras e pacientes.

Sonhar

Ana Claudia sonhou ser mãe. Realizou: três lindas filhas, três Marias: Maria Larissa, Maria Rafaela, Maria Eduarda. Com as filhas adolescentes, se permitiu sonhar com um curso superior, uma especialização, um mestrado. “Com muito ‘agito e loucurada’, entre casa, trabalho, família e todas as exigências da faculdade, fiz a graduação por insistência e apoio irrestrito delas; fiz o mestrado em cumplicidade com elas, e agora, rumo ao doutorado para realizar o sonho delas: ver a mãe doutora”. Ana Claudia Pereira Andruchiw é graduada em Letras Português-Espanhol, especialista em Ensino de Filosofia no Ensino Médio e mestre em Estudos da Linguagem pela UEPG.

“Mãe é um ser atormentado e obcecado por ver um outro ser feliz”, define. Até por isso, criar três filhas é um trabalho de uma vida toda. Olhando para trás, a reação é honesta: “que loucura!”. Para Ana Claudia, pesou a responsabilidade de moldar seres humanos. “Olho assombrada para cada momento em que gestei, pelo destemor e coragem que ia gestando ao mesmo tempo, talvez pelo atrevimento de, com base em meus valores, gerar vidas, criar, vê-las crescer, tomarem vida própria e voarem com autonomia mundo afora. Se pensar bem, bem mesmo, tudo isso é muito louco”, lembra. Para além dos sonhos, a maternidade é algo muito real. “Já chorei muito nos banheiros e nos ônibus da vida, por culpa, por medo de não dar conta, por julgamentos, por deixar chorando um bebê que arranca a corrente do seu pescoço no momento de ir… O cansaço físico no final do dia era quase insignificante perto do peso da consciência noturna que assustava o sono: são três vidas, Ana Claudia, três belas, fascinantes e divinas vidas sob tua responsabilidade”.

Com a maternidade, a professora se tornou mais aguerrida, audaciosa e perseverante, na visão das próprias filhas. “A Ana Claudia de agora não tolera mais injustiça nenhuma nesse mundo”. Fica a lembrança de histórias de ninar (adaptadas do seriado “Todo mundo odeia o Chris” – um embuste, denuncia a própria mãe), com detalhes fantasiados e dramatizados só para ver lindos olhinhos brilhando. “Que no coração guardem na memória a imagem de uma mãe que, errando ou acertando, queria vê-las felizes com o que se elas se tornaram, que sejam orgulhosas de suas trajetórias, que se respeitem e se amem como se fosse um pacto eterno com essa mãe”, deseja. “No meu caso, mãe vai ser mãe até quando elas fugirem para a China: recado dado, meninas!”.

Enfrentar

Cursar uma graduação é um trabalho difícil. Cuidar de um bebê de dois anos, também. A Dieine Laíza de Souza, aluna do segundo ano de Zootecnia da UEPG, precisou conciliar as duas coisas por mais de um mês, enquanto aguardava vaga para o filho em um Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei). Foi um desafio para a aluna, para o pequeno Ádan e para colegas e professores – recebido com muita empatia e compreensão. Nas aulas de Genética, por exemplo, que é uma das matérias tidas como mais difíceis do curso, o professor ofereceu uma ajuda para além da sala de aula. “Ele se ofereceu pra me dar aula nesses horários reservados para tirar dúvidas, enquanto a esposa dele cuidava do meu bebê”, conta Dieine.

Natural de São Mateus do Sul, Dieine veio para Ponta Grossa em 2019, para cursar Zootecnia. Durante a pandemia, engravidou e decidiu trancar o curso. “Nesses dois anos em que eu tinha ficado parada, eu estava bem frustrada com relação a isso”, rememora. A expectativa de ter uma formação e poder conseguir melhores condições de emprego fez com que ela decidisse retornar, mesmo com as dificuldades de viver sozinha com o filho em uma cidade diferente. Ainda é cedo para decidir, mas o contato que já teve com a área de produção animal, principalmente de equinos, faz querer seguir nesta linha de trabalho.

Agora, com a vaga na creche garantida, graças à intervenção da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis e do Ministério Público, ficou mais fácil conciliar os estudos com a maternidade. Ainda assim, é um equilibrar de pratos. No futuro, ela não quer que Ádan pense que foi preciso abdicar de algo com a vinda dele, mas sim que foi uma superação das dificuldades. “Eu imagino que ele vai me ver como uma pessoa forte”, deseja.

Superar

“Eu sempre achei que ser professora é uma grande coisa. Eu tenho muito orgulho de ser professora e muito orgulho de trabalhar em uma universidade pública”. É isso que a professora Marina Legroski, do Departamento de Estudos da Linguagem da UEPG, fala para a filha Aurora (5 anos) sempre que ela questiona por que a mãe precisa ir trabalhar. No primeiro ano de vida da pequena, as viagens entre Curitiba, onde a família mora, e Ponta Grossa, onde a professora leciona em alguns dias da semana, eram uma rotina compartilhada entre as duas, por conta da amamentação.

“Foi uma aventura, uma loucura”. A correria de trazer a filha, deixar com uma cuidadora enquanto dá aulas, dormir em Ponta Grossa, voltar para Curitiba depois de alguns dias foi tão marcante que rendeu até um ensaio fotográfico, para registrar essa fase da vida. “Desde bebezinha, ela não aceitava ficar longe de mim”, lembra Marina. Por isso, a adaptação da rotina foi sempre uma realidade – nas horas em que Aurora tirava sonecas, a mãe conseguia trabalhar na preparação de aulas, correções de provas e trabalhos e outras atividades.

Para quem imaginava que não iria ter filhos ou ter filhos por adoção, a gravidez veio como uma surpresa. Mas olhando para trás, Marina consegue perceber que inconscientemente organizou a vida para receber a Aurora. “Eu achei incrível me tornar mãe, não imaginava que ia ser tão legal assim”, brinca. “Quando ela nasceu, foi uma coisa transformadora e arrebatadora. Foi muito mágico, me vinculei com aquele serzinho muito rápido”.

Para além da maternidade real, que envolve abdicar de coisas, mudar rotinas e enfrentar o que vier pelo caminho, ser mãe é uma experiência que traz grandeza. “Eu me sinto uma pessoa melhor pelas coisas que eu consigo fazer por ela, pelo que eu consigo suportar. Eu não aguento mais, mas mesmo assim eu sigo. Isso parece que me torna uma pessoa melhor, mais capaz e enfim, mais resiliente”, avalia. “Outra coisa que eu também considero muito transformadora é a experiência de você ser amado por uma criança, algo que eu gostaria que todo mundo tivesse”.

Acolher

A barriguinha já aparente das 21 semanas de gestação de Eliane Belo normalmente não chamaria a atenção na maternidade do Hospital Universitário Materno-Infantil da UEPG. A diferença é que, além de paciente, ela também é técnica de enfermagem e trabalha na triagem das gestantes que vêm fazer o pré-natal.

“É muito prazeroso, porque a gente pode compartilhar experiências da gestação”. A cada gestante que percebe a barriga saliente, a curiosidade: “você também está gravida?”; “é menino ou menina?”. É menina, a pequena Lívia Maria. “Mas, claro, tem que segurar o emocional, né? Quando chega uma gestante com sangramento, ou após um aborto…”. Aí é difícil de não se colocar no lugar da paciente. “Eu fico com o coração na mão”.

A primeira gravidez de Eliane foi totalmente diferente. Há 15 anos, quando teve a Eliandra, não trabalhava na área da saúde e não tinha o conhecimento que tem hoje para levar a gestação com mais tranquilidade e consciência. Com uma experiência difícil no primeiro parto, que teve complicações que levaram a uma cesárea de emergência, ela buscou mais informações e consegue vislumbrar um momento bem mais humanizado, desta vez. “Aqui eu tenho o apoio da equipe, das enfermeiras e médicos”, aponta a técnica, que planeja ganhar o bebê no próprio Humai.

Ser mãe, para Eliane, é algo indescritível. Mas, na prática, é dividir um amor que se multiplica. “Com a vinda da Lívia, eu consegui perceber que amo ainda mais a minha primeira filha”, declara. E a adolescente retribui com carinho e preocupação. “Ela está feliz, se preocupa bastante, manda mensagem perguntando se tomei água, se comi, se não estou usando calça apertada”, ri.

Amar

Quando vale estar junto da mãe em um dos momentos mais importantes da sua vida? Para Layane Pimenta Araújo, vale muito. Vale tanto, que ela deixou em Pinheiro, no Maranhão, o marido, sua vida e suas coisas, para ganhar o pequeno Anthony Gabriel na maternidade do Hospital Universitário Materno-Infantil (Humai). Foram mais de 3 000 km percorridos até o abraço carinhoso da mãe e, agora, avó.

Foi um parto humanizado, forte. Um dos cerca de 250 nascimentos que acontecem por mês na maternidade, que atende exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). As contrações começaram de madrugada, com frequência cada vez maior. “Eu tinha consulta no postinho, de pré-natal. Eu fui e falei com a médica, que disse que não ia demorar muito, mas também não falou que seria no mesmo dia”, brinca. Depois de estourada a bolsa amniótica, foi para o hospital, onde o processo de parto evoluiu rápido. Mas a presença da mãe, a liberdade de fazer o que queria e ficar nas posições mais confortáveis e o apoio da equipe multiprofissional foram essenciais para aliviar a dor e dar forças.

O João Victor Duarte dos Santos, residente em Obstetrícia, foi uma figura importante no parto de Layane. “Já no primeiro contato que tive com ela, o objetivo foi de acalmar, dizer que estava tudo certo”, conta o enfermeiro. “Essa é nossa função: acompanhar, garantindo a segurança da mãe e do bebê, até o momento em que o parto ocorre. Nossa função é amparar o nascimento; quem faz todo o processo é a mãe e o bebê”. Somando a segurança de poder se movimentar e ficar na posição que queria, a ação calmante e analgésica da água, a confiança no próprio corpo e o apoio da equipe de enfermagem, Anthony pôde vir ao mundo com tranquilidade e segurança. Para João, essa humanização faz toda a diferença. “Para as gestantes, é uma experiência que vai ficar marcada para o resto da vida. Uma experiência positiva numa gestação tem a tendência de se repetir na próxima”.

“Foi tudo muito perfeito, até mais do que eu esperava, e vai ficar pra mim para sempre marcado. Depois que a dor acaba, tudo vira amor”. Como conta Layane, ela foi surpreendida com a possibilidade de ter a mãe como acompanhante na hora do parto. Esse direito, garantido pela Lei Federal nº 11.108, é negado em muitas maternidades país afora. O que estava na mente da mãe, Maria Joelma Pimenta Brito, era dar coragem à filha. “Eu ia conversando com ela, explicando, falando como ela devia fazer pra ajudar no nascimento do bebê, ser mais rápido, para ela se livrar de toda aquela dor”, conta. E logo já aconteceu o momento do parto, presenciado pela avó, que pôde até mesmo cortar o cordão umbilical. “Nunca pensei na minha vida que eu ia sentir tanto amor, naquele momento, por essa criancinha que eu nunca tinha visto. Foi como se eu estivesse tendo ela de novo”.

“Hoje, mais que nunca, eu sei o valor que ela tem para mim”, declara Layane. “Ela sabe o quanto eu amo ela; o quanto eu já a amava e agora muito mais, depois de ter passado por tudo isso e ver o que ela passou por mim”. Com o pequeno netinho nos braços, Maria Joelma já faz planos para um futuro cheio de carinho: “a mamãe educa, a vovó estraga”.

Texto: Aline Jasper | Fotos: Aline Jasper e Arquivo Pessoal

            


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