Dia da Pessoa com Deficiência: conheça Stephanie, aluna e atleta medalhista

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Onze de outubro marca o Dia da Pessoa com Deficiência no Brasil, instituído pela Lei Nº 2.795, promulgada em 15 de abril de 1981 pelo governo de São Paulo e posteriormente comemorada em todo o território nacional. O objetivo do marco é promover a conscientização da sociedade sobre as ações que devem ser realizadas para garantir a qualidade de vida e a promoção dos direitos das pessoas com deficiência física. Na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), a inclusão é tema recorrente através de ações afirmativas, projetos e programas organizados por diversos setores.

Para Stephanie Borba, a instituição é local de crescer e evoluir. Ela é uma pessoa com deficiência visual e aluna de pós-graduação da instituição, atuando como residente técnica na Procuradoria Jurídica (Projur) da UEPG. Além da parte profissional, Stephanie é atleta e tem uma rotina puxada em treinos de corrida, salto em distância e lançamento de disco. Na última semana, a jovem bacharel em Direito foi medalhista das Paraolimpíadas Universitárias, em que representou a UEPG e levou Ouro em Salto em distância, prata em 100 metros rasos e prata em lançamento de disco.

Desafios

Os desafios na vida de Stephanie vêm desde cedo. Durante a gestação, a mãe de Stephanie teve toxoplasmose, doença infecciosa que quase não transmite sintomas, mas trouxe sequelas. “Nasci com baixa visão por conta de um descolamento de retina”, explica. Aos 13 anos, a jovem passou a ter cegueira total, o que não a impediu de conquistar o diploma de Bacharelado em Direito. Ingressou em uma faculdade particular com bolsa total, mérito conquistado por auxiliar a instituição nas dúvidas sobre acessibilidade e adaptação, e dois anos após formada a atleta participou da prova de Residência Técnica em Gestão Pública da UEPG. “Fiz a prova com inscrição em ampla concorrência; a princípio fiquei na lista de espera, mas me chamaram e iniciei em fevereiro deste ano”, celebra.

Stephanie foi alfabetizada em Braille, método que usou até o ensino médio, porém ao entrar na graduação passou a fazer informática adaptada e usar o notebook. Quando chegou à procuradoria a bacharel precisou de adaptações técnicas, que foram atendidas pelo Núcleo de Tecnologia da Informação (NTI) da UEPG. “Eles adaptaram 3 computadores, para caso um não funcionasse, eu teria outro para recorrer”, completa. Atualmente, Stephanie tem um computador adaptado com NonVisual Desktop Access (NVDA), leitor de tela utilizado para auxiliar deficientes visuais. O uso do NVDA permite que ela acesse documentos e sites necessários, bem como diz em voz alta o que ela está fazendo. “Tudo o que eu fizer o computador vai falar. Se eu digitar, ele diz o que estou digitando, se eu colocar um texto para ler, ele lê. É a tecnologia nos ajudando”, afirma. Stephanie conta que caso algum site não consiga ser lido pelo software, ela pode contar com apoio dos outros estagiários e colegas para dar suporte.

Chefe de gabinete e supervisor da residente técnica, Rauli Gross Junior, relata que Stephanie é dedicada e preparada para exercer as atividades da área jurídica. “Ela tem autonomia em suas ações e exerce com muito zelo todas as tarefas designadas”, afirma. O supervisor ainda reforça que em nenhum momento o fato de possuir uma deficiência impede a jovem bacharel de realizar as metas que estabelece, e que também espera contar com o apoio dela junto à Pró Reitoria de Planejamento (Proplan). “Temos a perspectiva de que ela possa auxiliar nos projetos de reestruturação da acessibilidade dos nossos prédios”, explica. Ao finalizar a fala sobre Stephanie, Rauli enfatiza que a residente técnica tem muito mais a ensinar do que aprender.

Em sua rotina de estágio de pós-graduação, a bacharel acompanha a leitura das intimações juntamente com o advogado responsável e auxilia em questões jurídicas que não exigem registro na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A recepção que tem na instituição é fundamental para a experiência de Stephanie: a UEPG está sendo a primeira oportunidade de trabalhar com direito. “No mercado de trabalho fui rejeitada, não tive oportunidades de estágio, só os não remunerados, e aqui estou tendo contato com o que realmente aprendi”, celebra. Ela ainda enfatiza que estar no NPJ é uma troca: “eu aprendo sobre o direito e, por outro lado, ajudo o pessoal a aprender sobre as deficiências”, afirma.

O apoio da família foi fundamental para seguir em todo o processo de graduação, TCC, estudos e residência técnica na UEPG. “Eles aplaudem todas as minhas conquistas, seja na vida acadêmica ou no esporte, ficam muito orgulhosos”, celebra. Ao falar sobre a UEPG, Stephanie afirma que tudo vai muito além do que ela esperava, de forma positiva. “Acredito que logo teremos mais pessoas com deficiência ocupando este lugar”, declara. Ela também afirma que o maior desafio de uma pessoa que possui deficiência está nas outras pessoas. “Elas enxergam primeiro a deficiência. Se eu falo que sou formada em Direito questionam como fiz isso sendo cega, botam em dúvida nossa capacidade”. Ela reforça que é necessário ver o profissional capaz de exercer suas atividades antes de tudo. Para lidar com os preconceitos Stephanie relata que gosta de mostrar que consegue fazer de tudo sozinha. “Já passei por muita coisa, já sofri bullying na escola, taxada de incapaz ou tratada como criança, mas uso isso como força para seguir em frente”, afirma.

Medalhista com orgulho

A trajetória no esporte iniciou 2 anos após perder a visão, como forma de ter qualidade de vida. “A princípio eu não gostava, sempre que podia eu faltava”, conta rindo. Tudo mudou a partir dos Jogos Escolares de Toledo, primeira competição em que participou, momento que Stephanie afirma ter sido um divisor de águas. O atletismo, a partir daquele momento, se tornou inegociável para a bacharel.

Recentemente, na fase Nacional das Paraolímpiadas Universitárias, Stephanie conquistou um ouro e duas pratas, sendo que os treinos em disco são recentes. “É uma experiência única, e olha que é a primeira vez que participo”, relata a jovem. Stephanie também comenta que a competição foi momento de encontrar ídolos e trocar experiências com outros paratletas. “Espero representar a UEPG muito mais vezes, sou grata ao apoio que ela me dá”, compartilha.

Stephanie corre com um guia, conectados pelo pulso por uma fitinha amarrada. “O atleta guia tem que ser mais condicionado que eu, assim ele consegue ajudar”, explica. Além do atletismo, Stephanie pratica o salto em distância e o lançamento de disco durante treinos diários no Campus Uvaranas.

José é calouro no curso de Educação Física e conheceu Stephanie através do Grupo de Estudo sobre Respostas e Adaptações Fisiológicas ao Exercício (Gerafisio). Em certa aula José comentou que era praticante de atletismo e tinha interesse em competir ou ajudar quem estivesse treinando para isso. “O professor viu que era uma oportunidade de ajudar a Ste”, comenta. Na época o estudante estava sem treinar há um ano por conta dos compromissos com o quartel. “Foi uma oportunidade que surgiu na hora certa e está me dando muita experiência”, afirma. Por ser a primeira vez atuando como guia, todo treino é uma experiência nova para José.

As medalhas da atleta só aumentam, afinal, são 12 anos competindo, mas em maio deste ano Stephanie voltou para casa com duas novas medalhas de prata e uma de ouro na bagagem. Ela havia participado das Paralimpíadas Universitárias realizadas pelo Comitê Paralímpico Brasileiro, representando a UEPG em São Paulo. “Foi importante para mim, é uma competição de nível muito diferente, de alto rendimento. Estava competindo com atletas que foram para Tóquio, o que gera uma sensação boa, de que estou evoluindo”, celebra. Para o futuro Stephanie não tem planos estabelecidos, porém sabe o que deseja: “quero seguir no direito e no esporte, conciliando os dois, não pretendo abrir mão de nenhum! Vou até onde eu conseguir!”, conclui.

Texto e fotos: Amanda Santos


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