Desde o início da pandemia, Anderson esteve na linha de frente, na UTI Covid. Nos últimos dias, com a baixa gradativa na ocupação dos leitos destinados ao coronavírus, passou à escala da UTI Geral. O ambiente é mais tranquilo – se é que dá para chamar de tranquila a correria de uma Unidade de Terapia Intensiva – e permitiu que o técnico sentasse para conversar sobre a expectativa para o Dia dos Pais e a história que o levou até ali.
Mas o Dia dos Pais do ano de 2020 tinha tudo para ser especial. No sábado, Amanda sentiu dores fortes no abdômen e foi parar no hospital. Já tinha feito alguns testes rápidos de gravidez, que deram resultado negativo. Mas, ainda assim, a médica resolveu pedir um exame de sangue para descartar a suspeita antes de prosseguir à desconfiança seguinte, que era de um quadro de apendicite. Deu positivo: Amanda estava grávida. “Nós ficamos muito felizes. Foi um choque”, sorri Anderson.
Gravidez
Durante a gravidez, dois fatores preocupavam o jovem casal: um descolamento de placenta já no início da gestação exigiu repouso; e a chegada da pandemia havia levado o técnico de enfermagem à linha de frente contra um vírus até então desconhecido.
“Ficamos com medo, porque ninguém sabia como ia ser a Covid”, conta Anderson. Foram meses de tensão, em que qualquer sintoma ou suspeita da doença o deixavam apreensivo. Acabou contraindo a Covid-19, mas depois do nascimento da filha e depois de tomar a vacina. “Graças a Deus, me isolei em casa, não passei pra ninguém e tive sintomas leves, porque já estava vacinado”.
Força
Lavínia também traz uma dose de força para o Dia dos Pais, nesse ano. Aos quatro meses, a bebê começa a rir e interagir, trazendo uma alegria cristalina para a casa. “Minha esposa perdeu o pai e a mãe há pouco tempo, então a nossa filha é a alegria para nós”, conta Anderson. Vai ser preciso, vivendo dia após dia o devastador luto de perder familiares próximos, passar o primeiro Dia dos Pais sem o pai de Amanda, que faleceu há poucas semanas.
Esperança
“Entre tragédias e alegrias, é a nossa história”. Chegar em casa depois do trabalho é o melhor momento da paternidade, para Anderson. “Quero aproveitar esse momento, em que ela está dando risada, começando a querer conversar com a gente, gritar. Eu chego do serviço e ela dá um monte de risada pra mim, porque sente falta, né?”.
Com a esperança renovada pela linda Lavínia, a família retoma a espera. Agora, na fila da adoção, aguardando chegar a vez de agregar mais um integrante à família. “Foi uma promessa que a gente fez, que por mais que ela engravidasse, nós íamos adotar do mesmo jeito. Foi algo que decidimos juntos, e continuamos”. Quem sabe o próximo Dia dos Pais traga mais uma coincidência à família?
Texto: Aline Jasper | Fotos: Aline Jasper e Arquivo Pessoal dos Entrevistados