Professora da UEPG revela que maternidade aumentou sua vontade de mudar o mundo

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Para Brunna Rabelo Santiago, professora do curso de Direito da UEPG, pesquisadora em gênero e questões ligadas ao enfrentamento às violências contra mulheres e ex-coordenadora do projeto de extensão Núcleo Maria da Penha, a melhor forma de descrever a maternidade é com poesia.

O que é a maternidade para mim?

Sem dúvida, um amor sem fim.

Sentimento de pele, alma, mente, corpo, de tudo que tenho.

Gerar, parir, nutrir, cuidar,

um mundo de empenho!

De início, esqueço até de onde venho.

Quem eu sou ou fui,

Tento definir e me detenho.

Aos poucos redescubro, transformo, ao lado dela.

Semente minha, uma história nossa,

Pintada com abdicações, um tempo próprio, em uma nova tela.

Dessa vida linda, desafiadora, o que verdadeiramente importa,

é minha filha, minha obra prima,

pintura sagrada, minha aquarela.

O poema, de autoria da professora, reflete o sentimento em relação à sua filha, a pequena Joana, e o que aprendeu em seus primeiros seis meses como mãe. Ela comenta sobre o longo caminho que as mães que produzem ciência precisam percorrer. “Minha ‘produção acadêmica’ de 2023 foi gerar, parir, alimentar outro ser humano. E qual o olhar dos processos seletivos para isso?”, indaga Brunna. Ela recorda que, apenas em 2023, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) passou a contabilizar a licença maternidade no Currículo Lattes das pesquisadoras mães, sem que haja perda de pontuação por produtividade. Ela alerta que as universidades não estão isentas de reproduzir os desafios que as mães enfrentam na sociedade.

Brunna revela que a maternidade intensificou e trouxe mais urgência para sua vontade de mudar a realidade. “Joana não vai ver um mundo sem preconceitos, sem dores. Mas quero que ela entenda a importância de lutar pelos direitos de todas na mesma proporção que lutará pelos dela própria”. Para a professora, o mundo que ela deseja para a filha é uma urgência, que busca levar para sala de aula e seu objetivo, enquanto professora e pesquisadora é o de formar pessoas atentas às opressões, aos silenciamentos e dores.

Recentemente, Brunna se qualificou no Doutorado, pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP). Joana a acompanhou em grande parte do desenvolvimento da pesquisa. Ela reforça a importância das redes de apoio para mães pesquisadoras, dentro e fora das universidades. “Comemorei bastante essa conquista, porque durante a gestação e nos primeiros meses de Joana tive inúmeras dificuldades para escrever. Houve um momento que pensei não ser possível conseguir desenvolver a tese, mas pude prorrogar a entrega pela compreensão de meu orientador e porque meu marido cumpre seu papel de pai”.

A professora também aborda os temas feminismo e maternidade fora de sala de aula. No seu perfil nas redes sociais intitulado @dir.fem, onde apresenta questionamentos sobre o espaço ocupado pelas mulheres na sociedade, sobretudo as mães. O projeto surgiu durante a pandemia, para expor os temas de sua pesquisa com outras mulheres. Após engravidar, os conteúdos voltaram-se à maternidade. “As pessoas esperam que retomemos nossas vidas da forma que era antes da gestação, mas é impossível. Com a cria, nasce também uma nova mulher, as prioridades mudam, o tempo passa a ter um ritmo próprio”.

Brunna destaca a importância de criar conteúdos sobre maternidade para as redes sociais: “Fomos ensinadas a viver todas as dificuldades da maternidade em silêncio. Enquanto a maternidade, a parentalidade, não forem responsabilidade coletiva, estaremos privando as mulheres de liberdade”.

Texto: Gabriel Miguel | Fotos: Arquivo pessoal


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