No último ano, 16 famílias aceitaram doar os órgãos de pacientes internados no HU-UEPG. Foram 41 órgãos captados, que tiveram como destino salvar vidas de pessoas que aguardavam na fila de espera por transplantes. Cada um é representado por uma folha da Árvore da Vida, em formato de estrela, com corações que representam cada órgão doado. Eles se uniram a mais de 100 estrelas na árvore do HU, que fica no saguão do Hospital em exposição permanente. A cerimônia é realizada desde 2017, sob a organização da Comissão Intrahospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos (Cihdott).
Um pequeno conforto para quem perde um familiar: saber que outras pessoas continuam vivendo graças aos órgãos doados. “Existe muita vida; vida em abundância. É a vida que segue, dando sentido à existência de outras pessoas, outros pais, outras mães, outros filhos e filhas, maridos e esposas”, resumiu a professora Gisele de Sá Quimelli, que coordena a Capelania dos HUs. Para uma plateia de olhos marejados de saudade e de emoção, ela falou sobre como o transplante de órgãos é, muitas vezes, a única esperança de vida ou oportunidade de recomeço para quem espera. “É um gesto de solidariedade”.
Gratidão, palavra que designa o sentimento de reconhecimento por um auxílio ou benefício prestado por alguém, define também o que Lidiane sentiu ao ver todos aqueles corações e estrelas pendurados na Árvore da Vida. “É um ato de muito amor e de vida”, definiu, emocionada.
Quantas vidas?
Se você soubesse que poderia ajudar outras pessoas mesmo após a morte, você ajudaria? No Brasil, no primeiro semestre de 2023, mais de 1,9 mil famílias disseram “sim” para esta pergunta e aceitaram doar os órgãos de seus entes queridos. O número é recorde, quando comparado ao mesmo período dos últimos dez anos, e representa um aumento de 16% em comparação com os meses de janeiro a junho de 2023. Segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), o Paraná é o estado com maior número de doações efetivas de órgãos para transplantes em 2023. Somente no HU-UEPG, o aumento de 2021 para 2022 foi de 77% na captação de órgãos.
Como funciona o protocolo de doação de órgãos e tecidos dentro do Hospital?
O processo é composto por muitas etapas: desde o momento em que se detecta a possibilidade de morte encefálica em um paciente até a efetivação de um transplante de órgãos, são muitos profissionais envolvidos e uma série de decisões tomadas com responsabilidade e respeito. Morte encefálica é nome legal dado ao óbito de um paciente: é a interrupção irreversível das atividades cerebrais.
Quando se confirma a morte encefálica, o primeiro passo tomado pela equipe é garantir que haja um entendimento por parte dos familiares do que significa a morte cerebral e uma compreensão da situação. É só depois de garantir o controle emocional que se oferece a possibilidade de ajudar outras pessoas por meio da doação de órgãos.
Há um cuidado especial na forma de tratar o assunto, de acordo com o enfermeiro Guilherme Arcaro, diretor de enfermagem do HU. “São utilizadas técnicas para a abordagem da família, oferecendo sempre o apoio emocional e explicando de forma clara como funciona o processo de doação”, explica. “Buscamos tirar as dúvidas e superar preconceitos que são comuns quando se trata deste assunto”. Guilherme destaca, ainda, a importância de comunicar à família o desejo de ser doador e conversar com os familiares sobre essa possibilidade.
Todo paciente de hospital que esteja em morte encefálica é um potencial doador. Segundo a Central Estadual de Transplantes, são contraindicações para a doação de órgãos e tecidos as doenças infectocontagiosas, câncer e infecções graves. No caso de infecções que estejam respondendo a tratamento, é possível doar.
Cada doador pode salvar várias vidas: pode-se doar o coração, rins, pâncreas, pulmões, fígado, além de tecidos como córneas, pele, ossos, válvulas cardíacas e tendões. A determinação de quais órgãos podem ser doados é através de uma avaliação clínica de viabilidade. “Além disso, há um respeito ao prazo máximo pedido pela família para liberação do corpo: órgãos como pele e ossos precisam de mais tempo para retirada”, complementa Guilherme.
Texto e fotos: Aline Jasper