O pesquisador de pós-doutorado, Wellington Claiton Leite, egresso da Universidade Estadual de Ponta Grossa, participa de pesquisas para desenvolvimento de tratamentos contra o Coronavírus nos Estados Unidos. Ele, que teve toda a sua formação na escola e universidade públicas, hoje integra a equipe do Oak Ridge National Laboratory, maior laboratório do Departamento de Energia dos Estados Unidos.
Os dados coletados pelo Oak Laboratory, combinados com as contribuições de outros laboratórios americanos, serão usados para simulações de inibidores ou compostos de moleculares para bloqueio da replicação e propagação do vírus. Na foto destacada nesta matéria, Wellington Claiton Leite realiza a dispersão de raios-x para caracterizar componentes do SARS-CoV-2, incluindo proteínas que permitem a reprodução do vírus.
“Hoje, vê-lo realizar seu posdoc em um tema tão importante é motivo de orgulho para todos da UEPG”, exalta o vice-coordenador do Laboratório de Biologia Molecular Microbiana da UEPG, Rafael Etto, que acompanhou a trajetória de Wellington como pesquisador do Labmom durante os últimos dez anos. “Ele chegou com o desafio de aprender proteômica. Nesse tempo, o seu progresso científico na área de bioquímica e biologia molecular foi enorme, fruto da sua inquietude, dedicação e competência”. Além dessas características, Etto destaca a humildade e a generosidade com os colegas do Laboratório.
Em 2015, Wellington chegou aos EUA como aluno do Programa Ciência Sem Fronteiras, num estágio de doutorado sanduíche na Universidade de Wisconsin, Madison. “Isso abriu muitas portas aqui para meu retorno. Após concluir o doutorado na UEPG, em 2016, trabalhei como professor colaborador na instituição por dois anos. Então, resolvi que era hora de fazer um postdoc”.
O pesquisador enviou cartas pedindo vaga de estágio e passou na seleção da Oak Ridge National Laboratory. O processo foi realizado a partir de uma entrevista e da análise do currículo de Wellington, que inclui experiência na área de Física, com ênfase em Estrutura de Líquidos e Sólidos; na área de biofísica com clonagem molecular, expressão e purificação de proteínas recombinantes, cristalografia e difração de raios-X, microscopia eletrônica e técnicas espectroscópicas; caracterização de materiais por difração de raios-X aliada ao Método de Rietveld, espectroscopia de infravermelho e fluorescência de raios-X.
Incentivo à pesquisa
Wellington rememora o interesse pela ciência e os primeiros passos como pesquisador enquanto ainda era acadêmico, fator que o incentivou a, posteriormente, fazer mestrado e doutorado. “Meu interesse na pesquisa vem de longa data. Já no ensino médio, eu ficava deslumbrado com as aulas de química e física, especialmente quando o assunto era átomos e moléculas. No segundo ano do curso de Física na UEPG, tive a oportunidade de começar a desenvolver projetos de pesquisa na área de física de solos com os professores Sérgio Saab e André Mauricio Brinatti”.
A bolsa de iniciação científica que recebeu do CNPq por três anos foi um grande incentivo. “Esse apoio financeiro e científico foi extremamente importante. Ter este suporte para ajudar durante o curso e estar dentro da universidade em período integral é fundamental para estar inserido na pesquisa de forma efetiva”. Ele complementa que ingressou na Universidade num momento muito bom. “Tínhamos oportunidades de bolsas de iniciação científica, a UEPG estava em expansão”.
Dedicação
O curso de física já era algo que ele tinha em mente desde o ensino médio, mas confessa que, à época, não imaginava o quão amplo era esse ramo da ciência. Wellington ingressou no curso de Física da UEPG em 2005. “Inicialmente, entrei na licenciatura (primeiro ano). Depois solicitei transferência para o bacharelado. A pesquisa já era algo que me motivava e sentia que o curso de bacharelado estava mais alinhado aos meus interesses de carreira”, lembra.
A rotina de estudos foi dura, com muitos finais de semana estudando, abrindo mão de passar tempo com família e com os amigos. “Venho de uma formação inteira de escola pública. Então, as lacunas de conhecimentos básicos tiveram que ser supridas aos longos dos anos, com muito estudo, esforço e também, claro, com o apoio de vários professores”, destaca. “Hoje, vejo que tudo valeu a pena”.
O reitor Miguel Sanches Neto diz que é um orgulho para a UEPG ter um pesquisador integralmente formado e pós-graduado na instituição. “Wellington foi nosso aluno e professor e é exemplo do papel social da universidade pública brasileira na geração de oportunidades e na formação de pesquisadores de ponta, tão indispensáveis ao desenvolvimento da ciência no Brasil e no mundo, hoje e sempre”.
A UEPG e os professores
Para Wellington, a UEPG teve um papel fundamental no seu caminho. “Vi o Labmu crescer e muitas outras coisas boas para o campo da pesquisa. Tínhamos muitas oportunidades naquele momento. Ao mesmo tempo a universidade também oferecia os cursos de pós-graduação, no qual eu entrei para o mestrado e doutorado na própria UEPG”. Ele ressalta que se a UEPG não fosse uma universidade pública nada disso seria possível.
A coordenadora do Labmom, Carolina Weigert Galvão, conta que Wellington sempre se destacou pela curiosidade e vontade de encarar novos desafios. “Um aluno muito dedicado, humilde, autodidata e com muita iniciativa. Sempre disposto a ajudar os colegas de pesquisa e o Labmom. Sua formação interdisciplinar envolvendo a física, química e a biologia, o tornou um pesquisador muito diferenciado”.
Sobre o Labmom
O Laboratório de Biologia Molecular Microbiana (LABMOM-UEPG) realiza pesquisas nas áreas de Bioquímica, Biologia Molecular e Microbiologia, além de atividades de ensino e extensão. Nos últimos anos, os avanços nas tecnologias moleculares high-throughput estimularam o desenvolvimento da bioinformática no laboratório.
O Labmom participa do Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT) da Fixação Biológica do Nitrogênio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O Laboratório é credenciado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP).
Texto: Luciane Navarro | Fotos: capa ORNL/Carlos Jones e imagens de arquivo de Rafael Etto