Novas variantes surgirão se o vírus continuar circulando de forma desenfreada, alerta professora da UEPG

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Farmacêutica-bioquímica formada há 25 anos, Elisangela Gueiber Montes nunca havia concedido tantas entrevistas. Desde o início da pandemia, a professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) tem explicado a ação do Coronavírus e seus efeitos. A pandemia avança, e numa fase sem precedentes no Paraná, a docente agora explica o que são as variantes.

Montes é doutora em Ciências Farmacêuticas, mestre em Ciências Biológicas, especialista em Microbiologia e Imunologia e graduada em Farmácia-bioquímica pela UEPG. É professora na instituição desde 2010, onde leciona, entre outras, as disciplinas de Imunologia, Imunologia Clínica e Microbiologia Clínica.

Essa entrevista faz parte de uma campanha de conscientização sobre a vacinação contra a Covid-19, idealizada pela Fundação Araucária. A UEPG integra a campanha junto com a Superintendência de Ensino Superior, Ciência e Tecnologia, a Universidade Estadual de Maringá, a Universidade Estadual de Londrina, a Universidade Estadual do Centro-Oeste, a Universidade Estadual do Norte do Paraná, a Universidade Estadual do Paraná, a Universidade Federal do Paraná, a Universidade Tecnológica Federal do Paraná, a Universidade Federal da Fronteira Sul, a Universidade da Integração Latino-Americana, o Instituto Federal do Paraná, a Fundação de Apoio da Universidade Federal do Paraná e a Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

 

Coordenadoria de Comunicação/UEPG: O que são e por que surgem as mutações e as novas variantes do Coronavírus, o SARS-CoV-2?

Professora Elisangela Gueiber Montes: As mutações são alterações no código genético dos vírus que aparecem durante seu processo de multiplicação, ou seja, quando fazem cópias de si mesmos. Essas alterações podem ser consideradas “erros”, sendo que a maioria delas são irrelevantes e até mesmo prejudiciais à sobrevivência do vírus. No entanto, outras podem trazer alguns benefícios a esses microrganismos, como melhor capacidade de sobrevivência e adaptação no ambiente, maior potencial de transmissão ou ainda formas de escapar da nossa resposta imune. Para que as mutações sejam detectadas, é necessário realizar o sequenciamento genético do vírus. As variantes surgem quando mutações específicas começam a aparecer de forma frequente e acabam se “fixando” ou estabelecendo-se em determinado local. De modo geral, as variantes que têm melhor capacidade de adaptação e sobrevivência acabam, ao longo do tempo, se sobrepondo às menos resistentes e tornando-se as mais frequentes. Novas variantes surgiram e ainda surgirão enquanto o vírus continuar circulando em nosso meio de forma desenfreada.

CCom/UEPG: Essas variantes são mais transmissíveis e infecciosas?

Montes: Existem muitas variantes desse vírus já catalogadas, e a grande maioria dessas variantes não têm características ou diferenças que mostrem maior potencial de transmissão ou de causar doença mais grave que as demais. No entanto, recentemente algumas trouxeram preocupação, principalmente por apresentarem alterações importantes na proteína S (Spike) do vírus. Entre elas, está a isolada inicialmente no Reino Unido (B.1.1.7), que mostrou ter maior capacidade de transmissão entre os indivíduos. Outras duas variantes, que também têm sido bastante estudadas, foram detectadas na África do Sul (B.1.351) e em Manaus (P1), que têm em comum uma mutação na proteína S, que confere a elas maior transmissibilidade e a capacidade de “enganar” a resposta imune do indivíduo.

CCom/UEPG: As variantes são responsáveis por sintomas mais graves?

Montes: Apesar do conhecimento que se tem sobre todas estas variantes, ainda não é possível afirmar que elas tenham ou não uma relação direta com uma forma de doença mais grave se comparada às demais. Ainda nos últimos dias, novas variantes têm surgido pelo mundo, apresentando estas e outras mutações e vêm sendo estudadas a fim de verificar se também apresentam as mesmas características das anteriormente citadas. É possível também que o agravamento da situação nos locais onde elas aparecem, ocorra pelo aumento total do número de casos e consequentemente de forma proporcional, culmine em acréscimo também da doença na forma grave. Para chegar a conclusões definitivas sobre o assunto muitos estudos estão ainda em andamento.

CCom/UEPG: Como ficam as vacinas nesses casos?

Montes: As empresas farmacêuticas que desenvolveram as vacinas estão fazendo testes de eficácia de seus imunizantes frente às novas variantes. Em relação à detectada no Reino Unido, estudos preliminares mostraram uma eficácia muito próxima aos testes anteriores. No entanto, em relação à variante da África do Sul, os testes iniciais de alguns dos fabricantes mostraram diminuição da eficácia global destas vacinas, mas parecem ainda conferir proteção contra as formas mais graves da doença. Estas variações podem acontecer em função de cada diferente tipo de vacina e no princípio de seu desenvolvimento, podendo ser possível que alguns imunizantes tenham melhor desempenho contra elas.

CCom/UEPG: Já existe algum tipo de teste de eficácia das vacinas com a variante brasileira?

Montes: Em relação a P1, a variante brasileira, as empresas estão também em processo de testagem para avaliar se existe manutenção ou perda de eficácia, mas os resultados ainda não estão disponíveis. Para as três variantes, ainda existe necessidade de testes complementares, para melhor avaliarmos a sua atividade frente a casos leves e formas graves da doença. Há uma sinalização por parte dos fabricantes em desenvolver modificações em suas vacinas em prol das novas variantes, sendo possível que tenhamos que nos vacinarmos de tempos em tempos, para garantirmos a imunidade contra elas.

CCom/UEPG: A pandemia vai piorar em razão dessas variantes?

Montes: Caso estas variantes mais contagiosas se espalhem rapidamente pelo Brasil e pelo mundo, é possível que ocorra um agravamento da pandemia. Nessas situações, caso o número de pessoas infectadas e precisando de atendimento hospitalar aumente rapidamente, pode levar à saturação do sistema de saúde. A consequência da falta de leitos pode levar ao agravamento dos casos e aumento do número de óbitos. Desta forma, para evitarmos esse colapso é fundamental fazermos o possível para diminuir a circulação do vírus e o surgimento de novas variantes.

CCom/UEPG: O que podemos fazer para nos protegermos delas?

Montes: Para nos prevenirmos destas e de outras novas variantes, precisamos do maior número de pessoas vacinadas dentro do menor tempo possível. Tendo um grande patamar de pessoas imunizadas, não damos ao vírus a possibilidade de continuar circulando em grande quantidade e desta forma diminuímos a possibilidade de mutações. Além da vacina, os cuidados são os mesmos que já vínhamos tomando até agora, ou seja, lavagem constante das mãos, uso de máscaras e distanciamento social.

Texto: William Clarindo | Foto de destaque: Arquivo

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