Professor ressalta a importância da UEPG para a astronomia internacional

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Há 30 anos, era descoberto o primeiro planeta fora do Sistema Solar. Hoje, são mais de 4 mil que se tem conhecimento – um deles é de mérito da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). O professor Marcelo Emílio, diretor do Observatório Astronômico da UEPG, é um dos cientistas que participou da primeira conquista 100% brasileira, o CoRoT ID 223977153-b. No aniversário do descobrimento do primeiro exoplaneta, oficializado em janeiro de 1992, o docente relembra a trajetória científica e reflete o futuro da astronomia internacional.

Descoberto em 2017, o CoRoT ID 223977153-b é um exoplaneta um pouco menor que Júpiter, orbita em volta de uma estrela que tem 10% de massa a mais que o Sol. Seu ano dura aproximadamente seis dias terrestres e está 1200 anos-luz da Terra (um ano luz equivale a cerca de 9,5 quadrilhões de metros). A primeira vez que foi conhecido como um planeta foi em solo da UEPG, no computador do Observatório. “Estávamos pesquisando terremotos em estrelas em um satélite chamado CoRoT. Foi quando meu orientando se interessou em estudar exoplanetas”, conta o professor.

Simulação do CoRoT ID 223977153-b. Reprodução da NASA

A equipe selecionou 40 possíveis candidatos a exoplanetas. Desses, três foram eleitos para investigação mais profunda. “Provavelmente os três são planetas, mas um deles conseguimos dados suficientes para confirmar de que se trata de um exoplaneta”. A novidade virou notícia na época em veículos de imprensa e em publicações científicas internacionais. “Descobrir o primeiro exoplaneta 100% brasileiro foi bem gratificante, porque provou que a gente tem capacidade igual a pesquisadores do exterior, pois desenvolvemos uma técnica própria que permitia identificar, coisa que institutos estrangeiros não conseguiram”, destaca Marcelo.

Do ponto de vista científico, a novidade colocou Ponta Grossa no mapa da astronomia internacional. “Essa descoberta poderia ter sido feita em São Paulo, Rio de Janeiro ou outra cidade grande, mas foi feita aqui, nos nossos computadores, com nossos alunos”. O grupo que descobriu o CoRoT ID 223977153-b era formado por Emílio, o ex-aluno do curso de licenciatura em Física da UEPG, Rodrigo Boufleur e o aluno de pós-doutorado, Laerte Andrade, além de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), Observatório Nacional do Rio de Janeiro (ON) e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

O CoRoT ID 223977153-b faz parte do rol de exoplanetas gasosos, como a maioria dos que foram encontrados até hoje. “Ele é um dos planetas mais leves e serem encontrados, mas temos uma incerteza sobre o valor nominal da massa dele”. O que se sabe é que o planeta é mais leve que Saturno. “Se tivesse mar suficiente pra colocar Saturno em cima, ele iria boiar. O nosso planeta é mais leve ainda”, explica. A órbita do exoplaneta é muito próxima do seu sol – a distância entre eles é cinco vezes menor que a de Mercúrio ao nosso Sol, o que o torna muito quente, em torno de 1.100 °C.

Vida em outros planetas?

De lá para cá, a pesquisa astronômica na UEPG não parou. O Observatório fará parte da participação brasileira no projeto do satélite Plato, também dedicado a descoberta de outros planetas. “Tenho dois alunos fazendo doutorado com o Satélite Kepler, que procura por planetas com características habitáveis fora do Sistema Solar”, destaca o diretor do Observatório.

A UEPG ainda terá um telescópio no Havaí, que será instalado na Ilha de Maui. A iniciativa está sendo construída com auxílio de verba do Fundo Paraná e permitirá acesso às instalações e ao Telescópio Planets. O equipamento será utilizado para fins educacionais e de pesquisa pela UEPG por um período de dois anos. “Pretendemos estudar estrelas e planetas com esse telescópio. Será o maior do mundo dessa tecnologia a observar o céu noturno, onde poderemos estudar os planetas e sua atmosfera”.

Um dos objetivos do Projeto Planets é descobrir se há ou não vida em outros planetas. “Estamos estudando a biologia desses exoplanetas, tentando encontrar moléculas de DNA”. Marcelo enfatiza que a exobiologia é o futuro da pesquisa científica em astronomia. “Estamos muito próximos de encontrar vidas em outros planetas. Não digo homenzinho verde, mas sim bactérias, seres unicelulares”, adiciona.

Futuro

O telescópio da UEPG, instalado em 2005, é o que mais dá retorno em publicações internacionais de prestígio – são 4 na Revista Nature e 2 na Revista Science, todas são fruto de pesquisas do Observatório. “Há outros professores da UEPG com publicações nessas revistas, mas eles estavam no doutorado ou em outras instituições e então aparecia o nome da USP, por exemplo”, explica. O telescópio da UEPG, embora não tenha descoberto o primeiro exoplaneta, ajudou em outras explorações pelo universo. “Com esse telescópio instalado na UEPG, nós descobrimos um anel em torno de um asteroide. Antes dessa descoberta, só sabíamos de anéis em volta de planetas”, conta Marcelo. O motivo do Observatório se posicionar internacionalmente é a pouca necessidade de grandes investimentos. “Em outras áreas, para se montar um laboratório competitivo, são necessários muitos recursos em equipamentos e instrumentação. Na astronomia não precisamos disso, porque os telescópios estão em montanhas e satélites, então temos acesso às mesmas tecnologias que outros observatórios do mundo pelo nosso computador”.

O professor Marcelo Emílio é formado na primeira turma de Bacharelado em Física da UEPG e atualmente foca seus estudos em física solar, como astrometria solar e astrofísica estelar. Ele é enfático quando fala que a formação de cientistas do Brasil se equivale a de qualquer lugar do mundo. “Com mais investimento do Governo Federal, certamente teremos oportunidades de participar mais de grandes projetos”.  Em perspectiva, Emílio relembra em como a astronomia acontecia 30 anos atrás. “Sabíamos apenas de planetas que existem no Sistema Solar e é esquisito pensar nisso na realidade de hoje, num universo de bilhões e bilhões de estrelas”. O professor não descarta a possibilidade do descobrimento de uma exolua nos próximos anos, orbitando planetas gigantes. “Logo teremos tecnologia para pesquisar isso”.

Texto e fotos: Jéssica Natal


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