UEPG abre exposição de Jacobus van Wilpe, pintor do Movimento Paranista

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Os Campos Gerais também produziram arte do Movimento Paranista. É que mostra a exposição ‘Jacobus van Wilpe, o pintor dos Campos Gerais’, promovida pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), por meio da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Culturais (Proex). A exposição mostra obras do artista holandês radicado em Ponta Grossa, produzidas das décadas de 30 a 60. Aberta ao público nesta sexta-feira (26), a exposição conta com telas que mostram o que, como disse Auguste de Saint-Hilaire, viajante francês, em 1820, “as paisagens mais lindas do Brasil estão nos Campos Gerais”.

A exposição conta com 25 telas, 13 desenhos, além de retratos e escritos. A curadoria das obras aconteceu entre a Diretoria de Assuntos Culturais da UEPG e Renato van Wilpe Bach, neto de Jacobus, que cedeu o acervo da família. “Conversamos muito para que pudéssemos tornar essa exposição possível, agradeço a confiança do professor Renato em nos permitir contar essa história, nos dando total liberdade para executarmos todo o projeto”, declara a diretora de divisão de cultura e arte da UEPG, Adriana Suarez. 

Jacobus van Wilpe (1905-1986) pintou os Campos Gerais. Segundo Adriana, cada detalhe visto, pensado, organizado e vislumbrado nas obras do artista o faz ir além do tempo vivido. “Podemos viajar ao passado, presente e futuro, viajar na história. O conjunto das obras da exposição nos remete ao conceito de ser e estar, do espaço e lugar, por meio de traços marcados, com imagens que falam, pensam e existem”, explica. As obras de Jacobus trazem paisagens, histórias e costumes da região, valorizando símbolos paranaenses, como riachos, araucárias, plantas e pássaros – a maioria pintadas na Chácara Pitangui, local onde hoje é o Bairro Santa Mônica.

O pintor dos Campos Gerais pintou com amigos que fizeram arte no Paraná, como Lange, Turim, Guido Viaro, Boiger, Freyesleben, artistas destaque do Movimento Paranista. “O Movimento é marcado pela busca da identidade artística do Paraná, e é isso que apresentamos na nossa exposição, inserimos a região na história da arte brasileira”, salienta Adriana. E onde está o nome de Jacobus van Wilpe na arte paranaense? “Fomos os responsáveis por apresentá-lo e precisamos conhecê-lo, a arte do Paraná tem mais um nome importante para sua história. Como ponta-grossenses e paranaenses, nós temos a obrigação de conhecer a divulgar esse artista que ficou esquecido no contexto da arte brasileira”, completa.

A iniciativa de mostrar as obras de Jacobus para o público partiu do neto, Renato van Wilpe Bach, médico e professor da UEPG. Emocionado, o neto não deixou de ressaltar a história do avô. “Ele seria humilde até demais em aceitar as honrarias que receberia hoje”, sorri. Saído da Holanda para o Brasil em 1920, Jacobus viu a necessidade de abraçar outras profissões em nome da sobrevivência. “Tudo isso o fez minimizar sua trajetória na arte, mesmo na companhia de pintores importantes. Quando iam juntos pintar as curvas do Rio Pitangui, que corria atrás da chácara, os pintores saíam com duas ou três telas, enquanto ele tinha apenas o desenho e o céu cor de laranja, a cor dos Campos Gerais”, conta.

O processo criativo do artista era demorado, o que o levava a raramente terminar as obras no mesmo dia. A obra ‘Acácia Mimosa’, por exemplo, precisou de dias para ser finalizada, tanto que a esposa de Jacobus precisava trocar o jarro com as flores para manter a inspiração do artista, conta Renato. Jacobus foi lavrador, lenhador, ferroviário, mecânico, serralheiro e pecuarista. Ele também ajudou a cortar o primeiro caminho de Ponta Grossa a Carambeí, chamado até hoje de estrada velha. “A obra de Jacobus é desconhecida mesmo por Ponta Grossa, cidade adotada como sua, e corre o risco de se perder nas novas gerações. É vital para seu reconhecimento a popularização das obras e é importante que aconteça aqui no teto da UEPG”, ressalta Renato.

Abertura

A diretora de assuntos culturais da UEPG, Sandra Borsoi, explica que o trabalho levou cerca de quatro meses, desde as primeiras conversas até chegada a exposição. “Desde o início, foi um presente para nós conhecê-lo, porque pudemos vivenciar a arte em outra proporção e começamos a fazer uma história genuinamente paranaense”, frisa. Não é qualquer pessoa que pode desfrutar da arte produzida pelos seus ancestrais, como ressalta Sandra. “Que presente seria para todos nós se pudéssemos conhecer as obras da nossa família. Essa partilha da família do Renato nos inspira a viver a história produzida dentro da nossa família”.

Para o professor Ivo Mottin Demiate, a generosidade da família van Wilpe Bach em ceder as obras contribui para a história da arte na região. “Nós somos privilegiados em ter essas obras. Quantas produções de artistas ficam presas na sua própria família?  É uma satisfação para a UEPG dar a oportunidade para que mais pessoas possam conhecer Jacobus”. O sentimento de privilégio também é evidenciado pela pró-reitora de Extensão e Assuntos Culturas, Édina Schimanski. “Que bom que essa obra tão grandiosa está nas mãos da UEPG, e a partir dela as pessoas podem vir contemplar e ver a tamanha beleza das obras. Isso é muito importante para todos nós da Proex”, completa.

Serviço

Exposição: Jacobus van Wilpe, o pintor dos Campos Gerais
Local: Galeria de Arte da Proex (Praça Marechal Floriano Peixoto, 129 – Centro, Ponta Grossa – PR, 84010-680)
Horários de visita: das 8h30 às 11h30 e das 13h30 às 17h
Entrada: gratuita e aberta para toda comunidade
Exposição presencial disponível até 13 de outubro
As obras também estão disponíveis na galeria virtual, no site da Proex.

Texto: Jéssica Natal | Fotos: Jéssica Natal e Maurício Bollete


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