É num anexo do Bloco M, próximo a uma estufa e uma horta, que fica o Herbário da Universidade Estadual de Ponta Grossa (HUPG). O espaço não é grande, mas está repleto de informações sobre organismos fotossintetizantes, principalmente da região dos Campos Gerais. Em uma das salas, está um acervo de mais de 22 mil espécimes, entre plantas, frutos, algas, líquens, fungos e grãos-de-pólen.
Parte do Departamento de Biologia Geral da UEPG, o herbário é um instrumento de ensino, pesquisa e extensão, e está vinculado à Proex. A maior parte do acervo é composto por exsicatas, plantas desidratadas, classificadas e guardadas entre pedaços de papel. Esse é o acervo utilizado pelos pesquisadores para identificar e confirmar espécies nativas e medicinais, um dos principais papéis prestados pelo herbário no dia a dia.
“Professores e estudantes de diversos cursos como Farmácia, Agronomia, Odontologia, Geografia, Química, entre outros, e membros da comunidade externa vêm até nós para determinarmos corretamente o material vegetal”, explica a professora Melissa Koch Nogueira, que integra a equipe de docentes do Herbário que inclui as professoras doutoras Marta Regina B. do Carmo, Rosemeri S. Moro e Rosângela Capuano Tardivo, que atua como curadora.
Para Nogueira, o Herbário tem três funções principais: o ensino, a pesquisa e ações extensionistas, como educação ambiental. “Nossas pesquisas são provenientes de uma demanda da sociedade e trabalhamos em prol de responder e solucionar questões co-relacionadas a conservação e restauração da Physis [natureza]”, explica. Como uma ferramenta de ensino, o herbário qualifica os alunos de graduação, auxiliando na formação de professores de ensino fundamental e médio, encaminhando-os para cursos de pós-Graduação em Botânica e áreas afins em várias Instituições do Brasil.
No âmbito da educação ambiental, “o Herbário sempre busca se conectar e aprofundar o vínculo entre sociedade e a natureza”, complementa Nogueira. Durante o ano, o Herbário recebe visitas de escolas de ensino fundamental e as crianças podem interagir com um acervo didático, diferente do mantido pelos pesquisadores. No ano de 2019, o Herbário recebeu visitas de 12 escolas do ensino fundamental e médio da rede pública e particular, atendendo cerca de 200 alunos. “Temos que despertar o interesse da sociedade em se conectar, em se reconectar com a natureza”, aponta.
A equipe do HEPG reforça que, ao longo de 34 anos de existência, as atividades desenvolvidas pelo Herbário resultaram em vários benefícios acadêmicos e sociais. “O atendimento às escolas e à comunidade em geral divulga e valoriza a coleção científica e, certamente, desperta aos visitantes, o interesse pela conservação dos ambientes naturais, colaborando na formação de cidadãos mais conscientes de suas ações”, ressalta a curadora do HUPG, Rosângela Capuano Tardivo.
Da natureza para o acervo
Dentro do Herbário existem muitos equipamentos para as pesquisas de campo, como escada, trenas, lupas, canos de PVC, pás, botas, perneiras, macacões de borracha e aparador de galhos (podão), entre outras ferramentas usadas pelos pesquisadores. “Fazemos muitas saídas de campo, graças ao veículo disponibilizado pela Proex, semanalmente. E, cada saída é um processo muito longo, pois depende do objetivo do trabalho a ser realizado”, relata Nogueira. “O herbário estuda a biodiversidade vegetal e isso não se limita às plantas. Isso inclui o solo, o lençol freático, as algas, os líquens, os fungos e, claro, as plantas”, detalha.
Após a área de pesquisa ser delimitada e os pesquisadores anteciparem as demandas daquela saída, a equipe decide quais ferramentas serão levadas e seguem a campo. Quando retornam para a sede do Herbário após a saída de campo, os pesquisadores preparam cada espécime conforme a necessidade de preservação. As plantas são colocadas em estufas para serem desidratadas. Frutos são submersos em soluções específicas. Sementes são guardadas em vidros com pacotes com cravos e outras substâncias que evitem deterioração. Liquens são colocados em placas de vidro ou guardados com partes de rocha ou tronco (substrato).
Atualmente
Fundado em 1986, a partir da doação da coleção particular da professora Inês Janete Mattozo Takeda, hoje o Herbário está inserido no Index Herbarium, na Rede Brasileira de Herbários, na Rede Paranaense de Coleções Biológicas e na plataforma online Herbário Virtual da Flora e dos Fungos (INCT). Com o objetivo de conhecer, catalogar e preservar espécimes da flora regional e de todo o estado do Paraná, a equipe do Herbário desenvolve subprojetos de pesquisa, fornecendo bolsas ou estágios voluntários aos acadêmicos. Desta forma, coletas, identificação e herborização de material botânico são realizados, de acordo com as regras da taxonomia vegetal e depositados no acervo da coleção.
Através de empréstimos de material e visitas de pesquisadores e alunos de pós-graduação das mais diversas instituições, o HUPG colabora com os demais herbários nacionais e estrangeiros. Recentemente, as coleções biológicas da UEPG, juntamente com as coleções das IES do Paraná, tiveram a aprovação de projetos dentro do programa NAPI Táxonline – Rede Paranaense de Coleções Biológicas pela Fundação Araucária, cujos objetivos são organizar e informatizar o acervo das instituições ligadas à Rede Paranaense de Coleções Biológicas.
Texto e fotos: William Clarindo