Inscrições para o Vestibular dos Povos Indígenas encerram nesta semana

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Encerra neste sábado (dia 30) o prazo para inscrições no XXI Vestibular dos Povos Indígenas do Paraná. A candidatura é gratuita e, a edição deste ano, oferece 52 vagas distribuídas entre a Universidade Estadual de Ponta Grossa, Federal do Paraná (UFPR) e demais universidades estaduais, através de uma parceria com a Superintendência de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti).

Serão 10 vagas disponibilizadas pela UFPR, para as quais poderão habilitar-se candidatos de todo o país. Para as instituições estaduais, como a UEPG, são seis vagas por universidade, e podem candidatar-se apenas indígenas residentes no estado do Paraná. O candidato poderá inscrever-se para ingresso no ano letivo de 2022, em até duas opções de curso, que estão especificados na tabela do Manual do Candidato. Detalhes sobre o vestibular 2022 podem ser conferidos no edital, que neste ano está publicado no site oficial da Universidade Estadual do Paraná (Unespar).

As provas serão aplicadas nos dias 12 e 13 de junho em polos distribuídos pelo Paraná. A professora Letícia Fraga, membro do Coletivo de Estudos e Ações Indígenas (CEAI) e da Comissão Universidade para os Índios (CUIA), explica que “O vestibular agora é descentralizado. Até dois anos atrás ele era centralizado: todos os candidatos iam até o mesmo local e faziam as provas”, relata. Segundo a professora, com o aumento da procura e do número de inscritos nas últimas edições, a criação de diversos polos veio para facilitar o transporte e aproximar o vestibular dos possíveis candidatos. “Então a CUIA estadual decidiu descentralizar e existem polos onde esses candidatos vão fazer essas provas. A decisão de pra onde cada candidato vai, tem a ver com a terra indígena onde cada candidato mora. Então ele vai pro polo que é mais perto da localização onde ele vive para que o transporte seja mais fácil”, explica.

O vestibular indígena difere do vestibular regular não só no período de inscrição e aplicação das provas, mas também no formato e por considerar contexto e vivências indígenas. “O vestibular indígena ele é diferenciado. Existe prova oral, por exemplo, de língua Portuguesa e na medida do possível as provas são feitas de maneira contextualizada em relação à vivência das pessoas indígenas”, explica a professora Letícia. “Os conteúdos, e isso é bom frisar, eles são rigorosamente os mesmos exigidos no vestibular convencional, então existe essa adaptação e contextualização em relação à vivência dos povos indígenas e existe essa prova a mais: que é a prova de língua Portuguesa oral. Também, no conteúdo relativo à prova de língua estrangeira, além de ofertar a possibilidade de o aluno fazer a prova em inglês e espanhol, a gente oferta a possibilidade de fazer a prova em língua Kaingang e em língua Guarani, as línguas dos povos que vivem aqui no Paraná”, destaca a professora Letícia Fraga.

Ações em terras indígenas

No dia 18 de abril de 2022, a equipe da Diretoria de Ações Afirmativas e Diversidade (DAAD), da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) e membros da CUIA da UEPG estiveram nas terras indígenas de Mococa e Queimadas, localizadas na região do município de Ortigueira-PR, para divulgar e realizar inscrição para o XXI Vestibular dos Povos Indígenas do Paraná. A professora Dra. Cristiane Gonçalves de Souza, Diretora do DAAD e membro representante da UEPG na CUIA Estadual ressalta a importância dessa iniciativa: “Esse é um momento muito importante para os candidatos, em que os mesmos têm a oportunidade de terem acesso às informações referentes ao processo do vestibular, bem como têm o auxílio da nossa equipe para realizar a inscrição e preenchimento dos formulários necessários no procedimento. Os formulários podem ser preenchidos de forma online, contudo, devido à dificuldade de acesso à internet e também às barreiras linguísticas, a ida até os candidatos e candidatas é fundamental, para que possamos repassar todas as informações com qualidade e realizar esclarecimento das dúvidas”.

Acompanharam a comitiva da UEPG na ação realizada, dois acadêmicos indígenas, do curso de Medicina da UEPG. A Assistente Social Daniele Faria Correia de Mello, que atua junto à PRAE, ressalta que os alunos auxiliam a reduzir possíveis barreiras linguísticas. “Cabe salientar, a importância da presença de nossos acadêmicos indígenas que nos acompanharam na atividade, Mateus Matias e Jenifer Benitez, os quais pertencem ao povo Guarani. Ambos nos auxiliaram em todas as atividades de inscrição, especialmente na abordagem dos candidatos e candidatas que apresentavam alguma dificuldade de compreensão da língua portuguesa”, explica. Além disso, a professora Letícia Fraga, destaca que essa participação e contato entre candidatos e acadêmicos serve como um importante incentivo. “Esses estudantes fazem um trabalho que nós, pessoas não indígenas, não conseguimos fazer, que é de conversar de indígena para indígena”, explica a professora. Fraga avalia positivamente a troca proporcionada e o trabalho desenvolvido em ações como essa: “A conversa que os estudantes indígenas fazem com os candidatos é sempre muito boa, porque ali a gente tem uma conversa de pessoas que têm a mesma idade, ou têm a mesma condição, de alguém que saiu da aldeia, agora já está na universidade e pode falar um pouquinho sobre a sua experiência, o que é sempre muito precioso para esses candidatos que estão querendo vir pra universidade”, conclui.

A ação foi realizada em escolas nas aldeias, integrando a universidade, comunidade e lideranças indígenas. A pedagoga Iomara Favoreto da PRAE, relata que o apoio de toda a comunidade é essencial ao processo. “Com apoio de direção das escolas, comunidade indígena e os Caciques o processo de inscrição tornou- se possível. É um momento muito importante de interação e parceria que se estabelece entre a equipe da Universidade e comunidade indígena e, especialmente, importante para favorecer a inserção dos povos indígenas no Ensino Superior, garantindo seu direito à educação”, detalha a pedagoga. A professora Letícia explica que as ações são conduzidas nas aldeias sob aprovação e importante apoio das lideranças indígenas e que, com isso, o vestibular está se popularizando e despertando interesse nos mais jovens. “Nós temos agora também alunos que são treineiros, que querem fazer a prova antes de concluir o Ensino Médio, para ir se adaptando e conhecendo o formato da prova do vestibular para se preparar melhor para esse processo”, relata.

A professora Letícia Fraga avalia que essas visitas são feitas de maneira bastante responsável e preparada e que o trabalho é contínuo. “Esse é todo um trabalho que a gente faz da universidade ir às comunidades, mas não de qualquer forma. De forma a fazer um trabalho integrado mesmo, o mais receptivo possível e que depois continua no momento em que esses candidatos viram estudantes, são aprovados na seleção, e a gente pode fazer o trabalho de continuidade, de incentivar e garantir a permanência desses estudantes até que eles concluam os seus cursos”, ressalta.

 

Texto: Cristina Gresele  Fotos: Aline Jasper (Capa) e PRAE/CUIA/DAAD (foto da matéria)

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