Alessandra, que é historiadora e doutora em Urbanismo, falou com alunos da pós-graduação em História da UEPG e colaboradores do MCG sobre antirracismo, matrizes africanas, patrimônio imaterial, sua experiência com o resgate do jongo em Campinas e com a Casa de Cultura Fazenda Roseira. “Carregar um corpo preto e ter uma identidade preta é uma construção permanente”, destacou.
Além da troca de experiências e capacitação da equipe, a visita também permitiu começar a articular uma exposição no primeiro semestre de 2025, a partir da história em quadrinhos “Ditinha na terra do Sapeca-iáiá”. “Nós vamos inclusive conversar com o professor Renê Wagner Ramos, da rede dos museus universitários, pra que essa exposição possa circular pelo Paraná”, antecipa Niltonci.
Rota Preta
Alessandra também conheceu o Rota Preta PG, projeto de extensão do Museu Campos Gerais sob coordenação do professor Robson Laverdi, diretor de acervos do Museu, e da pós-doutoranda Merylin Ricieli dos Santos, em parceria com o Departamento de História, o Programa de Pós-graduação em História e membros do Movimento Negro local.
“A Rota Preta tem como objetivo identificar pontos que revelam essa presença negra em Ponta Grossa desde a origem da nossa história”, explica o professor Niltonci. Em um primeiro momento, o projeto traçou 51 pontos urbanos com presença da comunidade negra na cidade, a partir das perspectivas da cultura, religiosidade, trabalho e sociabilidades. “A ideia da Rota Preta é fazer com que as pessoas conheçam essa história e valorizem essa história. Essa é uma missão muito importante do Museu, como esse espaço de memória pública que nós temos aqui na nossa cidade e que pertence à UEPG”.
A Rota Preta teve inspiração em projetos que acontecem em outras cidades brasileiras. “A gente teve como referência o projeto Linha Preta, em Curitiba, organizado também por integrantes do Movimento Negro de lá, em parceria com uma universidade, chamada UniBrasil”, exemplifica a pós-doutoranda. Outros projetos similares acontecem em Florianópolis, Salvador, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
São cinco circuitos principais de visitação: dois na região central da cidade; um no bairro de Oficinas e zona rural; um em Uvaranas; e um em Olarias. “Estamos organizando para que as pessoas possam fazer esses percursos numa perspectiva de duas a três horas de caminhada”, diz Merylin. “E aí dentro desses espaços, tem clube negro, com a presença negra efetiva, tem espaços onde a população negra trabalha ou trabalhou, tem nomes de rua…”, exemplifica. A primeira rota com a presença de visitantes está prevista para novembro, mês em que se evidencia as lutas e resistências da população negra.
Lapa
Ainda no circuito de eventos promovidos com a mestre jongueira Alessandra Ribeiro, o MCG foi representado na roda de conversa sobre ações de promoção e difusão de referências culturais de matriz africana, na Lapa, pela pós-doutoranda Merylin Ricieli dos Santos e pelo diretor de Ações Educativas Ilton César Martins.
Durante o evento, na tarde de sexta-feira (25), foi inaugurada a exposição itinerante “Memórias Afrolapeanas”, na sala de exposições do Museu Casa Lacerda. A exposição foi construída pelo Iphan-PR em parceria com a Comunidade Quilombola da Restinga e busca apresentar outras visões sobre o patrimônio cultural da Lapa, partir de memórias e saberes de suas comunidades negras, como a Restinga, o Feixo e a Vila Esperança, a Irmandade de São Benedito e o grupo Congada Ferreira. Na roda de conversa, participaram autoridades locais e representantes das comunidades negras.
Texto: Aline Jasper | Fotos no MCG: Aline Jasper | Fotos na Lapa: Cristiano de Jesus / Iphan-PR