Autobiografia conta a história de William Starke

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“William Starke. Esse é meu nome. Minha história foi conhecida e, depois de longos anos, transformada”. Assim começa o livro que conta a história de William Starke, escritor, ilustrador e artista. A obra “Magnata”, autobiográfica e lançada no fim de dezembro, relata o envolvimento com as drogas, tráfico, a prisão e a ressocialização, por meio do trabalho com livros.

Um mês antes de falecer em decorrência da Covid-19, William escreveu à Editora Texto e Contexto, responsável pela edição e publicação da obra, sobre a gratidão por ter a oportunidade de contar sua história. “Reconheci, planejei, sofri e consegui. Sozinho? Não! A todos que me deram oportunidade, deixo meu abraço e um agradecimento do fundo do meu coração”.

“Uma história de luta e de uma vida intensa. Os caminhos percorridos despontam para várias avenidas da vida. As dificuldades superadas. Um recomeço”, resume o prefácio do Juiz Federal Antônio César Bochenek, professor do curso de Direito da UEPG. Com o carisma e leveza que eram característica da sua personalidade, William relata, em primeira pessoa, a trajetória com o crime e com os livros. O ex-presidiário teve oportunidades de ressocialização dentro e fora da Penitenciária Estadual de Ponta Grossa, primeiro com a restauração de livros na oficina instalada na unidade, e depois no regime semiaberto, com o trabalho na Biblioteca e no Museu Campos Gerais, da Universidade Estadual de Ponta Grossa.

“Os livros mudaram minha vida. Chegou um dia em que entrei na cela e percebi que não me encaixava mais naquele ambiente. Minha cabeça era outra”, contou, em entrevista em agosto de 2019, quando ainda cumpria pena por tráfico de drogas (foram quase dez anos de reclusão, antes da liberdade, no início de 2020). Já na época, ele planejava escrever um livro e contar sua trajetória de vida. Mas veio a pandemia de Covid-19, e o lançamento da obra precisou ser adiado.

O amigo e responsável pelo projeto de ressocialização de presos na Universidade em parceria com o Departamento Penitenciário, Rauli Gross Junior, chefe de gabinete da UEPG, atuou na supervisão editorial e intermediou o contato com a Editora. “Este livro prova que o melhor investimento para inibir a criminalidade é valorizar o ser humano, criando oportunidades para que as pessoas possam sonhar e efetivamente concretizar estes sonhos”, aponta. “Na verdade, todos procuramos não somente um espaço, mas também o reconhecimento da sociedade, e William encontrou essa visibilidade social dentro do Sistema Prisional, o que não é nenhum demérito, ao contrário, e ele conseguiu agarrar as poucas oportunidades e provar às pessoas que é capaz”.

“Magnata” está disponível em formato e-book, com acesso gratuito, neste link. “Optamos pelo e-book para que tenha o maior alcance possível, já que uma edição impressa teria a tiragem limitada”, explica Rosenéia Prestes Hauer, diretora da Texto e Contexto. Além disso, a edição conta com fotos coloridas, para que os leitores conheçam o rosto de William. “O rosto de quem lutou tanto para ter uma vida digna novamente”, enfatiza.

“Quero que minha filha pense em mim como o pai que desenha, que restaura livros”. O desejo expresso em 2019, em entrevista, marca o legado de Starke. O “Magnata”, traficante reconhecido na região, agora é notícia por sua obra e por seu trabalho. Não poderia haver memória melhor.

Serviço:
E-book disponível no site da Editora Texto e Contexto
Capa: Dyego Marçal
Revisão: Suellen Haag Suchoronczak
Coordenação Editorial: Néia Hauer
Supervisão Editorial: Rauli Gross Jr.

Texto e foto: Aline Jasper

Leia a nota de pesar divulgada em 23 de maio de 2020, marcando o falecimento de William Starke; e relembre a reportagem especial veiculada em agosto de 2019, sobre o trabalho no restauro de livros na Biblioteca da UEPG.


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