Os alunos e professores da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) podem contar com mais um cuidado para o andamento seguro e inclusivo das aulas práticas presenciais. Para facilitar a comunicação de pessoas com deficiência auditiva, a instituição fornece máscaras faciais com visor transparente. A iniciativa, que acontece por intermédio da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae), tem o objetivo de possibilitar a leitura labial durante a aula e facilitar o aprendizado dos estudantes.
Desafios
O uso do fone também se tornou um obstáculo para Bruna Perek, aluna do 2º ano de Química Tecnológica. Para pessoas com perda auditiva como as duas, o uso de fone não é recomendado, pela sensibilidade maior comparada a pessoas com audição normal. “Com a aula remota, a gente usou muito o fone e eu tive uma perda na audição, mas eu me obriguei a usar, porque o som do computador não dava pra ouvir direito. Por causa disso, eu fiquei com perda moderada de audição, que antes era leve. Foi algo que tivemos que usar nas aulas e a perda se tornou uma consequência”, descreve.
O que é privacidade para alguns, pode ser sinônimo de dificuldade para outros. “Outra coisa que me atrapalhou muito na pandemia foi os alunos não abrirem a câmera para eu entender o que estavam falando, era muito difícil pra mim”, conta Karen. O fato de alunos preferirem não ligar a câmera não parou a professora. “Comprei quatro fones de ouvido de alta qualidade e até fiz exercícios de fala para poder me expressar melhor nas aulas online”.
Rotina
O som é apenas um dos modos de entender o que outro está falando. “O jeito da gente se comunicar é pela leitura labial, pelo olhar e as expressões faciais”, explica Bruna. Com a máscara cobrindo mais da metade dos trejeitos primordiais para o entendimento, Bruna evitava sair de casa na pandemia. “A gente está acostumada com a leitura labial e do nada tem algo tapando e dificultando a nossa comunicação, por isso eu evitava sair para resolver coisas mais simples que precisassem de comunicação. Sempre tive que ir com alguém”, relembra. Bruna até pensou que tivesse perdido a audição nesse período. “De fato, isso aconteceu um pouco, mas não tanto quanto eu achava, porque na verdade era a máscara que estava dificultando as coisas”.
“Eu pensava: ‘Por que será que as pessoas não colocam uma boca na testa para eu entender o que elas estão falando?'”, ressalta Karen. Embora a dificuldade de se comunicar seja evidente, aluna e professora não descartam o uso da máscara como item essencial de proteção contra a Covid-19. “Nós criamos outros hábitos de entendimento. Olhamos muito nos olhos e já temos um macete nas aulas – quando alguém precisa falar, levanta a mão um por vez”, adiciona a professora.
Acessibilidade
Receber a máscara transparente também ajudou os colegas de Bruna durante as aulas, conforme conta o acadêmico Fábio Bueno. “Facilitou muito a comunicação com a professora e os colegas, além de vermos na prática a importância do uso da máscara transparente para pessoas com deficiência”, ressalta. A turma teve poucas aulas práticas antes do início da pandemia. Com o retorno ao presencial, a máscara transparente foi fundamental para facilitar a comunicação. “Facilitou a interação entre a gente, porque às vezes elas não conseguem ouvir o que estamos falando e a máscara ajuda. Então está sendo muito proveitosa essa troca”, complementa Fábio.
“Dou aula há duas décadas na UEPG e nunca me senti tão acolhida como agora, porque eu vi que a UEPG se preocupou comigo”, relata a professora. Karen ficou sabendo da iniciativa da Prae através da coordenação do Departamento de Química, que sugeriu o uso de máscaras transparentes durante as aulas. “Vi que os alunos poderiam ganhar qualidade na aula e eu me senti mais acolhida. Eu aprendi a lidar com isso da melhor forma e os alunos foram bem receptivos”. A iniciativa prepara os alunos para além dos muros da UEPG, segundo a professora. “Assim, eles já aprendem que durante a vida vão encontrar alguém com deficiência auditiva na vida e a Universidade está aqui para prepará-los”.
Acolhimento
O atendimento aos alunos e alunas com necessidades educativas especiais está previsto no Plano de Desenvolvimento Institucional, conforme informa a pró-reitora de Assuntos Estudantis, Ione Jovino. “A obrigatoriedade das cotas para pessoas com deficiência nos impulsiona a dar ainda mais atenção ao tema”. Para ela, é importante que o olhar para a inclusão seja abrangente, para além do acesso com autonomia a mobiliários e espaços físicos. “Neste momento em que ainda persistem os cuidados relativos à pandemia de Covid-19, mas em que retornamos às atividades presenciais, a acessibilidade comunicacional passou a ser uma preocupação de muitos cursos, nos quais existem alunos ou docentes com necessidade de fazer leitura labial na interação com as turmas”. Diante dessa demanda e em busca de uma política de sucesso, ancorada numa visão mais ampla de acessibilidade, “a Universidade buscou garantir esse direito, mobilizando recursos para a compra e estratégias para a distribuição das máscaras”, completa a pró-reitora.
“Nós tentamos fazer sempre uma Universidade mais inclusiva e plural possível, com a presença de todos os grupos de nossa comunidade”, destaca o reitor da UEPG, professor Miguel Sanches Neto. “Mas para que isso ocorra, é necessário que a Universidade tenha uma infraestrutura e ofereça condições para que essas pessoas possam frequentar as atividades didáticas”. Um desses projetos, de acordo com o reitor, é o da máscara transparente. “Vai permitir que as pessoas que têm dificuldade auditiva possam acompanhar as aulas promovidas pela Universidade”.
Como solicitar as máscaras
Todas as turmas que tenham alunos ou professores com deficiência auditiva podem solicitar para a Prae as máscaras. Os interessados devem encaminhar solicitação para o e-mail dirae@uepg.br, com o assunto “Solicitação de máscaras de proteção para aulas presenciais”.
Texto e fotos: Jéssica Natal