A ligação entre na mãe e filho é traduzida fisicamente no Hospital Materno-Infantil da Universidade Estadual de Ponta Grossa (Humai-UEPG). Na busca pela plena recuperação de bebês internados, a equipe multidisciplinar da instituição aplica o método canguru, para manter mãe e bebê unidos no tratamento. A prática consiste em ‘amarrar’ o paciente junto à mãe, preservando o toque e conexão materna.
Liam nasceu prematuro, com pulmões ainda não plenamente formados e baixo peso. O fato fez com que ele precisasse ficar na incubadora da UTI Neonatal. Paula fica com o filho o dia todo e o contato dos dois é pelo método canguru. “Sempre que venho, fico com ele no colo, tendo contato direto e é maravilhoso, fico encantada namorando o rostinho dele”.
O caso Paula e Liam não é exclusividade no Humai. A prática do toque pele a pele da família com o bebê auxilia no tratamento, reduz estresse e ajuda a mãe a ter mais confiança na amamentação, conforme explica a residente em enfermagem obstétrica, Victória Claro. “O método canguru é uma proposta de tratamento humanizado, tanto para o bebê quanto para sua família”, relata. A ação não acontece somente no internamento do bebê. “Trabalhamos com isso desde o pré-natal; quando se percebe o risco de ter internamento; e se estende até o paciente atingir 2,5 kg, nossa meta para alta”. A prática é considerada padrão ouro em cuidados pré-natais. “E aqui não aplicamos apenas o método em si, mas também a questão de luz mais branda, som baixo e treinamento da equipe, para proteção do pleno desenvolvimento, pois só pelo fato de estar fora da barriga antes da hora ele já é exposto a vários estímulos estressantes”, destaca a residente.
O método canguru surgiu na década de 70, em Bogotá, Colômbia, com o objetivo de suprir a falta de estruturas para demandas dos recém-nascidos. “Eles perceberam o quão benéfico era para a família e na recuperação dos bebês, e isso foi se expandindo pelo mundo”, informa Victória. No Brasil, a prática iniciou nos anos 90 com uma proposta mais ampla, de forma a ofertar tratamento humanizado como padrão de cuidado. A ideia é que bebê e mãe fiquem na posição o maior tempo possível, desde que seja prazeroso para ambos. “Quanto mais eles ficarem juntos, mais o bebê ganha peso e é menos exposto a estresse”, avalia. Antes de colocar efetivamente o paciente no colo da mãe, o método inicia já no toque. “Nós iniciamos falando com a família e explicado como funciona, à medida que o bebê fique mais estável, nós o posicionamos, sempre preservando esse toque”, diz a residente.
A enfermeira coordenadora das UTIs Neonatal e Pediátrica do Humai, Ângela Maria de Souza, ressalta que a humanização no atendimento é algo priorizado entre as equipes. “Você vê o jeito com que o bebê está posicionado e isso cria um vínculo enorme com as mães, e quando chegar a hora em que elas vão amamentar já se sentem mais seguras. Por isso, o desenvolvimento do bebê e como eles respondem clinicamente também se deve a esse tratamento que damos”.
O contato pele a pele com a família é prioridade no Humai. “Nós priorizamos muito a família, essa abertura e a disponibilidade de profissionais altamente qualificados conseguem esse resultado diferenciado de trabalho, sempre seguindo as normas do Ministério da Saúde”, ressalta. Ângela ainda complementa que a filosofia de atuação profissional nos Hospitais da UEPG é não ter o paciente como posse. “Não é nosso bebê, mas sim da família. Incluí-los no cuidado e recuperação é uma das nossas prioridades”.
Sentada na cadeira ao lado da incubadora, Paula não tirava os olhos do filho recém-nascido. “Sei que ele fica mais tranquilo e seguro aqui comigo, então já é uma fase maravilhosa e realizadora para mim”. E com a surpresa de um bebê na família, o que fazer com o enxoval? “Estou aproveitando que ele tá aqui para correr atrás, mas já está quase completo, foi na correria, mas conseguimos doações e vários presentes”. Como o bebê é da família, Liam é de Paula desde sempre. “No fundo eu sempre fui mãe dele, só ainda não sabia, e é um amor que transborda, foi amor à primeira vista, sem dúvida”, completa.
Texto e fotos: Jéssica Natal