“A vinda da exposição para a UEPG surgiu de parceria com o Museu Histórico da Universidade Estadual de Londrina e da necessidade de inserir o MCG no roteiro de mostras que circulam pelo estado”, afirma o diretor do MCG Niltonci Chaves. O professor e historiador diz que “a Lobatiando leva o museu a atender o público infantil e juvenil, além de desenvolver novas possibilidades de interação e mediação. Trata-se de explorar um novo uso do salão Saint-Hilaire, que abrigou até então a exposição fotográfica de Orlando Azevedo”. “Consideramos também que a obra de Monteiro Lobato é referencial na cultura popular brasileira”, pontua o diretor.
A exposição – que tem mais de 20 quadros, adereços, além de cartas de estudantes, livros raros e esculturas de personagens – leva a assinatura das irmãs e artistas plásticas Patrícia e Renata Maia. A curadoria é da professora Sueli Bortolin, do Departamento de Ciência da Informação, do Centro de Educação, Comunicação e Artes da Universidade de Londrina.
O objetivo da exposição, de acordo com as organizadoras, é resgatar o gosto pela literatura brasileira e não tem limitação de idade. “Quando se pensa em literatura infantil brasileira, a primeira ideia que vem é Monteiro Lobato. Ele impulsionou a literatura infantil brasileira e influenciou outros grandes escritores, como Ana Maria Machado”, explica. A exposição tem como pano de fundo a literatura infantil, mas é atraente para todos os públicos. “Por isso teremos uma série de atividades que acompanham e orientam a visita do público, como dramatização, oficinas e mediação qualificada”, adianta a diretora de Ação Educativa do MCG, Patricia Camera. Também estão previstas ações de interesse acadêmico em outubro e novembro para o debate das de facetas e posições de Monteiro Lobato.
Entre os destaques da exposição estão a boneca Emília e também texto do escritor e reitor Miguel Sanches Neto que recupera a passagem de Lobato por Ponta Grossa. O diretor do acervo do MCG, Rafael Schoenherr aponta que “as histórias do Sítio do Pica Pau Amarelo compõem o imaginário de gerações no Brasil, com diversas reapropriações audiovisuais e imagéticas, que dialogam inclusive com públicos de diferentes idades”. O professor comenta ainda que “o sítio não é apenas um cenário, mas um lugar imaginário de formulação, jogo, histórias e lendas da cultura brasileira, uma espécie de lugar de memória”.
Serviço
A exposição Lobatiando fica aberta ao público até 7 de dezembro, no Museu Campos Gerais. A visitação é de terça a sábado, das 9 às 12h e das 13h30 às 17h. As visitas monitoradas devem ser agendadas pelo telefone (42) 3220-3470 e ocorrem de terça a sexta-feira. Todas as atividades são gratuitas.
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Texto de Miguel Sanches Neto, escritor e reitor da UEPG, que estará em exposição na Lobatiando:
Depois de ter sido demitido do jornal curitibano onde trabalhava (Gazeta do Povo), Wilson Martins (1921-2010) recebeu um convite para secretariar o Diário dos Campos. Deixando a capital, transferiu seus estudos para o Regente Feijó, onde fez o último ano do colegial. Sempre contava que, entre seus feitos na cidade, o que mais o orgulhava era ter entrevistado o escritor Monteiro Lobato, de passagem em suas aventuras de dublê de minerador. O encontro foi tão importante para o jornalista imberbe que ele transcreveu parte da entrevista (de 20 de outubro de 1938) na sua monumental História da Inteligência Brasileira.
O jornalista procurou o escritor na Estação, quando findava sua viagem pelo interior do Paraná. Haviam sido 12 horas de carro entre Laranjeiras e Ponta Grossa. Daqui, ele iria a São Paulo.
Naquele então, Lobato era o defensor do petróleo, e não entendia como o país não buscava ser o grande fornecedor mundial. Embora acionista de companhias petrolíferas, ele veio ao Paraná em busca de minas de cobre, porque para explorar o petróleo aqui era necessária uma coisa inexistente – boas estradas. Começa a conversa reclamando disso.
Diz ele, no seu jeito provocador: “O Brasil é um país atolado. Por toda a parte: lama, lama, lama. Não temos estradas…”
Wilson brinca: “O Brasil é um país essencialmente longe…”
E o escritor revida: “Essencialmente longe e lamacento.”
Defendendo a construção de rodovias, sem as quais não haveria progresso, Lobato mostra a coerência de sua obra. Rapidamente, o jovem compara o país a um dos personagens mais famosos de Lobato, o Jeca Tatu – o Brasil não queria se calçar. Era avesso aos hábitos da modernidade.
A conversa entre os dois tem um tom amigo, embora estivessem se conhecendo naquele momento, e Wilson contasse com 17 anos. Grande ídolo da juventude, Monteiro Lobato representava uma energia empreendedora.
O escritor tinha ido à cidade de Laranjeiras do Sul em busca de cobre e trazia, além das amostras deste minério, muito barro que amassara na viagem. A partir de Ponta Grossa, via trem, ele se ligava ao mundo contemporâneo, mas ansiava pelo futuro.
É com orgulho típico dos sonhadores, esses espécimes que mudam o mundo com a força do querer, que fala de sua recente descoberta:
“Tenho aí na mala umas amostras do que encontrei. Aliás, com o cobre de Laranjeiras deu-se um fato curioso: o Ministério da Agricultura enviou um técnico, dos seus, a constatar a sua existência. Pois bem: o moço foi, viu e não encontrou o cobre. Eu, por meu lado, fui e encontrei esse precioso metal.”
Com o petróleo, aconteceria a mesma coisa. Ninguém acreditava nas reservas petrolíferas no país, mas ele afirmava a sua existência de forma categórica, creditando a nossa descrença à ignorância, à falta de formação técnica:
“Você já sabe de tudo o que eu sei: em primeiro lugar, o Brasil TEM petróleo. Isso é a verdade mais verdadeira que eu conheço. Mas, para que se ache petróleo, não é suficiente ter entusiasmo. É preciso ter entusiasmo e ciência”. Ele possuía os dois, e não admitia um país visto a partir de nosso incorrigível caipirismo.