Na rua, o 50º Fenata alcançou o mundo. De 09 a 13 de novembro, seis peças escolhidas pela curadoria do Festival Nacional de Teatro, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), foram encenadas em praças e espaços públicos de Ponta Grossa. De crianças a adultos, o público pôde se encantar com o teatro ao ar livre. Uma dessas peças, “A Caravana dos Pássaros Errantes”, do Grupo Nômade, de São José dos Campos (SP), recebeu um prêmio especial do Festival, pela extensa pesquisa realizada.
Na programação do Fenata, o espetáculo estava previsto para a Praça Marechal Floriano Peixoto, em frente à Catedral e à Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Culturais (Proex) da UEPG. As manifestações que tomam o espaço da praça fizeram com que fosse necessário mudar de local, mas Pedro continuou com a mesma alegria que é marca registrada do seu trabalho como palhaço. “Tô felizão de estar aqui”, garante. A peça é especial, para ele, porque é uma autobiografia: conta a história de um cozinheiro que virou palhaço. Durante a peça, uma cozinha portátil torna possível mostrar a receita de sua avó ao vivo, assando um bolo de banana e o distribuindo ao público.
O palhaço Sequinho, nome artístico de Pedro, trabalha com teatro e circo há 11 anos. Todos seus espetáculos são de rua, embora adaptáveis para qualquer espaço. “A rua me deu liberdade. O que a gente gosta é a rua, o olho no olho, o contato humano”, enfatiza. “É muito gostoso sair de casa e voltar a brincar com o público, voltar para a nossa normalidade”.
No espaço com maior movimento de pedestres do Centro de Ponta Grossa, o Calçadão da Rua Coronel Cláudio, um grupo grande de pessoas se reuniu para assistir a dois palhaços que saltam, rodopiam, fazem malabares e estripulias para divertir o público. Adriano Gouvella e Lucas Turino, da Cia Os Palhaços de Rua, de Londrina, trouxeram ao 50º Fenata o espetáculo “Números”, retomando a primeira peça da Companhia. “Voltar ao Fenata é sempre muito gratificante, porque o público para para assistir”, comemora Adriano. Em 2019, eles também estiveram na programação de rua do Fenata, com a peça “Vikings e o Reino Saqueado”.
“Para um espetáculo de rua, o público é o principal. O espetáculo só acontece a partir da troca com os espectadores”, comenta Lucas. “O público do Fenata é muito receptivo e caloroso, eles devolvem o que a gente manda”. E o público, neste sábado (12), estava disposto a participar da peça com sorrisos, risadas e muito carinho. Mesmo depois de interrompida a peça para a passagem de um camburão de polícia, os espectadores mantiveram o interesse e a participação.
“Fazer um festival de teatro é um ato de resistência”. Para Adriano, fazer parte do 50º Fenata evoca o quanto é difícil trabalhar com cultura e o quão importante é o espaço dos festivais. “Por tantos anos que o Fenata resiste a tantas idas e vindas, é gratificante estar aqui fazendo parte”.
A peça mais polêmica do Fenata deste ano: “Hi, Breasil!”, do Grupo Olho Rasteiro, de Curitiba, poderia ter recebido esse prêmio, caso ele existisse. Um grito contra discursos autoritários, a peça-manifesto-samba-enredo ocupou na tarde de sábado (12) um espaço de lazer movimentado aos fins de semana, o Lago de Olarias. Sentado na grama, o público acompanhou a história de cinco amigos: um professor, uma mãe, uma atriz, uma jovem e um peixe. É uma peça complexa, repleta de significações e poéticas. No momento destinado à história da Mãe, fazendo alusão às cicatrizes e partes do corpo que compõem cada um de nós, os atores ficavam com roupas da cor da pele de cada um, com tarjas pretas que representavam a censura. Nas redes sociais, rodou rapidamente uma foto e um vídeo feitos à distância, alegando que os atores haviam ficado nus.
Apresentar para crianças tão pequenas o teatro tem bons resultados, segundo a mãe. “Eu tento criar ela de uma forma lúdica. Ela se interessou muito pelo teatro e quero manter ela cada dia mais interessada por cultura e por arte”. Quem sabe vem uma pequena artista por aí? “O incentivo para isso ela vai ter”, sorri a mãe.
Apoio
A Mostra de Teatro – 50º Festival Nacional de Teatro (Fenata) é realizada pelo Ministério do Turismo, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e Fundação de Apoio à UEPG (FAUEPG), com patrocínio da GMAD, Deragro – empresa do Grupo Lavoro, Belgotex do Brasil, Tratornew e Shopping Palladium. Conta ainda com o incentivo da Prefeitura de Ponta Grossa, por meio da Secretaria Municipal de Turismo (Setur) e Conselho Municipal de Turismo (COMTUR). O Fenata tem o apoio da Secretaria Municipal de Cultura, Teatro Marista Pio XII, Fecomércio – Sesc Estação Saudade e Museu Campos Gerais; e promoção da RPC.
Texto e fotos: Aline Jasper