Liberdade. Essa palavra fazia o olhar de William Starke brilhar. O sorriso, fácil, abria por qualquer coisa – era simpático, cativante. Nesse sábado (2 2), o artista, restaurador e escritor faleceu, por complicações da Covid-19, aos 39 anos. Deixa uma filha de 10 anos.
Um talento nato para fazer amizades e para a arte, William fez amigos por onde passou na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Era um exemplo de recuperação social através da arte e dos livros. Ele foi um dos detentos da Penitenciária Estadual de Ponta Grossa que trabalhou na UEPG para para remição de pena. “Os livros mudaram minha vida. Chegou um dia em que entrei na cela e percebi que não me encaixava mais naquele ambiente. Minha cabeça era outra”, contou, em entrevista em agosto de 2019, quando ainda cumpria pena por tráfico de drogas. Na UEPG, ele atuou na restauração de livros na Biblioteca e no Museu Campos Gerais. A liberdade provisória veio durante a pandemia, após quase 10 anos de prisão.
“Recebi com muita tristeza a notícia do falecimento do William, uma pessoa jovem e cheia de sonhos. Com seu sorriso contagiante e simpatia, logo que foi prestar serviço de encadernação de livros na Biblioteca, conquistou amizades”, lamentou a diretora da Biblioteca Central da UEPG, Eunice Morais. Ela conta que, antes de sair da Biblioteca, ele teve uma preocupação a mais: indicar um amigo para dar continuidade no serviço de encadernação e restauro de livros.
Ele chegou ao Museu Campos Gerais para fazer a recuperação de livros do acervo histórico, mas logo ocupou outros espaços, devido ao carisma e proatividade que faziam parte da sua personalidade. “Sempre atencioso e educado, durante os meses em que conviveu conosco ele se transformou em uma figura muito importante no funcionamento do Museu”, diz Niltonci Chaves, diretor do MCG, que conta ainda que William se mostrou um artista nato, contribuiu com a montagem de exposições e participou de inúmeras atividades no setor de Ação Educativa. “Essa foi uma das experiências mais lindas que vivemos no Museu e ele, certamente, se sentiu acolhido e respeitado por todos nós. Não temos dúvidas de que, após a pandemia, ele – de alguma forma – voltaria a estar conosco. Estamos muito tristes com o seu falecimento precoce!”
“O livro, seus sonhos, planos, projetos”. Luciana Oliveira, que trabalha na Pró-reitoria de Recursos Humanos da UEPG, lamentou a partida precoce do amigo. “Estamos arrasados com sua partida tão precoce, sem terminar tudo que tinha na sua cabeça, cheia de ideias. Obrigada por ter feito parte significante das nossas vidas”.
Um dos grandes sonhos de Starke era ser escritor – contar sua história de vida em um livro, já que foram os livros que mudaram sua trajetória. “Magnata” começou a ser escrito em 2017 e estava, agora, em fase de finalização, na Editora Texto e Contexto, contato intermediado pelo amigo e chefe de gabinete da UEPG, Rauli Gross. O talento para a ilustração também não será esquecido. O diretor do MCG conta que, caso a família autorize, o Museu prepara uma exposição com as obras de William.
“Quero que minha filha pense em mim como o pai que desenha, que restaura livros”, desejou ele, em 2019. E essa é a memória que fica de William Starke. O escritor, ilustrador, artista. Um amigo. A UEPG se solidariza com a família e amigos enlutados.