Já faz mais de um ano que as vidas de Adriana e Graça viraram de cabeça para baixo. Ambas professoras da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), elas enfrentaram um desafio a mais nos últimos meses. Enquanto o mundo estava aflito com a pandemia da Covid-19, as duas viviam o drama particular da descoberta de um câncer de mama. No Outubro Rosa, mês dedicado à conscientização sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce, as professoras comemoram a chegada da cura após cirurgias e sessões de radioterapia.
Apesar de não trabalharem juntas na UEPG, a vida de ambas possui coincidências visíveis. Adriana Rodrigues Suarez e Maria das Graças do Espírito Santo Tigre decretaram o fim do câncer praticamente na mesma semana – Adriana no fim de julho e Graça no início de agosto. As professoras têm plena convicção da contribuição da instituição nas suas vidas, fazendo com que as duas defendam, “com unhas e dentes”, a universidade pública, gratuita de qualidade.
Graça
A descoberta da doença veio por acaso. A professora sentia uma dor e resolveu ir à ginecologista para fazer um pacote completo de exames. Até então, eram procedimentos de rotina, até que veio a mamografia. “Fiquei 1h30 refazendo o exame e aquilo me dava uma agonia, pois eu vi que tinha alguma coisa errada. Levei o resultado dos exames e imediatamente minha ginecologista ligou para a Ispon”. A Ispon em que Graça se refere é o Instituto Sul Paranaense de Oncologia, instituição voltada ao tratamento de câncer. O fato de entrar em um local que trata um tipo determinado de doença já encheu a professora de medo. “Só de passar na frente do hospital, para mim, foi algo aterrador. Entrar lá e agendar consulta já foi algo que me deixou muito desestabilizada”, recorda.
Mas, até aquele momento, Graça não tinha um diagnóstico completo. “Eu não tinha um nódulo, nem cheguei a ter um nódulo, o médico denominava como uma lesão”. A área suspeita tinha entre 7 a 9 milímetros, o que significava a descoberta ainda na sua fase mais precoce. Em dezembro, o médico resolveu fazer uma cirurgia. Com toda a região suspeita retirada, o diagnóstico preciso finalmente veio: um carcinoma ductal não especial invasivo grau 2. “Esse é o que se manifesta em 75% das mulheres com câncer de mama, em termos estatísticos”, afirma Graça.
O diagnóstico trouxe uma nova realidade na vida da professora universitária: “você começa a ter acesso a siglas, exames e a outros nomes que não faziam parte do seu vocabulário”. Também, novos questionamentos: “Comecei a pensar quanto tempo eu teria de vida e como iria me reprogramar a partir dali”. Graça ainda fez mais uma cirurgia de retirada dos linfonodos da axila. No meio do furacão e maratona de cirurgias, ela foi infectada pelo coronavírus. “Com a Covid, eu achei que ia morrer”, ri. O furacão de acontecimentos não parou. “Fiz a segunda cirurgia, em abril deste ano, e quando estava me recuperando perdi a minha mãe no mês seguinte”, conta. O ano de 2021 não está de brincadeira com ela. Durante as sessões de radioterapia, Graça precisou fazer uma cirurgia de emergência na coluna. “Mas fiz as 30 sessões de radioterapia mesmo assim”, afirma. Segundo os médicos, o câncer havia desaparecido apenas com a cirurgia, a radioterapia foi a garantia para aumentar a margem de segurança para que o mal não reaparecesse.
Adriana
Quem procura, acha. Essa é a máxima que Adriana usa quando se refere ao câncer de mama que descobriu no final do ano passado. E não é como se ela estivesse à procura de um câncer, mas o fato de que sua mãe e avó tiveram o mesmo mal fez com que a professora fosse rígida quanto à rotina de exames. Ela se lembra exatamente da frase que sua médica lhe disse no dia da mamografia. “Olha, Adriana, estou vendo algo aqui, fique tranquila, mas deve ser averiguado. Então eu sugiro que o seu ginecologista faça uma biópsia”. No mesmo momento, Adriana ficou preocupada. “Quando a doutora falou isso para mim, fiquei angustiada, mas tive fé. Eu falei: a minha espiritualidade, vinda da religião e a ciência, vão me fazer dar conta disso”, relembra.
Na biópsia, veio a confirmação – um carcinoma de grau 1. Imediatamente, seu ginecologista a encaminhou para uma oncologista, a mesma que cuida de sua mãe. “Eles consideraram como um pré-câncer, que precisou ser retirado por cirurgia”. O resultado da cirurgia sentenciou 15 sessões de radioterapia. E como foi passar pelo tratamento? “Foi pensar sobre a minha vida cada dia. Eu sempre brincava com as meninas ‘menos uma e que vai chegando próximo da minha cura'”, conta. Nem por isso Adriana deixou de se questionar. “Teve momentos que pensava “poxa vida, pra quê isso?”, mas sei que isso é uma realidade de muitas pessoas e o Outubro Rosa está aí para alertar isso”.
Adriana sabe que só superou tudo por fazer exames de rotina todos os anos. “Você tem que se cuidar, você tem que fazer seus exames de rotina para não ser tarde. O câncer de mama é fácil de curar se for diagnosticado cedo”, ressalta. Adriana tem o exemplo em casa – sua mãe tratou a doença cedo e hoje está curada. “Minha avó demorou a tratar, foi deixando o câncer crescer, e quando viu já era tarde demais”. Depois meses tensos, em que se lembrou da mãe e da avó na mesma situação que ela, julho deste ano marcou a última sessão de radioterapia de Adriana. “Quando eu terminei, no último dia, eu saí, fui à igreja e agradeci. Falei que iria vencer e venci. Graças a Deus!”.
Relação com a UEPG
Atualmente professora do Departamento de Pedagogia, Graça Tigre relembra a meta que estabeleceu quando ainda era estudante da graduação. “Eu tinha o objetivo de ser professora da UEPG antes dos meus 30 anos”, recorda. O sonho se tornou realidade e, antes dos 30 anos, Graça conseguiu o cargo de professora colaboradora. “Eu posso dizer que aqui dentro tive todas as oportunidades e apoio possíveis. É uma trajetória da 28 anos em que fui subindo de degrau para degrau e cheguei praticamente no ultimo nível”. A vida não parou para Graça Tigre. No próximo mês ela ainda fará a banca para professor associado, que significa outro patamar da profissão. “Aqui é uma instituição que sempre admirei, é um lugar em que eu amo estar, eu honro a oportunidade de estar aqui”. Ao reconhecer todo o esforço próprio para alcançar os objetivos, ela destaca o apoio que a instituição lhe deu para chegar onde chegou. “Aqui é um ambiente protegido para os professores e é um privilégio fazer parte da UEPG, lugar que amo e defendo com unhas e dentes”.
Para Adriana, a vida na UEPG começou depois dos 30 anos. A professora casou jovem, parou o magistério e teve filhos. A história na Universidade veio após o falecimento do marido, em 1999. Adriana fez duas graduações na UEPG: Artes Visuais e Matemática. Depois de se formar, ela retornou à instituição em 2011. Atualmente, é professora efetiva no Departamento de Artes e chefe da divisão de Arte e Cultura. “O doutorado foi feito na UEPG, assim como o pós-doutorado. Tenho um caminho grande fora da UEPG na área da educação, mas hoje me dedico exclusivamente à Universidade”, afirma. A relação com a instituição segue firme e forte. “Adoro dar aula, vivo isso daqui, vivo a UEPG.”
Superação
“A lição que fica é cuidar da minha saúde”, destaca Adriana. A saúde, agora, vem antes do trabalho para ela. “Eu tinha muitos projetos e, quando o médico falou que eu iria parar, eu pensava nas coisas que tinha para fazer, mas agora eu priorizo cuidar da minha saúde”. Mesmo com o fim da radioterapia, Adriana também seguirá tomando medicamentos e fazendo exames periódicos para monitorar a área tratada. “Eu levo como mensagem a ideia de que precisamos viver a vida, cada momento, cada essência nos simples momentos, que é o mais importante”.
Texto: Jéssica Natal | Fotos: Luciane Navarro e Jéssica Natal