Latitude 62°05′ Sul e longitude 058°24′ Oeste. Este será o endereço de Sheisa Fin Dantas Sierpinski nos dois últimos meses de 2022. Aluna egressa do Bacharelado em Química Tecnológica da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), ela está em uma expedição à Antártida para pesquisar a presença do ferro na água superficial da Baía do Almirantado. O embarque aconteceu em 01 de novembro, com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
A pesquisa de Sheisa faz parte do projeto chamado Carbmet, que tem várias frentes de pesquisa. “Eu especificamente sou responsável por fazer a avaliação da biogeoquímica do ferro, por meio da análise de especiação desse elemento em amostras de água”, explica. A biogeoquímica do ferro, conforme a pesquisadora, está indiretamente relacionada ao ciclo do carbono. “Na Estação, vou desenvolver atividades de coleta de amostras de água superficial e sedimentos que vão servir de material de pesquisa para todo o projeto”. Com o estudo, Sheisa também fará determinações de alguns parâmetros físico-químicos das amostras no momento da coleta. “Algumas amostras vão ser processadas já nos laboratórios disponíveis por lá”.
A Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), casa de Sheisa durante a expedição, está localizada na Península Keller, na Baía do Almirantado, Ilha Rei George, arquipélago das Shetland do Sul. O destino de conhecer a Antártida começou a se traçar quando Sheisa fazia doutorado na Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Nós fizemos uma parceria com o professor César de Castro Martins, do Centro de Estudos do Mar, onde eu fiz essas mesmas análises em amostras de água superficial do Complexo Estuarino de Paranaguá”. Durante a parceria, uma oportunidade surgiu – o edital nº 21/2018/Proantar, do CNPq/MCTIC/Capes/FNDCT. “Fomos convidados pelo professor César, que coordena o Carbmet, e como consequência surgiu a oportunidade de ir para a Antártida realizar as atividades de coleta das amostras”, adiciona.
O objetivo do Carbmet é elucidar as múltiplas faces do carbono orgânico e de elementos metálicos no sistema subantártico frente às mudanças climáticas globais; à interferência antrópica local e de longa distância; às conexões com fatores ambientais; e à transferência de material orgânico e inorgânico entre compartimentos da hidrosfera marinha antártica. “Com essa expedição, se espera poder determinar as principais fontes de ferro nesse ambiente e como ele pode atuar nas mudanças climáticas. Além, é claro, de ser uma realização pessoal, pois essa expedição é uma oportunidade única”, destaca Sheisa.
A trajetória com pesquisa começou ainda na graduação da UEPG, sempre na área ambiental e estudo de águas superficiais, como rios e lagos. A pesquisa do TCC em 2008, por exemplo, foi realizada na Represa de Alagados, com coleta e análises de amostras de água. Logo depois, Sheisa iniciou o Mestrado em Química Aplicada na UEPG, com uma pesquisa experimental referente ao Projeto ‘Estudo do Comportamento de Estrogênios e de suas Interações com Substâncias Húmicas’. Pesquisas que envolvem o meio ambiente sempre foram objeto de fascínio de Sheisa. “Foi o que me levou a cursar Química e, desde a graduação, sempre me envolvi com pesquisas de química ambiental, da iniciação científica até o doutorado. Sempre tive professores orientadores que me motivaram muito e me auxiliaram nessa jornada, como a professora Elizabeth Scheffer e o professor Marco Grassi, então sou muito realizada!”, salienta.
A volta para o Brasil acontecerá em 22 de dezembro. E registrar os pinguins de pertinho? “Eu bem que queria, mas a Marinha já avisou: cinco metros [de distância] dos pinguins. Mas eu certamente vou ter bastante foto para compartilhar”, finaliza. Interessados em conhecer mais sobre o projeto que Sheisa participa podem conferir no perfil do Instagram @carbmet.
Texto: Jéssica Natal | Foto: Arquivo Pessoal