Vestibular de Primavera da UEPG trouxe oportunidades inéditas de inclusão social
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Manual de instruções para o fiscal de prova, álcool em gel, provas dentro de um pacote lacrado. O vestibulando chega, de máscara, passa álcool em gel nas mãos e entra no local de prova. Recebe as instruções, o caderno de questões e o gabarito para preencher. Olhares ansiosos, pernas inquietas. A mesma cena se repetiu em centenas de salas nos 46 locais de prova do Vestibular de Primavera da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), distribuídos em 13 cidades do Paraná. Mas em dois destes locais, o Vestibular significava mais do que uma opção de futuro: era uma nova oportunidade. Pela primeira vez, detentos da Penitenciária Estadual de Ponta Grossa (PEPG) e da Cadeia Pública Hildebrando de Souza participaram do Vestibular da UEPG.
Neste domingo (26), candidatos às 725 vagas do Vestibular de Primavera nos cursos de graduação da Universidade Estadual de Ponta Grossa realizaram as provas vocacionadas, de conhecimentos gerais e redação. A taxa de abstenção ficou em 13,72%, com mais de 7800 candidatos que compareceram aos locais de prova. Cerca de 1100 colaboradores trabalharam na organização e aplicação das provas, nas cidades de Ponta Grossa, Cascavel, Castro, Curitiba, Francisco Beltrão, Guarapuava, Irati, Jacarezinho, Maringá, Palmeira, Telêmaco Borba e Umuarama.
Dos cursos ofertados, o mais concorrido é Medicina, que apresenta concorrência de 283,3 candidatos por vaga. Odontologia vem em segundo lugar com 18,4 candidatos/vaga. Em seguida, vem Engenharia de Software (18,2); Direito Noturno (18); e Enfermagem (17,8).
“Para nós, é uma vitória conseguir sensibilizá-los de que são capazes e vê-los aproveitar essa oportunidade”, comemora a pedagoga Ana Lúcia Kulcheski, que atua nas unidades prisionais. Ela conta que os detentos têm a chance de receber a educação formal até o Ensino Médio na própria escola da Penitenciária, mas que o convênio com a UEPG para ofertar as provas do vestibular é algo novo e que vai melhorar ainda mais as atividades de ressocialização. “Foi uma inovação. Ficamos muito felizes que eles podem concorrer a vagas para profissões escolhidas por eles e com a oportunidade de estar inseridos na sociedade”.
Participaram das provas 21 detentos na Unidade de Segurança e 17 da Unidade de Progressão da PEPG, e 25 detentos na Cadeia Pública Hildebrando de Souza, dentre eles cinco mulheres. A pedagoga conta que os vestibulandos se prepararam com dedicação, estudando a partir de apostilas de cursinhos pré-vestibular e do conhecimento adquirido nas aulas. “Eles estão fazendo com o intuito de passar”, sorri Ana Lúcia.
Biossegurança
Mãos limpas, distanciamento social, uso de máscaras e o cuidado uns com os outros. Cerca de 1000 frascos de álcool em gel e 100 termômetros fizeram a linha de frente da biossegurança nas entradas dos locais de prova
Candidatos e ficais de prova seguiram um rígido Protocolo de Biossegurança, elaborado pela Coordenadoria de Processos de Seleção (CPS) e aprovado pela Secretaria de Estado da Saúde. Todos os locais recebem limpeza e higienização antes, durante e após a realização das provas, especialmente salas e banheiros. Superfícies habitualmente muito tocadas, como corrimãos, elevadores, telefones, teclados de computador, catracas, pontos biométricos, torneiras, maçanetas de portas e interruptores de energia também são higienizados.
A vestibulanda Bárbara Wagnitz, tentando uma vaga no curso de Direito, conta que já realizou o PSS 2 em 2021 e se sentiu segura com as medidas sanitárias. “Fico um pouco nervosa com a pandemia, mas no geral tudo correu bem”, argumenta.
Inclusão
O cuidado com a pandemia também é prioridade para Alessandro José Schibelbain. “Pela pandemia, fazer em um dia só vai ser uma boa alternativa, porque temos menos contato. É mais cansativo, mas é uma via boa para os candidatos fazerem essa prova” , aponta. Alessandro já chegou a cursar Letras Português-Inglês na UEPG, mas precisou abandonar o curso. Dessa vez, a ideia é ir até o final. Para isso, ele se preparou para a retomada dos “velhos estudos”. “Me preparei diariamente com materiais dos anos anteriores, todo dia estudando um pouquinho”, conta o vestibulando, que concorre na cota para estudantes negros de escola pública.
Um pouquinho a cada dia, também aconteceu a preparação de Cícero Pereira da Cruz. Entre o trabalho e os estudos, ele tenta uma vaga no curso de Direito. “O horário livre que a gente tem, tem que estudar. Tem que se virar”, conta, sobre a preparação cansativa.
Emily Santos também tenta uma vaga na cota para estudantes negros de escola pública do curso de Direito. É a primeira vez que ela faz o vestibular. “Eu sempre separava um tempinho à noite, depois de chegar do serviço, para estudar”, lembra. “O vestibular em um dia só acaba sendo um pouco corrido, um pouco cansativo. Mas é o que temos”, sorri.
No Bloco D do Campus Centro da UEPG, Adriana Martins Aguiar atua como fiscal no atendimento especial. A ideia, segundo ela, é ajudar as pessoas que mais precisam, para dar oportunidade para fazer a prova. Neste Vestibular, Adriana acompanhou Gisella Barbosa, candidata ao curso de Direito pela segunda vez. Com baixa visão, Gisella precisou do tempo extra para fazer a prova e de uma prova impressa com letras maiores. Além disso, a fiscal fica à disposição para auxiliar na leitura e na escrita.