Nesta segunda (13), o hall interno do Hospital Universitário foi um espaço para falar sobre violência. O lançamento do Protocolo de Atendimento às Vítimas de Violência, organizado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), reuniu representantes das Secretarias de Estado de Saúde; da Mulher e Igualdade Racial; e da Família e Desenvolvimento Social; da 3ª Regional de Saúde; e de secretarias municipais de doze municípios dos Campos Gerais.
Como explica a professora Cleide Lavoratti, a demanda foi identificada em 2017, no próprio cotidiano dos atendimentos das assistentes sociais do Hospital Universitário. “Foram dois anos de capacitação e de construção coletiva da primeira edição deste documento interno para orientar as ações de acolhimento, exames, atendimento psicológico e social e o encaminhamento para a rede de proteção”, lembra. Em 01 de abril de 2022, os Hospitais da UEPG se tornaram referência no atendimento de pessoas em situação de violência, por meio de um pacto entre a 3ª Regional de Saúde, a UEPG e os municípios dos Campos Gerais.
O Hospital Universitário Materno-Infantil (Humai) é referência regional para atender crianças de 0 a 11 anos vítimas de violência física, sexual e negligência severa que demandem atendimento hospitalar. Já o Hospital Universitário (HU-UEPG) atende adolescentes (12 a 18 anos) ou adultos.
Trabalho em rede
Para Cleide, a participação dos municípios da região é um ponto importante. “Foram muitos anos de sensibilização, de captação. O segundo protocolo, atualizado, revisado e ampliado de acordo com a legislação vigente, é uma referência muito grande não só para o trabalho do HU e do Humai, mas para toda a região, que pode usar este documento como ponto de partida para construir seus protocolos, seus fluxos de atendimento, pensando na continuidade do atendimento às vítimas de violência e suas famílias”, reflete.
“O que nós não estamos vendo? O que eles não puderam nos contar?”, questiona a coordenadora da Política Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, Juliana Muller Sabbag, que na solenidade representou a Secretaria de Estado da Família e Desenvolvimento Social. Quando se fala do atendimento a crianças e adolescentes vítimas de violência, é preciso potencializar os protocolos e fluxos de atendimento que promovem um acolhimento. “Uma rede só se faz de mãos dadas”. A assistente social Carla Konieczniak Aguiar, chefe da Divisão de Promoção da Cultura de Paz e Ações Intersetoriais da Secretaria de Estado da Saúde, parabenizou à equipe pela elaboração de um instrumento tão importante para o cotidiano dos atendimentos em saúde.
Juliane Santos, representante da Secretaria de Estado da Mulher e Igualdade Racial, enfatizou que é momento de enfrentar as violências e promover os direitos. “Nossa missão nos traz uma enorme responsabilidade e um compromisso”, diz. “Precisamos nos direcionar à mudança de uma cultura que precisa acabar”.
O que você estava vestindo?
Como explica a professora Marcela Godoy, organizadora da exposição, o projeto surgiu a partir do trabalho em escolas da cidade, com escuta ativa e acolhimento sem julgamento. “Comecei a receber muitos relatos de violência sexual e precisei me preparar psicologicamente para lidar com isso”, conta. “A violência sexual não escolhe grupo étnico, cor, orientação sexual, idade”.
“A violência sexual é a ponta do iceberg. A base desse iceberg tem aquelas frases que a gente às vezes nem para pra pensar”. Por isso, “O que você estava vestindo?” convida a cada um e cada uma que se sente impactado pela exposição, que está exposta no hall do HU-UEPG até sexta-feira (17), para repensar as pequenas e grandes violências cotidianas.
Texto e fotos: Aline Jasper