O grupo reúne mulheres da Biologia do Brasil inteiro e tem o intuito de combater a desigualdade presente na ciência
Um grupo de pesquisadoras de Biologia montou, na última semana, uma rede de apoio para incentivar a participação das mulheres na ciência. Esta rede tem foco na Zoologia, parte da Biologia que estuda os animais.
Segundo a pós-doutoranda pela UEPG e integrante do projeto, Rafaela Lopes Falaschi, a área sofre muito com a desigualdade de representação de mulheres. “Queremos reunir cientistas e criar uma rede de apoio com o objetivo de integrar as zoólogas brasileiras, unindo esforços, experiências e histórias”, explica Rafaela.
O artigo científico que deu origem à rede, e conta com mais de 500 participantes de todo o mundo, tem o seguinte título: “Why we shouldn’t blame women for gender disparity in academia: perspectives of women in zoology” (Por que não devemos culpar as mulheres pela disparidade de gênero na academia: perspectivas das mulheres na zoologia). O documento foi elaborado em resposta a um trabalho científico que argumentava que mulheres cientistas deveriam ter orientadores homens, porque orientadoras mulheres prejudicavam o impacto e a carreira de suas orientandas. A partir disso, elas decidiram se organizar e propor ações para dar mais visibilidade aos seus trabalhos, motivando outras mulheres a fazerem o mesmo.
“De maneira geral, as mulheres são menos reconhecidas, por motivos diversos, que seus colegas homens pelo trabalho que fazem, resultando em menos mulheres em posições de destaque nas diversas áreas da ciência”, afirma Veronica Slobodian, professora da Universidade de Brasília que coordena o artigo científico de lançamento da rede “Mulheres na Zoologia”. De acordo com a docente, as mulheres cientistas passam por muito mais situações de preconceito e desvantagens ao longo de suas carreiras que seus colegas homens. “Não é uma situação equilibrada. Por isso, se uma mulher cientista não conseguir dar condições suficientes de sucesso às suas orientadas tanto quanto homens cientistas conseguem, não é uma falha inerente à mulher: é um problema sistemático. E deve ser combatido como tal.” diz.
A professora explica que essa situação de desigualdade é ainda mais gritante quando falamos do estudo dos animais. “A sociedade, e até parte dos cientistas, não espera que mulheres consigam ir para o meio de florestas, matas e rios coletar animais; isso faz com que mulheres sejam especialmente apagadas nesta área da biologia e, frequentemente, assediadas quando vão à campo”, complementa Verônica, que trabalha com o estudo dos peixes.
No Brasil, por mais que mulheres sejam autoras em mais de 70% dos artigos científicos publicados, elas ainda ocupam menos posições de poder – são menos vistas como professoras de universidades e à frente das sociedades científicas. Na Sociedade Brasileira de Zoologia, por exemplo, a primeira mulher eleita presidente foi apenas no ano de 2012, após 34 anos da Sociedade ser presidida por homens.
A rede “Mulheres na Zoologia” pretende facilitar a troca de comunicação entre pesquisadoras, unindo esforços que se apresentavam espalhados na área. O artigo, que deu início à Rede, já conta com o apoio de quase 600 signatários até o momento: mulheres e homens cientistas que apoiam uma ciência mais diversa e inclusiva. Ele tem como autoras as seguintes pesquisadoras: Veronica Slobodian, Karla D.A. Soares, Rafaela L. Falaschi,Laura R. Prado, Priscila Camelier, Thaís B. Guedes, Laura C. Leal, Annie S.Hsiou, Glaucia Del-Rio, Eliza R. Costa, Karla R.C. Pereira, Annelise B.D’Angiolella, Shirliane de A. Sousa, e Luisa M. Diele-Viegas.
Conheça o artigo que deu início à rede: aqui.
Mais informações sobre a rede: @mulheresnazoologia.
Texto: Rafaela Lopes Falasch (adaptador por Vanessa Hrenechen) Fotos: acervos pessoais das pesquisadoras