Em 1976, Regina ingressou no curso de Serviço Social da UEPG. Na graduação, inspirada a começar na vida extensionista, fez estágio voluntário no Crutac, antes da etapa de estágio obrigatório do curso. Em julho de 1981 se formou.
Naquela época, o Governo do Estado havia proposto um projeto de serviço comunitário nas cidades do interior através da Universidade. A UEPG, uma das instituições que seria responsável pela implantação do projeto, abriu algumas vagas para profissionais da área de Serviço Social. Regina viu neste projeto uma oportunidade de começar no mercado de trabalho e colocar em prática aquilo que aprendeu durante seu estágio no Crutac. No dia 1 de novembro de 1981 entrou para a equipe.
“Viajávamos de Kombi. O projeto era dividido em duas equipes, cada uma ficava com 17 municípios. A gente entrava em contato com as prefeituras e com as escolas rurais para criar associações de pais e mestres, de forma que pudessem ajudar as escolas com os problemas internos e demandas da comunidade em geral”, explica.
Na estrada da extensão
“Era uma aventura. Sempre nas estradas de terra, tínhamos quatro Kombis que encalhavam direto, era difícil, mas foi uma época de ouro. Brinco que foi a melhor fase das nossas vidas, porque éramos uma equipe”, afirma.
Após o término do projeto do Governo, a UEPG adquiriu quatro Kombis e reformulou a ação comunitária. Acadêmicos e professores envolvidos no projeto estadual desenvolveram o “Pró-Comunidade”, que veio a ser um projeto de extensão de relevância na instituição. Com certo tempo de trabalho, o grupo de pessoas do Pró-Comunidade decidiu transformar as diretorias deste projeto e de outros projetos que surgiram na UEPG em uma pró-reitoria. Presente ativamente na formulação da Proex, Regina ajudou nos estudos de regulamentação e normas que precisavam ser feitas para dar vida a ideia de uma pró-reitoria de extensão.
“Durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, a primeira-dama criou o projeto Universidade Solidária que convidava as universidades do país a enviar equipes de estudantes e professores para cidades distantes a fim de desenvolver trabalhos sociais. Eu participei da organização e seleção da equipe que representou a UEPG na primeira edição deste projeto. Era muito legal, em alguns anos foi preciso fazer entrevista entre os acadêmicos porque muitos queriam ir, mas as vagas eram limitadas”, lembra Regina.
Para o deslocamento de docentes e alunos nestas cidades, o Exército era solicitado para buscar cada delegação em seu município e levar aos lugares remotos. Depois de alguns anos, com base no projeto Universidade Solidária, o exército decidiu reativar o projeto Rondon, que consistia basicamente na mesma dinâmica de serviços sociais para comunidades distantes. Regina esteve na primeira delegação da UEPG. “Valeu a pena os esforços da UEPG, foi tudo muito bom e dali em diante isso se tornou uma prática da instituição”, ressalta.
Memórias
Durante o período em que esteve em diversas cidades do interior do Estado para formar as associações de pais e mestres nas zonas rurais, Regina recebia muitos pedidos de moradores, como por exemplo, formas de fazer um tanque para peixes, plantar árvores frutíferas e outros. Em certa visita, Mayer lembra que passou um por uma situação embaraçosa com agentes estaduais. “Num sábado de manhã, fui com a Kombi cheia de mudas de árvores frutíferas, que seriam levadas para uma cidade próxima, mas eu não tinha a nota fiscal das mudas (que eram uma doação recebida pela universidade) e por azar fui parada pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) na estrada. Eles acharam que eu estava roubando aquelas árvores, quase fui presa e me livrei por pouco”.
Outra lembrança curiosa que Regina recorda com sorriso no rosto foi de quando pousou na estrada e foi confundida pelo próprio pai. “A Kombi encalhava muito nas viagens. Em uma ida a Cândido de Abreu, nós ficamos parados na estrada de chão e anoitecemos por lá”. Ela recorda que não tinha como chamar ninguém. Por sorte, passou um senhor num fusquinha e nos ajudou, pedimos que quando chegasse na cidade, ele fizesse uma ligação para alguém conhecido nos ajudar. Ele ligou para o meu pai, avisando da situação, mas como tinha outra Regina na equipe, houve uma confusão e meu pai achou que era minha colega, foi um momento engraçado, mas no fim deu tudo certo”.
Amizades extensas
“A nossa universidade sempre participou da extensão fora do estado, sempre estivemos presentes na extensão em âmbito nacional e isto é um motivo de orgulho. Tenho muitos amigos de outros lugares, devido às ações extensionistas que nos levaram para todo lado”, aponta Mayer.
Para Regina, no serviço público há uma dependência entre os colegas de ofício, de forma que, para se desenvolver um bom trabalho você precisa estar integrado com todo mundo, sem esta integração, nada acontece. “Muitas coisas a gente alcança graças à parceria entre os colegas. Até hoje mantenho contato com as amizades que fiz no meu tempo de extensão, são algumas das melhores coisas que a extensão me deu”, enfatiza.
Para a amiga Laíse Ferreira Costa, Assessora da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Culturais (Proex), a assistente social sempre demonstrou paixão pelo ofício, contagiando os colegas. “A Regina e eu entramos na mesma época na UEPG, como assistentes sociais, trabalhando em projetos extensionistas nos municípios da região dos Campos Gerais. Ela é uma profissional muito organizada, sentia prazer no que fazia e isso nos contagiava. Tenho orgulho de ter compartilhado tantos anos de trabalho juntas. Somos grandes amigas”, relata.
Para Joseli Terezinha Pinto, Secretária do Mestrado em Jornalismo e ex-colega de algumas ações extensionistas, a parceria com Regina em diversos trabalhos foi enriquecedora. “Tudo teve início em 1980, quando conheci a Regina que fazia estágio no Crutac e eu no projeto Univos. Eram projetos desenvolvidos pela Coordenadoria de Assuntos Comunitários (CAC), hoje Proex. Trabalhamos juntas desde 1981, tivemos uma parceria muito grande desenvolvendo nossas atividades. Regina sempre foi competente no que fazia, sendo humana e generosa”, expressa.
Relação com o ofício
Regina dedicou mais de três décadas para o serviço social representando a Universidade Estadual de Ponta Grossa em vários lugares do país. Numa trajetória repleta de aprendizagem e trocas de experiências, a assistente social diz que a extensão marcou para sempre a sua história. “Estar no serviço público foi a minha vida. Foram 36 anos de contribuição, tempo que passei na Universidade fazendo extensão, e mesmo saindo da instituição, ela nunca saiu de mim. Minha juventude e amadurecimento foi dentro da UEPG e isso foi extremamente importante para o meu crescimento profissional e pessoal”, pontua.
Texto: Julio César Prado Foto: Julio César Prado (capa) / Acervo pessoal Regina (restante)