Na manhã desta terça-feira (30), durante a abertura da reunião on-line do Conselho Universitário, o reitor Miguel Sanches Neto se manifestou sobre as ações e adaptações pelas quais a Universidade Estadual de Ponta Grossa e sua comunidade acadêmica passaram durante a pandemia do coronavírus. Confira o texto na íntegra:
“Bom dia, conselheiros e conselheiras do Conselho Universitário da Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Que todas e todos sejam bem-vindas e bem-vindos a esta Sala Virtual dos Conselhos.
Pessoa ligada visceralmente às letras, falo melhor por escrito.
Por isso, peço licença para fazer esta abertura em forma de texto, lendo algumas reflexões para que eu possa ser o mais objetivo possível. Contra a disseminação de notícias falsas, que produzem a insegurança psicológica, neste momento por si só já complexo, quero deixar um registro assinado do percurso que este Conselho, e a maioria dos professores, funcionários e alunos, construíram de forma corajosa durante esta pandemia, elevando a relevância da Universidade Pública Brasileira.
Muitos de nós estivemos na linha de frente do combate ao Coronavírus, e quero aqui agradecer a cada um e a cada uma que se engajou nas ações de informação da população e de tratamento de pacientes, aos que estão em projetos contra a Covid-19 e aos que enfrentam a rotina perigosa de salvar vidas no Hospital Universitário da UEPG. Mas é preciso também destacar o trabalho de professores, alunos e funcionários que nos últimos meses combatem um outro combate, tão importante como o feito pelos profissionais da saúde, que é o da construção de novas possibilidades de universidade neste contexto crítico.
Conselheiros e conselheiras, representantes de comissões, de colegiados de curso, de colegiados setoriais, professores e professoras, alunos e alunas, agentes, enfim, todos e todas, recebam o reconhecimento institucional do valioso serviço que vocês prestaram nestes meses em que estamos sendo atacados pela Covid-19.
Desde o dia 17 de março último, ou seja, há exatos 106 dias, este Conselho mantém suspensas as aulas presenciais, mas em nenhum momento ficaram suspensas as nossas atividades como agentes, professores e discentes, pois continuamos atuando dentro e fora do horário de trabalho tanto em videoconferências, quanto em lives, estudos, bancas, reuniões virtuais internas e externas, e muitos de forma presencial em suas atividades administrativas e de orientação. Apenas para termos um dado, foram 187 bancas de pós-graduação neste primeiro semestre.
A UEPG como um todo se manteve ativa nestes três meses e meio em que fomos modificados, sim, EM QUE FOMOS MO-DI-FI-CA-DOS, em nossa maneira de fazer universidade, por uma pandemia que assombra o mundo todo, destrói instituições, gera desemprego, quebra principalmente pequenas e médias empresas e tira vidas principalmente dos mais pobres.
A maioria de nossos quadros esteve lutando para reconstruir formas de ensino-aprendizagem, e muitas propostas inovadoras surgiram, se consolidaram, nos apontaram caminhos e, depois de filtradas por instâncias colegiadas, chegam aqui hoje para uma discussão com todo um ativo intelectual, consubstanciadas em uma minuta de proposta.
Em mais de um momento, tanto dentro quanto fora da Universidade, na comunidade administrativa do estado e na comunidade em geral, que sofre de maneira assustada os efeitos da pandemia, fui questionado por que a UEPG estava fechada. Nestes espaços de confrontos narrativos, tive a meu favor vários argumentos, e queria externar alguns aqui.
A UEPG não parou em nenhum momento nestes 106 dias. Não tivemos aulas presenciais para proteger a população interna e externa. Destaco que, por nossas decisões, não tivemos nenhum caso fatal de Coronavírus entre professores, funcionários e alunos. E isso é um patrimônio simbólico muito grande, pois mostra o acerto de medidas pedagógicas e sanitárias.
Milhares de ações, de professores, alunos e agentes, aconteceram de maneira remota neste período, de tal forma que a hashtag uepg tomou conta das redes sociais. Como reitor, sou grato a este movimento tsunâmico que nasceu de toda a instituição.
Recebemos generosamente a doação de tempo, de inteligência, de debate, de estudo sobre atividades remotas de um imenso grupo de pessoas.
Não há, para mim, a menor dúvida, de que a UEPG se fez protagonista, nas mais diversas áreas do debate do ensino neste momento de excepcionalidade. E que a nossa preocupação sempre foi oferecer as condições mais adequadas de trabalho e de estudo para a nossa comunidade.
Se para alguns estamos a demorar na retomada do calendário em aulas remotas, isto não passa de uma falsa impressão. Estivemos nestes 106 dias construindo soluções, amadurecendo propostas, fazendo prospecções, aprimorando instrumentos, desde a construção ainda tímida que apresentei aqui, passando pela valiosa contribuição da Resolução Univ aprovada pelo último Conselho, até uma solução segura que, com certeza, continuará sendo debatida, ampliada, melhorada, testada.
Se outras universidades implantaram as atividades remotas por ato administrativo, que é um atalho, escolhemos o caminho do debate. Estivemos, enquanto equipe, em todos os fóruns em que fomos aceitos para discutir coletivamente o momento político e possíveis soluções.
Se algumas universidades se sentiram preparadas para aderir de maneira imediata às aulas remotas, nós nos preocupamos em tentar consensos em torno propostas que pudessem nos conduzir a este momento.
Portanto, não estamos, na avaliação de quem acompanha atentamente este debate tanto em nível estadual quanto nacional, nem atrasados nem precipitados na proposta que trazemos para este Conselho. Hoje, estão dadas as informações sanitárias que permitem a conclusão de que, em Ponta Grossa e em nossa região, em pleno pico da pandemia, só teremos condições de atividades presenciais plenas em fevereiro de 2021, e que até lá temos que dar uma resposta à comunidade interna e externa com aulas remotas que possam cumprir o seu efetivo papel formador e transformador, sem exclusões.
Com o exaustivo trabalho da Comissão de Estudos, construíamos e aprovamos a primeira proposta de retomada parcial de aulas remotas em meados de julho. Foram parâmetros para que os colegiados de cursos pudessem organizar suas ações. A proposta da comissão, acolhida naquele momento, e fundamental para que avançássemos, refletia um quadro em que pensávamos na possibilidade de retomada de aulas presenciais em agosto ou setembro de 2020.
Como mudou violentamente este quadro, estamos aqui para propor, tal como outras instituições, como a USP, a suspensão das aulas presenciais plenas até 31 de dezembro, e para isso vamos apresentar um novo calendário. Fez-se necessário, portanto, construir soluções para além da proposta inicial, para que possamos contemplar atividades paras nossos professores efetivos e colaboradores, para que possamos chegar a todos os alunos, para que possamos dar uma resposta responsável para a comunidade que cobra posicionamentos da UEPG em relação às aulas remotas.
Temos algo em torno de 8 mil alunos aguardando nossas soluções. Temos dois mil novos alunos que vão entrar por meio de nossos processos seletivos, que estão marcados para março de 2021. Temos uma universidade inteira para colocar em funcionamento em um outro modal didático.
Prezados colegas deste Conselho, a proposta que apresentaremos aqui levou em consideração a proposta anterior, que será aplicada a partir de 20 de julho, tal como os colegiados se organizaram, mas ao mesmo tempo torna mais flexível a oferta de aulas remotas para que, cada colegiado, com sua temporalidade, com sua realidade, com sua autonomia, e respeitando suas particularidades, possa, a partir do dia 20 de julho, ampliar de forma ilimitada as ofertas.
A nova resolução que será debatida valorizou a anterior e se somou a ela para criar parâmetros mais abertos de ação, permitindo que a Pró-reitorias acadêmicas, por meio de ordens de serviço, orientem as ações pedagógicas em debate com os colegiados. Nestes 106 dias, todos que puderam acompanhar de perto as discussões são testemunhas deste desejo de construção coletiva, transparente e responsável de uma proposta.
E quero aqui, mais uma vez, agradecer a maioria de nossa comunidade interna, que se mostrou movida por um espírito republicano de construção de convergências.
No meio do caminho, muitas pedras foram colocadas, mas soubemos enquanto instituição retirá-las ou contorná-las. Interesses eleitorais, que buscam palco a todo custo, muitas vezes explorando a fragilidade emocional de pessoas que se sentem inseguras nesta pandemia, criaram ruídos desnecessários. Disputas localizadas de poder atrapalharam o debate pedagógico recusando qualquer proposta, viesse de onde viesse. Fake news circularam nos subterrâneos dos meios de comunicação, tentando esconder as digitais mal-intencionadas de quem as produziu. Reputações de figuras notórias do meio acadêmico sofreram linchamentos públicos. Documentos nocivos para a construção de soluções foram produzidos para aproveitar o momento pré-eleitoral.
Tudo isso, no entanto, é nada diante do esforço coletivo, democrático e sério que vem sendo feito pela ampla maioria na UEPG.
Parabéns a cada um que foi convocado, neste momento difícil da história, para pensar uma universidade inclusiva em época de pandemia.
Tudo logo vai passar.”
Miguel Sanches Neto Reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa