O Coronavírus mudou o trabalho na Universidade Estadual de Ponta Grossa. Mesmo com as salas de aula vazias desde 17 de março, os servidores continuam trabalhando, a distância, em escalas ou normalmente, como é o caso do Hospital Universitário. No Dia do Trabalhador (01 de maio), a Universidade traça um panorama sobre o “novo trabalho” na instituição em tempos de pandemia.
Atualmente, a UEPG conta com 2.481 trabalhadores diretamente vinculados, além de profissionais da Secretaria de Saúde lotados no HU-UEPG. O Pró-reitor de Recursos Humanos, Gilmar Mazurek, lembra que devido à necessidade de dar continuidade aos serviços presenciais essenciais, a UEPG adotou escalas de trabalho na vigilância, manutenção, atividades de saúde, entre outras.
Cerca de 60% da atividade administrativa da Universidade tem sido feita a distância. “Disponibilizamos acesso remoto aos sistemas para os servidores e mantemos contato constante através de reuniões virtuais, além de comunicação extensa através de aplicativos de comunicação, de mensagens e por telefone”, detalha Mazurek. Ele complementa que cerca de 5% dos trabalhadores da UEPG estão na faixa etária acima de 60 anos e, na mesma proporção, apresentam quadros de doenças crônicas que os colocam em grupo de risco da Covid-19.
“Nossos servidores laboram para engrandecer e fortalecer a educação superior de qualidade e gratuita, e da saúde. Atuam em atividades desde a limpeza e manutenção de espaços até a refinada pesquisa de soluções para as mais diversas áreas do conhecimento, e o dedicado labor dos agentes da saúde”, enfatiza o pró-reitor. No dia do trabalhador, ele parabeniza “a todos e a todas que vêm contribuindo de forma hercúlea para a manutenção e funcionamento de nossa instituição, pelo progresso da educação e da ciência, para uma sociedade mais humana, consciente e, sobretudo, feliz”, complementa.
Um dos setores da UEPG que permanecem funcionando fisicamente está a Imprensa Universitária, que já imprimiu 8,5 mil folhetos para a campanha de conscientização sobre a pandemia; cerca de 6 mil etiquetas adesivas para frascos de álcool em gel, álcool 70 e álcool glicerinado, 5 mil flyers para campanha sobre a Covid-19 nos acessos de municípios da região, mil adesivos sobre como proceder à lavagem das mãos, que foram fixados em todos os prédios da UEPG, 2 mil adesivos e 200 cartilhas sobre grupos de risco da Covid-19, como conta Neomil Macedo, coordenador da Imprensa.
A UEPG e a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento Institucional, Científico e Tecnológico da Universidade Estadual de Ponta Grossa estão engajadas na luta contra o Covid-2019. “Dentre as frentes de trabalho está a de produção de álcool gel e álcool a 70%”, comenta o professor Sinvaldo Baglie, coordenador do Laboratório de Produção de Medicamentos (Lapmed) e presidente da Fauepg. Ele ressalta o trabalho das equipes técnicas, a infraestrutura e o conhecimento da UEPG, mas também as empresas que doam insumos, materiais e outras contribuições. No Lapmed, a Universidade produz e distribui álcool em gel e álcool 70% para instituições dos Campos Gerais, como parte das estratégias de combate à pandemia. Foram distribuídos frascos para o Hospital Universitário da UEPG, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar Rodoviária, Departamento Penitenciário, Exército (Castro), Ponta Grossa Ambiental e equipes de imprensa local.
Lives
No dia 9 de abril, Conselho Universitário (COU) da UEPG manteve a suspensão dos calendários presenciais, sem atividades obrigatórias via educação a distância (EaD). No entanto, grupos de pesquisa, colegiados de cursos e professores da instituição estão se mobilizando para gerar conteúdos optativos em plataformas online, na tentativa de manter uma proximidade emocional com os acadêmicos. Segundo a Pró-reitora de Graduação, Ligia Paula Couto, partir do CoU houve a liberação para orientação de TCCs e atividades complementares em modo remoto. “Com isso, um grupo considerável de alunos e professores se voltaram a essas ações. O Nutead fez oferta de cursos de extensão gratuitos, de forma que os alunos pudessem ter opções para cursar as atividades complementares e diferentes cursos iniciaram jornadas online, entre eles, os cursos de Letras, de História e de Artes”, diz.
No início do mês de abril, a instituição divulgou o curso “Cuidando de Gente na EaD”, vinculado ao projeto de extensão “Techné: socialização da EaD como formação e política pública”. Ministrado por Célio Pinheiro, especialista em Psicanálise e mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), e baseado em fundamentos psicanalíticos, antropológicos e sociais. Nos encontros, o grupo discute conceitos de angústia e ansiedade e formas de aliviar o sofrimento em tempos de isolamento social, assim como a definição clínica de depressão, uma vez que o momento atual tem imposto situações de perdas muito significativas para a sociedade. No fórum online, os alunos podem expressar as suas aflições e angústias, assim como trazer reflexões sobre as aulas ao palestrante.
Além deste exemplo, os Colegiados de História também se mobilizaram para levar conteúdo aos estudantes do curso. O evento “I Jornada Online de Atividades Complementares dos Colegiados de História 2020” trouxe o professor Vanderlei de Souza, da Unicentro, para falar sobre “O que os historiadores têm a dizer sobre a saúde pública em tempos de Pandemia”. Segundo Robson Laverdi, professor do curso de História da UEPG, o objetivo era debater como a História pode contribuir com reflexões sobre saúde pública e ciência. “A intenção do espaço é proporcionar experimentação, trocas e difusão de saberes e experiências de conhecimento diversificadas e integradas, bem como a atualização de saberes temáticos e bibliográficos de interesse social, cultural e educacional para docentes e estudantes da UEPG. Além desta aula, pretendemos promover uma série de cursos, mesas-redondas e debates aos acadêmicos pela internet”, afirma.
Outra iniciativa voltada para a oferta de cursos e discussões online partiu do Colegiado dos Cursos de Letras. O “Ciclo Virtual de Atividades Complementares” conta com a participação dos professores do Departamento de Estudos da Linguagem e é uma oportunidade dos acadêmicos se manterem próximos da UEPG e dos respectivos cursos. As atividades são coordenadas pelas professoras Paola Scheifer e Rosana Apolonia Harmuch, e todos os docentes vinculados aos cursos podem participar. “Recebi um convite por e-mail. A mensagem era muito bonita e chamava a atenção para a gravidade do afastamento afetivo. Todos estamos sentindo isso na prática. Somos um povo afetuoso. Manter afastamento físico é doloroso para muita gente. Acredito que o principal ponto positivo da atividade seja: amenizar esse sentimento, por meio do contato que é possível no momento, o virtual”, afirma a professora Letícia Fraga.
A Pró-reitora de Graduação afirma que o esforço do Nutead em organizar cursos de extensão para atender à demanda de atividades complementares a distância e dos cursos em organizar jornadas, eventos, conferências e outros eventos é fundamental para que os vínculos entre discentes, docentes e instituição se fortaleçam e também para que, neste período de isolamento social, tenhamos a vivência da aproximação, do reencontro com a UEPG. “Sabemos que os cursos têm recebido mensagens positivas de alunos(as) sobre essas iniciativas, indicando que foi muito bom rever colegas, professores e que estavam sentindo falta dessas interações. É importante destacar que, ainda com calendários acadêmicos de cursos presenciais suspensos, a UEPG não está parada. Um grupo significativo de alunos(as) e professores(as) está em ações de combate ao coronavírus, outro grupo está retomando o TCC, outro grupo está promovendo e participando de jornadas online com horas em atividades complementares. A UEPG segue em movimento em tempo de isolamento social”, reforça.
Linha de Frente
Muitos profissionais trabalham na linha de frente no combate à Covid-19 e fazem um trabalho essencial, que não pode parar durante a pandemia. É o caso dos profissionais do Hospital Universitário: médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, profissionais da limpeza, cozinha, fisioterapeutas, dentre outras profissões essenciais para o funcionamento de um hospital.
O trabalho muitas vezes invisível de quem cuida para que tudo esteja limpo é essencial para a recuperação dos pacientes. Em tempo de pandemia, esse trabalho se torna ainda mais importante para controlar a doença e evitar que se espalhe. Como conta a chefe da Seção de Hotelaria Hospitalar do HU-UEPG, Camila Wolff, o controle de infecções e a prevenção de infecções cruzadas estão diretamente ligados a medidas de desinfecção de superfícies. “As atividades de capacitação com os funcionários da limpeza e coleta de resíduos são fundamentais para padronização dos serviços. Os funcionários da higienização, rouparia e da coleta viabilizam as ações dos demais profissionais dentro das instituições hospitalares, por isso são de fundamental importância”, enaltece.
“Não adianta o médico ir cuidar do paciente, a enfermeira fazer a parte dela, mas o quarto estar sujo, né? A limpeza é essencial também, da mesma forma que o trabalho dos outros profissionais”, garante Rosenilda de Fátima Rosa, a Rose, como é conhecida no hospital. Ela trabalha na equipe de higienização da ala Covid, setor do hospital reservado para os casos suspeitos e confirmados da doença.
Há 12 anos, Rose começou a trabalhar no Hospital, antes de sua inauguração e durante a fase de obras. Ela conta que quando está fazendo seu trabalho, pensa em fazer o melhor possível pela segurança do paciente e das equipes do hospital. “Eu faço meu melhor. Faço como se amanhã ou depois eu possa precisar, ou minha família”, aponta.
Rose conta que não pensou duas vezes quanto recebeu a notícia de que iria trabalhar na ala Covid. “Não tive medo em nenhum momento, mas a gente teve que pôr na cabeça que tem que se cuidar ainda mais. Já era o andar em que eu trabalhava, só mudaram os pacientes e os procedimentos, mas a equipe já é aquela que eu estava acostumada a trabalhar”, relata. “A gente chega aqui 7h da manhã e só sai 7h da noite. Amo o que eu faço e vou fazer até o fim, até essa pandemia passar”.
Outro profissional que está na linha de frente, trabalhando com a destinação correta dos resíduos do hospital, é o Vilson Tavares. Ele conta que trabalha no HU há sete anos e que a pandemia mudou bastante sua rotina de trabalho “São quatro coletas por dia. Além de usar todos os EPIs, agora, depois de cada coleta que a gente faz, é preciso tomar banho, se limpar totalmente”, explica. “A gente precisa tomar cuidado. Procuro usar os equipamentos que o hospital me forneceu, para que não precise, para a frente, estar internado nesta ala”.
Ele conta como se sentiu quando soube que iria trabalhar com resíduos da ala Covid: “No começo, fiquei preocupado. Afinal, tenho família, filhos. Mas depois me acostumei. A gente pensa no paciente”, diz. Para ele, a motivação para fazer um bom trabalho vem de saber que está contribuindo para a cura dos pacientes internados. “Nessa semana, um paciente com coronavírus teve alta. A gente fica feliz quando sabe de um paciente que ganha alta, está curado. E espero que todos saiam bem daqui, essa é minha motivação”, comemora.
Texto e fotos: Aline Jasper, Luciane Navarro e Vanessa Hrenechen