O sorriso encheu o rosto de João Pedro assim que os palhaços entraram no quarto. Em recuperação pela retirada do apêndice, o menino conseguiu brincar, depois de passar dois dias deitado. Assim como ele, crianças internadas no Hospital Universitário Materno-Infantil da Universidade Estadual de Ponta Grossa (Humai-UEPG) passaram um Dia das Crianças diferente. Em meio ao atendimento, a instituição promoveu aos pacientes e familiares a Semana da Criança, que contou com atividades todos os dias, de maneira multidisciplinar, com profissionais e acadêmicos da UEPG.
Tatiane Gedro, mãe de João, não conseguia parar de sorrir. “Viemos na terça (11) e passamos o Dia das Crianças aqui, meu filho estava sentindo dor e hoje conseguiu se divertir, finalmente”. O alívio da mãe, depois de ver o filho de 6 anos conseguir voltar a brincar, transparecia a cada gargalhada do menino. “O João tem um irmão de 9 anos e eles brincam o dia todo e aqui ele matou a saudade de brincar com os palhaços e com os brinquedos que ganhou”.
Ganhar brinquedos não foi exclusividade de João. Por meio da empresa KMM, parceira da instituição, as crianças puderam escolher entre bola, boneca, carrinho e kit de cozinha, que foram entregues nos leitos por profissionais, palhaços e por uma dupla fantasiada – o Capitão Saúde e a Super Vida, mascotes do Hospital que ganharam vida para andar pelos corredores. “Somos de Laranjeiras do Sul e lá os Hospitais parecem que não são assim, tão alegres com as crianças, nos sentimos muito bem atendidos aqui e meu filho conseguiu se distrair no meio do tratamento”, completa Tatiana.
As brincadeiras e sorrisos também invadiram a sala de espera. Enquanto mães e crianças aguardavam atendimento, uma voz surgiu: “Quem quer brincar a brincadeira da serpente?”. O convite veio da professora do Departamento de Pedagogia Gisele Brandelero Camrgo que, pouco a pouco, chamava as crianças para compor uma grande fileira, ao som de uma música. Cada um que aceitava entrar na brincadeira precisava passar por baixo das pernas das pessoas e ir para o final da fila. “Vimos um interesse muito grande dos acadêmicos de Pedagogia em atuar como docentes de atividades lúdicas em espaços não escolares”, explica.
O grupo de sete estudantes trabalhou com histórias indígenas. “A partir dessas histórias, fizemos atividades dirigidas, que estimulam o desenvolvimento cognitivo e motor da criança, de forma leve e alegre”, explica. Segundo Gisele, todo mundo ganha em atividades como esta. “Os acadêmicos de pedagogia conseguem desenvolver uma atividade com as crianças para além dos muros da escola, porque sabemos que a educação não acontece somente dentro do espaço escolar e também é um exercício da docência fora desses contextos”, ressalta.
Brincadeiras
A brinquedoteca do Humai foi palco de diferentes brincadeiras ao longo da semana. Na segunda-feira (10), as ações iniciaram com leitura de histórias para as crianças, atividade organizada pelo Setor de Psicologia. “A gente entende que um hospital infantil, apesar de ter essa carga de tratamentos, pode tornar a experiência mais leve, principalmente no dia das crianças”, destaca Tatiana Martins Ferreira. Segundo ela, com atividades lúdicas, as crianças conseguem entender que precisam ficar no Hospital. “Mas com este ambiente leve que criamos, elas têm a noção que o Dia das Crianças pode ser comemorado de forma leve e divertida”. Segundo a psicóloga, o humor interfere diretamente no sucesso do tratamento. “Assim, o humor das crianças deve ser levado em conta também no tratamento, para que elas sejam tratadas aqui como seriam em qualquer lugar”.
O Humai também recebeu, durante a semana, a visita dos Doutores Palhaços SOS Alegria, com intervenções nos leitos. O Setor da Nutrição preparou um cardápio especial no dia 12, tanto nas refeições principais, quanto na hora do lanche. À tarde, no Dia das Crianças, ainda teve sessão de cinema com pipoca na Brinquedoteca. Durante toda a semana, profissionais andaram pelos corredores de uma forma diferente, cabelos e adereços coloridos, tiaras e até maquiagem com brilho.
Palhaços
A leveza em atividades com as crianças também aconteceu com estudantes do Setor de Ciências Biológicas e da Saúde (Sebisa), que realizaram intervenção de palhaçaria no Hospital. Entre um quarto e outro, os 12 acadêmicos chegavam com roupas coloridas, chapéus, enfeites de cabelo e o tradicional nariz vermelho por cima da máscara. Ryan, de 5 anos, estava sentado no colo da mãe quando ouviu alguém bater à porta. Aos poucos, a timidez saiu para que o sorriso e a música tomassem lugar. “Quero que vocês cantem comigo”, dizia. Passado o tempo, Ryan até levantou para performar para o grupo.
A reação do menino chamou a atenção dos estudantes. “Quando a gente chega todo bobo, nos mostramos muito vulneráveis, abrindo espaços para eles falarem como estão se sentindo, por isso essa experiência é maravilhosa, tanto pra a gente, como pros pais e as crianças, ver o sorriso deles é gratificante”, relata a acadêmica Lívia Menin. Sair da sala de aula também impulsiona para seguir com a profissão escolhida, para Gabriela Horochoski. “Conseguimos ter uma visão melhor do paciente, porque quando estamos enquanto profissionais, focamos na técnica, mas quando viemos como palhaços temos mais a relação pessoa-pessoa, isso mexe com a gente”, conta.
A ação dos estudantes faz parte do projeto de extensão Palhaçoterapia, existente deste 2016. “Somente agora foi possível levar o sorriso e a sensibilidade dos palhacinhos dos cursos de enfermagem, medicina e odontologia para os pacientes”, destaca a diretora geral do Hospital Universitário, Fabiana Postiglione Mansani. De acordo com ela, as ações realizadas na Semana da Criança com acadêmicos da UEPG têm grande relevância pela questão humanística, social e de acolhimento. “Marca o início de um movimento para permear as ações de extensão dos cursos da UEPG junto aos nossos Hospitais Universitários”. Fabiana destaca que os Hospitais UEPG estão de portas abertas para os cursos da graduação. “Que eles possam utilizar os espaços como cenário de prática, como ferramentas de ressignificação, para uma formação profissional voltada a humanização”, completa.
Texto e fotos: Jéssica Natal