Da porta de entrada já se escutava o ensaio. A música vinha de um espaço abaixo de uma escada e um lustre, na Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Culturais da Universidade Estadual de Ponta Grossa (Proex-UEPG). Servidor há 15 anos na instituição, José Renato Padilha atua como oficial de manutenção da Prefeitura do Campus (Precam) e, dentre um trabalho e outro, aproveita para viver a arte. O conserto com S, seu ganha pão, se mistura com o concerto com C, sua paixão – a música.
Renato, como é chamado, é tímido. Quando enxerga câmera, hesita em continuar tocando no piano. Mesmo assim, não esconde a alegria em poder apresentar sua música. “O som do piano é bonito, às vezes fico com vergonha de tocar, mas esse lugar me inspira muito e quando venho fazer manutenção na Proex, às vezes tiro um tempinho para passar aqui e dar uma dedilhada”, conta olhando fixamente ao piano. Os dedos não saem das teclas um só minuto, tanto que uma nota ou outra saem enquanto fala. “Gosto tanto de tocar que aprendi sozinho, fui tentando adivinhar as notas, tocando do meu jeito e agora estou treinando para me posicionar corretamente no instrumento”, explica.
Como um autêntico autodidata, Renato relembra que desde pequeno já gostava de música e aprendeu a tirar notas do violão sozinho. O primeiro contato com um instrumento de teclas veio há mais ou menos cinco anos. “Comprei e ficava treinando em casa e, como as teclas do teclado são mais fáceis de lidar, aprendi bem rápido”, explica. Com o piano, Renato ainda relata certa dificuldade. “Eu não sei tocar, mas tento, principalmente com música religiosa”.
A “escapada” rápida do trabalho ganhou uma companheira há mais ou menos dois meses. Mauriane Camargo, auxiliar de limpeza da Proex, não escondeu a vontade de se juntar a Renato para uma música. “Eu cheguei e vi ele tocando e me convidei para acompanhar. Falei que não sabia cantar muito bem, mas quando a gente viu já estava se entendendo”, relembra. A funcionária, que está há cinco meses na UEPG, conta que a música é sua ferramenta de cura. “Perdi meu filho recentemente e cantar aqui com ele foi uma maneira de colocar para fora toda dor e trazer um pouco de alegria. O Renato está levando paz para quem nem sabe que está precisando”, se emociona.
Mauriane não foi a única a se emocionar. Perguntado sobre o que a música representa em sua vida, Renato voltou a olhar apenas para o piano. “Às vezes, chego em casa, penso em todos os problemas que a gente tem… e pego o violão”, diz com a voz embargada. As lágrimas de ambos expressavam o que descreve Leonardo Da Vinci, na frase escrita na sala do piano, logo atrás de Renato: “A arte diz o indizível, exprime o inexprimível e traduz o intraduzível”. Naquela manhã, o intraduzível tomou forma na música apresentada por Renato e Mauriane.
Tocar no piano da Proex, quando surge a oportunidade, também é uma forma de não perder o jeito, segundo servidor. “Passei por uma dificuldade e tive que vender meu teclado, mas me sinto tão privilegiado de poder tocar no meu trabalho, de saber que a UEPG tem um lugarzinho para tocar, assim, posso continuar aprendendo”, completa.
Texto e fotos: Jéssica Natal