Após o longo internamento, ele já conhece cada cantinho do leito 17 da UTI do HU-UEPG. A televisão está quase sempre ligada, para garantir uma bem-vinda distração. “Ele está sempre super bem-informado, sabe mais das notícias do que eu”, ri a filha, Chaiane. Com carinho, ela segura a mão do pai nos dias que antecedem a tão aguardada alta, que agora é possível com a chegada do ventilador, aparelho que permitirá que os cuidados de Noé passem a ser em casa, com a família, em Imbituva.
Antes da alta, foi necessário treinar a filha para operar a ventilação mecânica. “A gente precisa acompanhar tanto a adaptação dele quanto ir vendo como é, como funciona. Não é difícil, estou aprendendo a lidar”, contou Chaiane, nos primeiros dias após a chegada do equipamento. “Tem que prestar atenção, porque esse é diferente”, cobra o pai, bem-humorado. Além do ventilador, os cuidados domiciliares incluem adaptações como cama hospitalar, fraldas, aspirador traqueal e dieta especial.
“Seu Noé é um paciente que deixou de ser paciente. Hoje ele é um amigo, é uma pessoa com quem me preocupo quando tô em casa”, enfatiza a técnica de enfermagem Karine Mariano. O sentimento da equipe da UTI com a alta é unânime: um misto de alegria e da certeza de que sentirão saudade. “Espero que ele seja muito feliz nessa nova jornada da vida dele, que tenha muito carinho da família, se sinta acolhido. Só agradeço todo o tempo que pude passar com ele e cuidar dele, que foi um grande aprendizado”, deseja Karine.
“Meu sentimento hoje é de dever cumprido. Estou muito feliz por ele ir de alta hoje e estar bem. Espero que consiga superar os desafios que vai ter pela frente agora e só desejo boas energias”, garantiu a técnica de enfermagem Jaqueline Slotuk. O carinho e a amizade vindos de tanto tempo de convívio ficam claros sempre que alguém fala sobre o paciente, que conquistou todas as equipes que passaram por seu leito nesses 369 dias. “Ele ficou tanto tempo longe da família, da esposa, dos netos. Vai poder curtir agora a família, mas vamos sentir saudade”, afirma Júlia Charneski de Lima, fisioterapeuta residente. “A gente também fica muito feliz por ter feito todo o cuidado com ele, além de ajudar a filha a aprender como cuidar em casa”, complementa Ana Flávia Filus, técnica de enfermagem.
“A gente fez um bolo que ele podia comer, adaptado à dietoterapia dele, com consistência mais molinha, adequado às possibilidades da dieta naquele momento”, conta o nutricionista Wagner Kloster, que coordena o Serviço de Nutrição Clínica, Nutrição e Dietética e Lactário do HU. A festinha contou ainda com salgados adaptados às características da alimentação do Seu Noé.
Ficou a encargo da equipe de enfermagem a decoração, que teve até balão personalizado. “Pedi para o serviço social liberar a visita da filha, e a equipe do turno da noite também fez uma serenata pra ele”, conta a coordenadora da UTI Adulto, Fernanda Ribas.
Seu Noé tem uma doença autoimune: a polirradiculoneuropatia inflamatória desmielinizante. A paralisia começou pelas pernas, depois passou à dificuldade de respirar, que levou ao internamento prolongado. “É uma luta diária. Ele passa muita fé para a gente, muita força”, enfatiza a filha. Durante o longo período em que ficou hospitalizado, Noé conta que precisou ter fé e paciência, principalmente para lidar com a saudade da família, no período em que as visitas ficaram suspensas por conta da pandemia do novo coronavírus.
Texto: Aline Jasper | Fotos: Aline Jasper e Arquivo pessoal