Acordando as gigantes!
Recentemente, viemos a saber, com indisfarçável satisfação, que dois alunos do curso de Direito da UEPG operavam as páginas do Sleeping Giants Brasil. Em entrevista, eles afirmaram não se reconhecerem como ativistas políticos, e nem deveriam, mas como ativistas da ética econômica.
O Sleeping Giants Brasil é um perfil de redes sociais que assumiu a tarefa republicana de mapear e notificar empresas que anunciam online sempre que seus recursos monetários forem direcionados ao financiamento de fake news (notícias falsas) ou discursos de ódio e intolerância (relacionados a raça, religião, orientação sexual, gênero, opinião política etc.).
O perfil atua nos confins da ética da economia de mercado e, como tal, é o piloto de testes dos valores supostamente civilizatórios, humanistas, republicanos e universalistas do dinheiro, das finanças e do capital. O Sleeping Giants Brasil testa a ética do capitalismo mundial e algorítmico ao mapear o caminho invisível que o dinheiro, virtual e abstrato, percorre desde as contas das empresas anunciantes, passando pelas plataformas, chegando aos sites e aos bolsos daqueles que propagam o ódio e a mentira.
Sua atuação, inteiramente constitucional e legal, vale-se da transformação do mercado de marketing, da aceleração de sua migração para o meio social online, e de sua mediação por grandes plataformas. Estas se rentabilizam ao vincular empresas anunciantes a sites de anunciadores por meio de propaganda online patrocinada, dirigida por algoritmos e Big Data. O que o Sleeping Giants Brasil faz não é mais que uma pergunta contratual: questionam as empresas financiadoras se elas, realmente, desejam patrocinar, com seu dinheiro e com a respeitabilidade de suas marcas, conteúdos inverídicos e intolerantes.
Sua ação ética está amparada pelo direito de petição, pela liberdade de ação, pela liberdade de pesquisa intelectual e pela liberdade de iniciativa, todas elas asseguradas pela Constituição de 1988 na condição de direitos fundamentais e de cláusulas pétreas irrevogáveis. Ao perguntar às empresas se “é isto mesmo?” que elas desejam financiar, o Sleeping Giants Brasil não está exercendo qualquer liberdade de opinião, mas, o direito cívico e constitucional de perguntar – direito de todos e de cada um.
Contra o que dizem aqueles que os perseguem, anestesiados pelos discursos de ódio “anti-ideológicos”, a escolha do anonimato para as ações do Sleeping Giants Brasil não as desabona. Ao revés, seria o caso de questionar sobre que qualidade democrática ostentam nossas instituições para que um casal de jovens, que não fez absolutamente nada, exceto perguntas, precise do anonimato para protegerem a si mesmos e às suas famílias de agressões, de ameaças, de invasão de sua privacidade e intimidade, da divulgação ilegal de seus dados etc.
Em nome da democracia acima de tudo, e da liberdade de questionar acima de todos, nós – professores do curso de Direito da UEPG –, firmamos abaixo esta nota de apoio aos nossos alunos, Mayara e Leonardo.
Assinam o presente: Setor de Ciências Jurídicas da Universidade Estadual de Ponta Grossa Colegiado Setorial Colegiado do Curso de Direito Adriana de Fátima Pilatti Ferreira Campagnoli Adriano Alberto Smolarek Alexandre Almeida Rocha Amanda Cristhina Flach Andrea Gaspar Soltoski Andréia Izamara Tavares Kerber Clóvis Airton de Quadros Dhyego Câmara de Araujo Dircéia Moreira Gisele Cristina de Oliveira Guilherme Amaral Alves Igor Sporch da Costa Jeaneth Nunes Stefaniak Karoline Coelho de Andrade e Souza Luana Márcia de Oliveira Billerbeck Ludmilo Sene Luiz Fernando Oliveira Márcia Santos da Silva Maria Cristina Baluta Maria Cristina Rauch Baranoski Maria Marce Moliani Maria Raquel Bacovis Murilo Duarte Costa Corrêa Nara Luiza Valente Oriomar Skalinski Junior Paulo César de Lara Pedro Fauth Manhães Miranda Rafaella Martins de Oliveira Rauli Gross Junior Renê Francisco Helmann Thiago Vieira Mathias de Oliveira Vanderlei Scheneider de Lima Vítor Hugo Bueno Fogaça Volney Campos dos Santos