“Para muitos, é apenas um prédio. Para os mais envolvidos com a arquitetura, é um belo e imponente exemplar da Arquitetura Modernista, um dos poucos testemunhos que sobraram na cidade. Mas, para inúmeros, é uma memória afetiva ímpar, local de realização de tantos eventos culturais como Fenata’s e FUC’s, mas também de apresentações de grupos de dança e teatro de companhias da cidade, eventos relevantes da política institucional e local”, enaltece Andrea. Por quase seis décadas, o prédio fez parte da história da vida de muitas pessoas. “Particularmente, para mim e para tantos colegas, foi o local onde realizamos as provas do concurso para ingressar na UEPG. Poder assegurar a integridade do prédio para as próximas gerações é motivo de alegria para esta gestão”.
Para o professor Ivo Mottin Demiate, vice-reitor da UEPG, que encaminhou o processo ao Compac em dezembro de 2023, o tombamento é um reconhecimento da importância simbólica da instituição, no passado, presente e futuro. “A UEPG tem uma história muito vinculada à história da nossa cidade”, diz. “É uma história muito bem-sucedida, transformando muitas gerações. O tombamento vai manter essa imagem de uma instituição sólida, consolidada, antiga e, ao mesmo tempo, moderna, que disponibiliza para a sociedade pessoas com alta capacitação nas mais diversas áreas”.
Na Diretoria de Planejamento Físico da Proplan-UEPG, o trabalho normalmente é voltado para adequar espaços existentes e propor a construção de novos espaços, condizentes com as necessidades da comunidade interna e externa. “Mas quando podemos agir de forma a garantir a continuidade da história de um prédio, como foi o caso recente do restauro do Museu Campos Gerais e do tombamento do Cine-Teatro Pax (cujos projetos de restauro estão em elaboração, assim como os do prédio da Proex), isso nos permite sermos exemplos para toda a comunidade, especialmente para nossos alunos”, celebra o diretor e professor Guilherme Araújo Vuitik. “Nesses momentos, ultrapassamos a sala de aula, ensinamos pelo exemplo da nossa prática profissional e institucional”.
Um imponente prédio com características modernistas, o antigo Edifício das Faculdades foi construído em 1959. Seus três andares abrigam salas de aula e espaços administrativos, bem como o Grande Auditório (Auditório da Reitoria) e o Pequeno Auditório. Ali, no Bloco A, estão os setores de Ciências Humanas, Letras e Artes (Secihla), Ciências Jurídicas (Secijur) e Ciências Sociais Aplicadas (Secisa) e acontecem atividades acadêmicas dos cursos de Serviço Social, Administração, Comércio Exterior, Direito, Turismo e Pedagogia, além de aulas de programas de pós-graduação.
O prédio foi projetado, ainda nos anos 1950, para receber o Colégio de Aplicação de Ponta Grossa – que realmente funcionou em parte do edifício, junto com a Universidade, até 1976. O terreno foi transferido pela Prefeitura Municipal de Ponta Grossa ao Estado do Paraná em 02 de setembro de 1959, de acordo com o registro do imóvel. O Campus foi implantado no início de 1970, com a criação da UEPG.
A fachada é marcada pelo ritmo das janelas e pela simetria dos acessos e elementos arquitetônicos. O estilo arquitetônico modernista fica claro nas características da fachada, com a racionalidade, funcionalidade e simplicidade das linhas. Nos dois acessos laterais, estão indicados os caminhos dos corredores das salas de aula. Atrás do prédio, na parte central do Campus, há um pátio que serve como espaço de convivência e descanso, além de fornecer saídas de emergência, insolação e ventilação para os edifícios. O pátio também dá acesso aos Blocos B, C e D, construídos posteriormente, na década de 1970.
A Praça Santos Andrade, em frente ao edifício histórico, também faz parte do processo de tombamento. Espaço de convivência e descanso da comunidade acadêmica, a Praça que já foi estacionamento ainda reúne centenas de pessoas em todos os concursos vestibulares da Universidade e que traz charme à composição com a fachada.
Fazendo frente com a Avenida Bonifácio Vilela, a Praça abriga um jardim de espécies arbóreas, inclusive araucárias, com caminhos de piso em concreto bruto, demarcando formas orgânicas e livres, e espaços de convivência. O tombamento nesse espaço se refere à paisagem, com relação apenas a seu formato e não à vegetação presente.
Aquele espaço significa muito, para muitas pessoas. Para alguns, a imponente fachada remete a um sonho. Para outros, é a realização pessoal. Para o Gary José Chagas, é sua vida. Ele chegou à UEPG em 1975, apenas cinco anos depois de sua criação como Universidade – o edifício ainda era novo. Nos anos 1980, ocupou as carteiras do curso de Direito, como aluno. Foi chefe de Gabinete da Reitoria por oito anos, e trabalhou por ali ao longo de 45 anos.
“A gente tem um amor por aquilo lá, né? A minha vida inteira foi lá, vivia de manhã, de tarde, de noite”, conta. O sentimento, quando o servidor mais antigo da Universidade volta ao prédio do Centro, é de carinho. “Eu vivi a universidade em tempo integral. Minha vida está lá”.
Agora, essa memória segue com a garantia de preservação para as futuras gerações. “O prédio do Campus Central tem uma referência social e também é referência, no sentido literal da palavra, porque as pessoas se baseiam, dentro dessa enormidade de elementos da arquitetura da cidade, através dele”, aponta o presidente da Fundação Municipal de Cultura e do Compac, Alberto Portugal. “Quando a gente faz um processo de tombamento, estamos garantindo de forma perpétua que o poder público fiscalize aquilo, para que a história da cidade seja preservada e essa referência também fique, na sua integridade, para a próximas gerações”.
Texto: Aline Jasper | Fotos: Aline Jasper, Arquivo UEPG, Acervo Museu Campos Gerais, Acervo Foto Elite