Fachada do Campus Centro da UEPG é tombada pelo Patrimônio Cultural

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Na noite desta segunda-feira (03), o Conselho Municipal de Patrimônio Cultural de Ponta Grossa (Compac) decidiu pelo tombamento da fachada do Bloco A e Praça Santos Andrade, do Campus Centro da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). A deliberação ocorre após pedido da Pró-reitoria de Planejamento (Proplan), em dezembro de 2023, e tombamento preliminar em março de 2024.

“Este tombamento demonstra o compromisso da Universidade Estadual de Ponta Grossa com a história da própria instituição, com a história da cidade e principalmente com as vivências de cada um e de cada uma que passou por aquele prédio”, comemorou o reitor, professor Miguel Sanches Neto. Segundo ele, ganha a comunidade e todos aqueles que convivem com aquela paisagem arquitetônica tão significativa. “É a UEPG cumprindo o seu papel junto à comunidade”.

Os conselheiros aprovaram, por unanimidade, o tombamento da fachada do Bloco A em grau de proteção 2, que protege a volumetria do prédio, tendo como destaques no livro-tombo a inclusão de detalhes do piso interno e a presença do Grande Auditório. Durante a sessão, a pró-reitora de Planejamento, professora Andrea Tedesco, fez uma fala em nome da Universidade sobre a importância do tombamento do espaço.

“Para muitos, é apenas um prédio. Para os mais envolvidos com a arquitetura, é um belo e imponente exemplar da Arquitetura Modernista, um dos poucos testemunhos que sobraram na cidade. Mas, para inúmeros, é uma memória afetiva ímpar, local de realização de tantos eventos culturais como Fenata’s e FUC’s, mas também de apresentações de grupos de dança e teatro de companhias da cidade, eventos relevantes da política institucional e local”, enaltece Andrea. Por quase seis décadas, o prédio fez parte da história da vida de muitas pessoas. “Particularmente, para mim e para tantos colegas, foi o local onde realizamos as provas do concurso para ingressar na UEPG. Poder assegurar a integridade do prédio para as próximas gerações é motivo de alegria para esta gestão”.

Para o professor Ivo Mottin Demiate, vice-reitor da UEPG, que encaminhou o processo ao Compac em dezembro de 2023, o tombamento é um reconhecimento da importância simbólica da instituição, no passado, presente e futuro. “A UEPG tem uma história muito vinculada à história da nossa cidade”, diz. “É uma história muito bem-sucedida, transformando muitas gerações. O tombamento vai manter essa imagem de uma instituição sólida, consolidada, antiga e, ao mesmo tempo, moderna, que disponibiliza para a sociedade pessoas com alta capacitação nas mais diversas áreas”.

O representante da UEPG no Compac, professor Renato van Wilpe Bach, enfatizou a relevância do espaço e das ações desenvolvidas pela Universidade para o desenvolvimento da cultura e história locais. “O prédio A do Campus Central é de relevância histórica por vários motivos”, destacou. O primeiro destes, segundo o professor, é a arquitetura modernista, “que, acompanhada da Praça Santos Andrade, domina o ambiente e seu entorno, inserindo-se perfeitamente na paisagem urbana”. Além disso, ele ressaltou a função do imóvel de abrigar a UEPG, entidade que formou dezenas de milhares de profissionais ao longo de mais de cinco décadas e impactou a cultura e ciência locais. “Nosso relatório entendeu que o tombamento deste conjunto arquitetônico obedece aos fundamentos jurídicos das leis que protegem o patrimônio cultural em todos os seus quesitos, quais sejam, ‘a supremacia do interesse público, a função social da propriedade e o plano nacional da cultura’”.

Na Diretoria de Planejamento Físico da Proplan-UEPG, o trabalho normalmente é voltado para adequar espaços existentes e propor a construção de novos espaços, condizentes com as necessidades da comunidade interna e externa. “Mas quando podemos agir de forma a garantir a continuidade da história de um prédio, como foi o caso recente do restauro do Museu Campos Gerais e do tombamento do Cine-Teatro Pax (cujos projetos de restauro estão em elaboração, assim como os do prédio da Proex), isso nos permite sermos exemplos para toda a comunidade, especialmente para nossos alunos”, celebra o diretor e professor Guilherme Araújo Vuitik. “Nesses momentos, ultrapassamos a sala de aula, ensinamos pelo exemplo da nossa prática profissional e institucional”.

Sobre o prédio

Um imponente prédio com características modernistas, o antigo Edifício das Faculdades foi construído nos anos 1960. Seus três andares abrigam salas de aula e espaços administrativos, bem como o Grande Auditório (Auditório da Reitoria) e o Pequeno Auditório. Ali, no Bloco A, estão os setores de Ciências Humanas, Letras e Artes (Secihla), Ciências Jurídicas (Secijur) e Ciências Sociais Aplicadas (Secisa) e acontecem atividades acadêmicas dos cursos de Serviço Social, Administração, Comércio Exterior, Direito, Turismo e Pedagogia, além de aulas de programas de pós-graduação.

O prédio foi projetado, ainda nos anos 1950, para receber o Colégio de Aplicação de Ponta Grossa – que realmente funcionou em parte do edifício, junto com a Universidade, até 1976. O terreno foi transferido pela Prefeitura Municipal de Ponta Grossa ao Estado do Paraná em 02 de setembro de 1959, de acordo com o registro do imóvel, e a construção do prédio iniciou em 27 de maio de 1960. O Campus foi implantado no início de 1970, com a criação da UEPG.

Com estrutura em alvenaria e concreto armado, o prédio possui varanda e telhados com múltiplas águas, escondidos por uma platibanda. Uma escadaria e quatro pilares retangulares revestidos em mármore natural ladeiam a entrada principal do prédio. “O mármore natural é original da construção do edifício e possui marcas de desgaste do tempo, marcas ocasionadas principalmente pela ação das intempéries, as quais iniciaram um processo de erosão em alguns locais”, explica o documento em que a Proplan solicita o tombamento. Na parte interna do Bloco A, também há mármore em algumas paredes, em sua forma natural, e os famosos pisos de mármore polido que formam um padrão xadrez em preto em branco.

Acima da entrada, uma varanda com revestimento em tom terroso mostra uma vista privilegiada da cidade. O acesso, hoje, é pelo Setor de Ciências Jurídicas (Secijur), mas o espaço abrigava originalmente a Reitoria, antes da mudança para o Campus Uvaranas.

A fachada é marcada pelo ritmo das janelas e pela simetria dos acessos e elementos arquitetônicos. O estilo arquitetônico modernista fica claro nas características da fachada, com a racionalidade, funcionalidade e simplicidade das linhas. Nos dois acessos laterais, estão indicados os caminhos dos corredores das salas de aula. Atrás do prédio, na parte central do Campus, há um pátio que serve como espaço de convivência e descanso, além de fornecer saídas de emergência, insolação e ventilação para os edifícios. O pátio também dá acesso aos Blocos B, C e D, construídos posteriormente, na década de 1970.

Praça

A Praça Santos Andrade, em frente ao edifício histórico, também faz parte do processo de tombamento. Espaço de convivência e descanso da comunidade acadêmica, a Praça que já foi estacionamento ainda reúne centenas de pessoas em todos os concursos vestibulares da Universidade e que traz charme à composição com a fachada.

Fazendo frente com a Avenida Bonifácio Vilela, a Praça abriga um jardim de espécies arbóreas, inclusive araucárias, com caminhos de piso em concreto bruto, demarcando formas orgânicas e livres, e espaços de convivência. O tombamento nesse espaço se refere à paisagem, com relação apenas a seu formato e não à vegetação presente.

Memória

Aquele espaço significa muito, para muitas pessoas. Para alguns, a imponente fachada remete a um sonho. Para outros, é a realização pessoal. Para o Gary José Chagas, é sua vida. Ele chegou à UEPG em 1975, apenas cinco anos depois de sua criação como Universidade – o edifício ainda era novo. Nos anos 1980, ocupou as carteiras do curso de Direito, como aluno. Foi chefe de Gabinete da Reitoria por oito anos, e trabalhou por ali ao longo de 45 anos.

“A gente tem um amor por aquilo lá, né? A minha vida inteira foi lá, vivia de manhã, de tarde, de noite”, conta. O sentimento, quando o servidor mais antigo da Universidade volta ao prédio do Centro, é de carinho. “Eu vivi a universidade em tempo integral. Minha vida está lá”.

Agora, essa memória segue com a garantia de preservação para as futuras gerações. “O prédio do Campus Central tem uma referência social e também é referência, no sentido literal da palavra, porque as pessoas se baseiam, dentro dessa enormidade de elementos da arquitetura da cidade, através dele”, aponta o presidente da Fundação Municipal de Cultura e do Compac, Alberto Portugal. “Quando a gente faz um processo de tombamento, estamos garantindo de forma perpétua que o poder público fiscalize aquilo, para que a história da cidade seja preservada e essa referência também fique, na sua integridade, para a próximas gerações”.

Texto: Aline Jasper | Fotos: Aline Jasper, Arquivo UEPG, Acervo Museu Campos Gerais, Acervo Foto Elite


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